GIFT e o embalo hipnótico de ‘Momentary Presence’; Ouça


Gift, Momentary Presence
Foto | Jena Cumbo

Cria de Oliver Ackerman, o cara por trás do barulhento A Place To Bury Strangers e da fabricante de pedais Death by Audio, o selo Dedstrange aos poucos vai aumentando o seu cast de bandas e, consequentemente, de lançamentos. Dos mais recentes e igualmente interessantes é esse Momentary Presence, trabalho de estreia do GIFT, quinteto novaiorquino capitaneado pelo vocalista TJ Freda.

Entre vocais ecoantes mixados de forma a dar a ideia de distância – e também criar um clima onírico, típico em bandas oitentistas que emulavam os 60 -, camadas de synths profundos (ou hipnotizantes) e riffs de guitarra mergulhados em distorção Fuzz, efeitos Trêmolo ou timbres mais melódicos, o grupo apresenta um trabalho em que é possível encontrar similaridades com nomes que vão de Spiritualized (quando faziam Space-Rock) a Ride, passando pelos obscuros Spirea-X, com aquela apimentada psicodélica dando as caras da primeira à última faixa.

Essa proposta surge de forma cristalina no empolgante single “Gumball Garden”, que Freda conta ter surgido a partir de um sonho que teve em 2019, em que todas as pessoas haviam desaparecido: “Onde você foi? / Onde estão todas as pessoas que eu conheço? / Onde estão todas as pessoas que uma vez eu amei? / Eu costumava vê-los ir e vir / Agora eu apenas sento aqui sozinho”; e também na ótima semi-acústica“Lost for You”.

Com apenas dez canções, as conexões não se restringem aos anos 60/80. Para além do Space-Rock, Dreampop e da Psicodelia, o grupo retoma a batida motorik do Krautrock na aceleração eufórica de “Dune” e na repetição hipnótica da longa “Feather”, coberta por camadas espessas de sintetizadores gélidos e retrôs. E é o uso mais generoso dos teclados que dão o toque de “diferente” na música do grupo em comparação com as bandas citadas, que se não torna a sonoridade original, é mais um detalhe a na busca de outros ares ou de mais combustível na indução pretendida.

+++ Leia sobre o álbum ‘Ambar’, da banda Cyanish

O álbum, segundo a banda, é um convite ao “estar aqui agora”, tomando como base as ideias do escritor Ram Dass, autor do livro Be Here Now (1971), que trata questões centrais da filosofia oriental, como a espiritualidade, a ioga e a meditação. É essa conexão com o momento, com o estar só consigo, mas não sozinho, que Momentary Presence propõe em seus pouco mais de quarenta minutos, evidenciando mais enfaticamente no fechamento com a longa e etérea “Here and Now (Time Floats By)”, com uma linha de baixo que se desacelerada remete a “Taxman”, dos Beatles.



Previous Em FOREVERANDEVERNOMORE, o mago Brian Eno orquestra a trilha sonora do fim do mundo
Next Convém lembrar de ‘Speak No Evil’ ao fazer novos amigos

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *