Teenage Fanclub refina as influências do Rock americano sessentista em ‘Howdy!’


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Os leitores das resenhas da Prazeres Plásticos devem saber, a essa altura do campeonato, que tenho verdadeira adoração por algumas bandas, e o Teenage Fanclub é uma delas. O Teenage Fanclub é de Bellshill, na Escócia. A banda foi formada na segunda metade dos anos 80, mas seu primeiro registro é o esporrento e barulhento A Catholic Education, de 1990.

Alan McGee, o doidão dono do selo Creation Records (que descobriu The Jesus And Mary Chain, Primal Scream, My Bloody Valentine, Oasis e outras) contratou os caras, que lançaram apressadamente The King (1991), uma coletânea de músicas que a banda já tinha pronta, mas que até então não tinham sido aproveitadas. No mesmo ano, porém, a banda lançaria a obra-prima Bandwagonesque, o álbum que a revista Spin colocou no topo da lista de melhores do ano, à frente de Nevermind, mas isso é história para outra hora.

Até Thirteen (1993), o Teenage Fanclub ainda soava ruidoso, ainda que entregasse cada vez mais porções de harmonias vocais e melodias açucaradas. Já em Grand Prix (1995), a banda absorve toda uma proposta Power -Pop de bandas como Raspberries, Badfinger e Big Star e entrega um grande trabalho, mais uma obra-prima. O ponto de virada é com Songs From Northern Britain (1997), com a banda finalmente assumindo as porções sessentistas e a maturidade musical.

Howdy!, álbum de 2000, é o último da banda com a distribuição de um grande selo – a Creation Records, que era uma subsidiária da Sony nesse período, havia falido, muito por conta da má administração de McGee.

O álbum vai na contramão do Rock – ou o Indie-Rock – apontava. Enquanto o Rock de guitarras em evidência parecia reencarnar com os Strokes; minimalista como o White Stripes; ou ainda dançante como o Franz Ferdinand, o Teenage Fanclub, naquela virada de século, seguiu na direção contrária. Ou melhor, se essas bandas promoviam um revival de algo já vivido nos anos 70-80, Norman Blake e cia. resolveram, de vez, refinar as influências do Rock americano sessentista, especialmente o vindo de Laurel Canyon, na Califórnia.

Howdy! é um álbum perfeito. O primeiro single, “I Need Direction”, de Gerard Love, evoca The Hollies (banda inglesa, que contava com Graham Nash na formação, o mesmo Nash que foi para os EUA se unir a Crosby, Stills e Young, formando uma das bandas mais icônicas do rock californiano dos anos 60), mas é inevitável falar que as harmonias vocais remetem também aos Beach Boys. A música é absolutamente solar, mas a letra fala, metaforicamente, do afastamento de um amor, e das tentativas frustradas de se manter nele.

Que é o que parece acontecer em “I Can’t Find My Way Home”, de Raymond McGinley. O interlocutor não se encontra, ainda que saiba onde errou. “Accidental Life”, de Norman Blake, torna tudo ainda mais agridoce com uma canção que remete demais aos Byrds, e com uma letra bastante melancólica.

Esse trio inicial de canções indicam a temática e a sonoridade do que encontramos em Howdy!: letras melancólicas, por vezes depressivas, mas encapsuladas em melodias aquecidas por um sol que nunca se apaga. Não seria contra senso dizer que, neste álbum, o Teenage Fanclub bate e assopra ao mesmo tempo.

Algumas surpresas engrandecem a audição, como a inclusão de trompas e clarinetes em “Near You”, e a adição do tecladista Finlay MacDonald por todo o álbum. MacDonald é amigo da banda (se conhecem desde os tempos da banda prévia de McGinley e Blake, o BMX Bandits), e sua adição preencheu todos os espaços das canções, incluindo uma camada confortável de harmonia, e isso pode ser comprovado com veemência em “Straight And Narrow” e “My Uptight Life”.

+++ Leia o que já foi publicado relacionado ao Teenage Fanclub no Urge!

Howdy! é um álbum que trata sobre rompimentos e, de certa forma, é possível compreender como essa temática acompanha a evolução sonora da banda, e as complexidades das relações humanas com a maturidade e o passar dos anos. Se no álbum anterior a banda pareceu chegar na idade adulta, aqui mostra as latentes dificuldades que a idade nos traz, principalmente nas relações humanas.

Por fim, eu poderia fazer uma resenha inteira apenas sobre “Dumb, Dumb, Dumb”, uma das melhores e mais bonitas canções da carreira da banda, cujos versos abaixo levam, literalmente, esse escriba à lona.

“…Take me back to what I know
‘Cause I don’t know where to go
And I’m finding it so hard to stay in tune
But it’s hard to comprehend
Getting closer to the end
And I hope that I’ll be feeling better soon
Now I’m just a fading light
But I want to feel alright
And I hope that you can help me through the days
And I find it hard to sleep
‘Cause I sold myself so cheap
Do you think about me when I go away?”

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2000
GRAVADORA: Columbia Records
FAIXAS: 12
DURAÇÃO: 48:09 min
PRODUTOR:Teenage Fanclub
DESTAQUES: “Dumb, Dumb, Dumb”, “I Need Direction”, “Straight And Narrow”, “If I Never See You Again”
PARA FÃS DE: Power-Pop, Badfinger, The Hollies, Big Star, The Byrds, Beach Boys

 

 

 

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