Guitarras etéreas e Soul-Music se entrelaçam harmoniosamente em ‘Illuminated 1989’, álbum “perdido” da pioneira banda The Veldt
Produzido pelo então guitarrista do Cocteau Twins, Robin Guthrie, Illuminated 1989 deveria ser o primeiro álbum solo da pioneira banda de Shoegaze/Dreampop/Rock Alternativo/Soul de Raleigh/Chappel Hill (Carolina do Norte), o The Veldt, capitaneada pelos irmãos Daniel Chavis (voz e guitarra) e Danny Chavis (guitarra) – dois jovens cuja formação musical teve início na igreja (de onde foram expulsos) e cuja descoberta da música de Hendrix os fez “explodir”.
O álbum foi recusado pela sua gravadora, a Capitol Records, que arquivou a gravação e os enviou de volta ao estúdio com Lincoln Fong, baixista da banda Moose, como produtor, para que fizessem novas gravações para o seu primeiro álbum, que só sairia em 1992 sob o título de Marigolds.
Illuminated 1989 ficou engavetado por esses mais de 30 anos e somente agora viu a luz do dia e ganhou remasterização pelas mãos do próprio Guthrie. E a pergunta que se deve fazer é: por que o álbum foi engavetado? A canções são consistentes e o álbum tem qualidades. Musicalmente, o The Veldt mostra influências evidentes do próprio Cocteau Twins nas guitarras etéreas e ambientações Dreampop, mas vão além disso ao adicionarem um acento Soul às canções, influência de artistas como Prince, Marvin Gaye e Otis Redding, e também pelo timbre de Daniel.
Esteticamente, a música do The Veldt se conecta com outro grupo pioneiro na fusão de estilos aparentemente inconciliáveis e formado por negros, os também pioneiros Ar Kane.
O que a gravadora esperava, na verdade, era uma banda ao estilo do Living Colour, que na época fazia certo sucesso. Para os executivos, os irmãos eram considerados “difíceis de trabalhar”.
A carreira do The Veldt é marcada por acontecimentos que beiram o surreal, a rejeição a Illuminated 1989 é apenas um dentre tantos outros episódios de racismo/preconceito mascarado.
+++ Ouça ‘Moon Is’, do Heavy Blanket, projeto Stoner Rock de J Mascis (Dinosaur Jr)
Trazendo treze faixas em sua versão digital, que inclui duas bônus – sendo uma remix – Illuminated 1989 apresenta um trabalho em que a fusão é a palavra que melhor o descreve, e com momentos sublimes do mais puro Dreampop com um molho diferente – Soulgaze alguns podem dizer – como na hipnótica “Aurora Borealis” (com uma participação quase inaudível de Liz Fraser), nas batidas pesadas de “Shallow by Shallow”, nos delírios sonoros de “Its Over”, “Daisy Chain” e “Heather”.
No embalo cadenciado de “Angel Heart” e no vórtice onírico de “The Everlasting Gobstopper”, um dos singles do álbum, a dupla leva as influências do Cocteau Twins às últimas consequências. Enquanto “Git Up” pode ser considerado um momento outsider, quando abandonam a suavidade etérea em prol de guitarras cheias de groove e uma cozinha poderosa que os aproxima musicalmente do Living Colour.
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