Convém lembrar de ‘Speak No Evil’ ao fazer novos amigos


Speak No Evil, 2022

Speak no Evil é uma produção dinamarquesa de 2022 do gênero thriller/terror psicológico dirigida por Christian Tafdrup, que também é ator, e aqui responsável pelo roteiro, em parceria com seu irmão Mads Tafdrup.

O filme estreou em janeiro, na trigésima oitava edição do Sundance Film Festival e ganhou o prêmio de “Best Director Choice”, no Bucheon International Fantastic Film Festival. Além de várias indicações, ganhou também o prêmio de Melhor Longa Europeu de 2022 no Motelx – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa: “pela sublime forma como gere a tensão e toca nas feridas da hipocrisia das relações sociais”.

A sinopse

Uma família dinamarquesa – Louise (mãe), Bjørn (pai) e Agnes (filha) -, em viagem de férias à região da Toscana, na Itália, devido a algumas coincidências, conhece e trava um contato mais próximo com uma simpática família holandesa – Karin (a mãe), Patrick (o pai) e Abel (o filho). Após retornarem para casa, os dinamarqueses são surpreendidos por um convite dos holandeses para um final de semana em sua residência no interior da Holanda. Apesar do receio inicial da esposa, a empolgação do marido acaba convencendo a aceitarem o convite.

Funciona?

O filme funciona bem nos dois primeiros atos, seja na construção da relação dos casais, ainda na Itália, seja a partir do momento em que passam a conviver mais de perto, na Holanda – num trabalho de interpretação bastante convincente de todo o elenco.

É a partir daí que Speak No Evil fisga a atenção e mantém a tensão no espectador, com a construção de um clima de suspense, incômodo, e constante dúvida. Uma espiral ascendente de acontecimentos que prenunciam algo a acontecer.

Essa atmosfera é construída cuidadosa e com extrema competência pela direção de Tafdrup. Ela é ajudada pela trilha sonora de clima assustador, pelo uso do silêncio e distanciamento dos personagens em alguns momentos, e pela forma como a câmera, em momentos pontuais, foca nas expressões.

Esses elementos são apresentados desde os primeiros minutos, preparando e ao mesmo tempo buscando ambientar o espectador na atmosfera de pesadelo que se seguirá, tornando-se cada vez mais sufocante.

SPOILERS

Não funciona tão bem, mas não compromete!

O posicionamento de extrema passividade, beirando o insuportável para o espectador, pode parecer totalmente inverossímil, absurdo. Mas, considerando que a cordialidade sufocante que o casal dinamarquês mantém com seus anfitriões na maior parte do filme, mesmo nos momentos mais abusivos por parte destes, não chega a ser de todo destoante o terceiro ato em relação aos outros dois. Não significa que seja aceitável, e pode desagradar a muitos, já que a espera é sempre por uma reviravolta e um final positivo.

A maneira como Louise (mãe), Bjørn se encaminham de forma passiva para o seu destino final é como uma declaração de que não possuem forças para reagir ao que está acontecendo, quase uma admissão de que merecem estarem naquela condição. Mas fica aquela interrogação quanto a finalidade das atitudes do casal holandês. Num primeiro momento pode-se pensar em tráfico de crianças, mas é um ciclo que se repete. Logo, deixando em aberto para suposição de algo doentio, uma psicopatia. Já a maneira utilizada pelos algozes surge com elementos simbólicos já que a morte por apedrejamento é algo utilizado em muitas culturas como forma de punição.

 

Resenha de Speak No Evil, 2022

Concluindo…

Speak No Evil é um bom filme. Tem um roteiro que mantém o espectador preso até os últimos minutos, e um final dos mais pessimistas e assustadores vistos em um filme recente – a ligação foi com o também final pessimista de Eden Lake (2008).

Muitos ficarão paralisados ante a violência e a passividade exacerbada dos protagonistas. E pensarão duas vezes antes de aceitar um convite de pessoas que se julga conhecer, mas na verdade não se conhece.

Se eu fosse dar uma nota seria… 8,5


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