Robin Guthrie está de volta e a todo vapor


Foto de Robin Guthrie em estúdio

O guitarrista e produtor escocês Robin Guthrie é um dos nomes mais requisitados por artistas tanto do gênero Shoegaze quanto Dreampop, que musicalmente podem ser considerados irmãos. Enquanto guitarrista da banda oitentista Cocteau Twins, Guthrie praticamente definiu a sonoridade característica das guitarras no Dreampop, com o uso de texturas melódicas etéreas adornadas por efeitos de pedais como reverb, chorus, delay e distorção, priorizando a criatividade e sensibilidade em dedilhados sutis.

Em carreira solo ou em projetos com outros músicos, ele construiu uma discografia respeitosa, que inclui o projeto Violet Indiana, com a vocalista Siobhan de Mare (da banda Mono), o álbum Universal Road, com o guitarrista e vocalista Mark Gardener (do Ride); e mais as trilhas sonoras de filmes (Mistérios na Carne, 3:19, Pássaro Branco na Nevasca), colaborações com Harold Budd – falecido em 2020 – e John Foxx. Fora isso, muitas são as produções ou participações em trabalhos de outros artistas. Recentemente ele tocou e produziu The Quiet Fire, novo álbum do duo Heligoland, além de remix de canções da banda Resplandor, que ele também mixou o novo álbum, Tristeza, a ser lançado em 2022.

Longe dos trabalhos solo desde 2012, quando lançou Fortune, seu quinto álbum (os outros são Imperial, Continental, Carousel e Emeralds), a morte de Budd, no ano passado, acabou afetando o guitarrista, que prestes a completar 60 anos (dia 04 de janeiro), resolveu agraciar os fãs em 2021 com um álbum e dois EP’s de inéditas.

Não só isso, em sua página no Bandcamp ele tem postado algumas “canções perdidas” e inéditas, que ficam disponíveis para audição apenas por uma semana. Recentemente ele anunciou mais um EP em suas redes sociais: “I’m thinking that my 60th birthday is as good a time as any to release my new EP called SPRINGTIME”.

O músico sempre foi prolífico, mas essa recente miríade de lançamentos tem uma explicação: “Quando Harold morreu. Isso me fez pensar, ‘Puta que pariu, vou fazer 60 em breve e tenho todas essas músicas que ainda não lancei. Eu provavelmente deveria continuar com isso. ‘ Então, no início deste ano, reconstruí completamente meu estúdio. Eu me livrei da minha mesa de mixagem, mudei muito o motor de popa, mudei as guitarras que estava trabalhando, alguns softwares. Eu praticamente mudei cada coisa em meu caminho de sinal, mas ainda soa como eu! ”, declarou o guitarrista em entrevista à Guitar World.

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Dono de um estilo de tocar único, onde a sensibilidade é o elemento motor para suas construções musicais, Guthrie se considera mais um arquiteto de sons do que um guitarrista no sentido clássico da palavra: “Minha técnica para tocar o instrumento é muito, muito suave e muito, muito suave. E para mim, todos que tentam – não sei se devo dizer soar como eu – mas muitas pessoas que tentam tocar música com muitos efeitos – eles realmente exageram na parte de tocar. Não estou tocando violão: estou tocando o som, estou tocando os pedais, estou tocando o reverb. Meu toque é baseado no que estou ouvindo”.

Ainda que seus trabalhos em solo e até mesmo as parcerias guardem entre si muita semelhança no sentido de vibração musical, principalmente por ser quase todo instrumental, esse é o sentimento que Guthrie deseja passar e envolver seus ouvintes, um ambiente de placidez e sensações oníricas, de sutilezas embriagantes, capazes de transportar para paisagens reconfortantes. Ainda que a melancolia seja um sentimento subjacente em boa parte disso tudo, há uma beleza indescritível que preenche todas as canções.


OUÇA O ÁLBUM ‘PEARLDIVING’, DE ROBIN GUTHRIE:

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