Prequela, ‘Pearl’ é um filme que vale como estudo de personagem


Mia Goth em Pearl

Nascido de um simples exercício de escrita entre o diretor Ti West e a atriz Mia Goth, essa prequela de X – A Marca da Morte (2022), mergulha ainda mais no absurdismo, abrindo mão de um enredo tão estritamente estruturado em favor de uma estética impecável que remonta aos anos de ouro de Hollywood.

Novamente estrelada por Mia Goth, a segunda parte da trilogia se passa 60 anos antes dos acontecimentos de X – A Marca da Morte, e conta a origem de Pearl, a idosa que antagoniza o primeiro filme, também interpretada por Goth sob um trabalho de maquiagem inacreditável. Aqui, interpretando a versão jovem da personagem-título, a atriz de 28 anos abraça toda loucura do diretor e vai ao extremo em sua expressividade, referenciando as grandes estrelas do cinema mudo.

De fato, referências não faltam em ambos filmes, porém, enquanto X – A Marca da Morte misturava O Massacre da Serra Elétrica (1974) e Boogie Nights (1994), Pearl emula inspirações inusitadas como as clássicas animações da Disney (Branca de Neve e Cinderella).

O que salta aos olhos são as referências quase irritantes em O Mágico de Oz (1939) e Carrie, a Estranha (1976), baseando a dinâmica familiar e o comportamento dos personagens no segundo, enquanto basicamente copia a estética visual do primeiro.

Importante salientar que essas referências não devem ser vistas de forma negativa, mas sim com admiração, devido a maneira como o trabalho de fotografia, sonoplastia e edição acrescentam a história naturalmente simples, tornando o filme muito agradável visualmente além de diferente do que é normalmente produzido em Hollywood hoje em dia.

O desejo por grandeza é o tema principal de Pearl, principalmente as consequências da frustração que se seguem ante a dura realidade. O roteiro não encara o “American Dream” como algo a ser almejado, algo que gere motivação e vontade de se superar, mas sim como uma maldição inerente à todos nós, e a todos à nossa volta.

+++ Leia a crítica do filme ‘Midsommar, O Mal Não Espera a Noite ‘

Em síntese, Pearl não é uma prequela realmente necessária, nem acrescenta muito à história de X, mas é um bem-vindo estudo de personagem simultaneamente profundo, engraçado e criativo, fruto da visão plenamente concretizada de um diretor que tem confiança em seu material e coragem suficiente para trazê-lo à vida.


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