Lançado em 2000, De Stijl é o segundo álbum do White Stripes, duo de Detroit formado por Meg e Jack White.
O intervalo de um ano entre ele e The White Stripes (1999) traz diferenças, mesmo para um som tão rudimentar quanto o que o White Stripes empregava aqui. Há um enorme salto de qualidade sonora. Isso se deve ao empenho, principalmente de Jack White.
Na época, ele também era guitarrista na banda de Garage Rock psicodélico The Go, que gravou em 1999 o álbum Whatcha Doin’, produzido por um cara chamado Matthew Smith, vocal e guitarra do Outrageous Cherry, outra ótima banda obscura de Detroit.
John Krautner, também guitarrista do The Go, disse que foi nesse período que Jack White aprimorou sua técnica – muito na intenção de preencher a ausência de contrabaixo no primeiro álbum do White Stripes. Jack, no entanto, só conseguiu esse preenchimento através de uma produção mais polida em 2003, quando lançaram o aclamado Elephant, mas isso é papo para outro momento.
Outro cara da cena de Detroit do final dos 90, Benjamin Hernandez (diretor do filme Detroit Rock Movie, de 1999), já afirmou em entrevistas que Jack é tão determinado e focado nos seus objetivos, que estudou sistematicamente cada detalhe sonoro ou estético, enquanto a galera das demais bandas preferiam beber na sexta à noite.
Essa informação é exposta já no título do álbum. De Stijl foi um movimento artístico holandês, criado por artistas plásticos, arquitetos e pintores que usava formas geométricas abstratas nas representações artísticas e arquitetônicas. Resumidamente, é quase como uma complementação a outro movimento artístico da mesma época, a Bauhaus. Jack White usou dessa estética na padronização do álbum.
A separação matrimonial com Meg White, antes das gravações, tornou-se secundária diante das muitas informações sonoras e estéticas, e do som rudimentar, porém cativante. Era, de fato, o primeiro passo ao mainstream.
Reparem: todo álbum do White Stripes segue uma “fórmula”. As músicas mais empolgantes e relevantes estão sempre no início.
Isso é proposital. Jack é controlador e pensa em cada detalhe.
O álbum é pensado para o acetato e, por ser um “revisionismo moderno” do Blues, a estética do “lado A/ lado B” importa. O White Stripes sempre entrega o que tem de melhor até a 5º ou 6º canção, e aqui não é diferente.
“You’re Pretty Good Looking (For a Girl)”, “Hello Operator”, “Little Bird”, “Apple Blossom”, e a linda balada “I’m Bound To Pick It Up” (puro Led Zeppelin III) são gemas que entregam tudo o que o disco tem de melhor. E sem descartar o restante: ”Death Letter”, “Sister, Do You Know My Name?”, e a ‘morriconeana’ “Truth Doesn’t Make a Noise” (com piano de Jack White), apesar de não serem os mais altos pontos, são magníficas.
A partir daí a fórmula se repete e, com o jogo ganho, não tem erro! Por exemplo, “Why Can’t You Be Nicer to Me?” parece com algo lá do início (“Hello Operator”), enquanto “Let’s Build a Home” é praticamente irmã de “Jumble, Jumble”, rápidas, ruidosas e rasteiras.
Esteticamente, Jack e Meg consolidam as cores, as formas geométricas importadas da De Stijl e reforçam o misticismo em torno do duo.
Liricamente, as músicas são menos raivosas que a estreia, e mais palatáveis, até Pop. Musicalmente ainda soavam rudimentares, primitivos, mas com Jack explorando mais efeitos, mais falsetes, mais instrumentos (há músicos adicionais para violinos e gaitas, além dos pianos de Jack White).
+++ Na coluna PRAZERES PLÁSTICOS, leia sobre ’13 Songs’, do Fugazi
Era, já, um escancarar de portas de uma banda diferente, de um artista diferente que, o tempo diria, tomaria o título de principal banda do Rock do século XXI, até aqui.
Você pode não gostar, mas Jack White é autor de um dos riffs mais manjados da história recente do Rock, e não se ignora quem faz isso.
INFORMAÇÕES:
LANÇAMENTO: 20 de junho de 2000
GRAVADORA: Sympathy for the Record/V2 Records
FAIXAS: 13
TEMPO: 37:37 minutos
PRODUTOR: Jack White
DESTAQUES: “You’re Pretty Good Looking (For a Girl)”, “Hello Operator”, “Little Bird”, “Apple Blossom” e “I’m Bound To Pick It Up”
PARA QUEM CURTE: Blues Rock, Rock de Garagem, The Black Keys, The Dead Weather
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