Como se atesta a passagem para a vida adulta?
Geralmente fazemos isso através de aferição da idade! O que não significa absolutamente nada, pois todos conhecemos alguém bastante responsável aos 15 anos e alguém altamente irresponsável aos 60!.
Em 1991, os escoceses do Teenage Fanclub apareceram para a grande mídia com seu terceiro álbum, Bandwagonesque, obra prima que, segundo a revista americana SPIN, foi o grande álbum daquele ano (curiosamente deixando o icônico Nevermind, do Nirvana, com a medalha de prata). A banda tinha seu trio de compositores, Norman Blake, Gerard Love e Raymond McGinley então, respectivamente, com 26, 24 e 27 anos de idade, e produziam um som melodioso e carregado de harmonias, mas com forte influência do Rock Alternativo americano, ou seja, cheio de distorção, feedbacks e dissonância.
Em 1997, depois de mais dois ótimos álbuns, os então trintões mudaram a direção.
Songs From Northern Britain – as ‘Canções do Norte da Grã-Bretanha’ – soa como um rito de passagem. A identidade criada outrora ainda está aqui. A idiossincrática harmonia vocal e a magnífica capacidade de criar grudes ‘indescoláveis’ está mantida, mas a sonoridade aponta para mares mais calmos, e as fotografias indicam outros lugares.
Sai a distorção do Rock Alternativo americano dos anos 90, vêm a influência do Rock de L.A. safra anos 60. Ecos de Beach Boys, The Byrds, Crosby-Stills-Nash-Young, canções com ares quase rurais e bucólicos. As letras remetem a uma “volta pra casa”, e dialogam com o título do álbum.
O Teenage Fanclub cresceu e tornou-se adulto.
Aos 32, 30 e 33 anos, Blake, Love e McGinley deixam a juventude inconsequente de lado e parecem serenos em seu ‘retorno para casa’.
Arrependimentos, dissabores, angústias. Amores, cores, alegria nas pequenas coisas.
As temáticas abordadas pela banda seguem, de certa forma, as mesmas de sempre. Mas seus três geniais compositores evoluíram consideravelmente em qualidade, e entregam versos tristes encapsulados em melodias ensolaradas: “Eu mudaria algumas coisas, mas agora é tarde. Mesmo sendo complicado, ainda há tempo de começarmos tudo de novo!” (Start Again).
Quando não, a proposta é oposta, uma melodia bucólica beirando ao rural, com versos de enfrentamento da vida adulta, como em “Planets”, que narra sobre pessoas certamente adultas, em busca de um lugar melhor pra se viver.
O escritor Nick Hornby, cultuado autor de Alta Fidelidade (1997), escreveu um livro chamado 31 Canções (2002), em que apresenta uma playlist das músicas mais importantes para ele. Dentre elas, está a lindíssima e ultra romântica canção de McGinley “Your Love Is The Place Where I Come From”, contida neste álbum!
Outra letra lindíssima, sobre amor e fidelidade, é “I Don’t Want Control Of You”, em que Blake diz “…não quero que esse amor continue o mesmo, mas que cresça a cada ano..”.
Sonoramente, ainda que soe como os ‘Fannies’ de sempre – “Mount Everest” caberia facilmente em Grand Prix, e “Speed Of Light”, apesar de soar muito como Buffalo Springfield, caberia fácil em Thirteen –, novos elementos são incorporados. Teclados são uma realidade no álbum. Sintetizadores moog abrilhantam “Planets” e “Take The Long Way Round”.
+++ Leia a crítica de ‘Endless Arcade’, do Teenage Fanclub
O Teenage Fanclub sabia que tinha feito uma obra prima em Grand Prix, por isso repetiram a produção com David Bianco.
Além de todas citadas, destaques também para a otimista “Ain’t That Enough” e para a ensolarada (!) “Winter”. DISCAÇO!
Ano | Selo: 1997 | Creation Records
Faixas | Duração: 12 | 43:23
Produtor: David Bianco e Teenage Fanclub
Destaques: “Ain’t That Enough”, “I Don’t Want Control Of You”, “Winter”, “Your Love Is The Place Where I Come From”
Pode agradar fãs de: Power-Pop, Eugenius, Big Star, The Byrds, Beach Boys,
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