Estreia do Smashing Pumpkins, ‘Gish’ mostra coesão e profundidade


Smashing-Pumpkins-Gish-Era

Entre dezembro de 1990 e novembro de 1991, a Música Pop passava por sua mais significante mutação recente. Neste período, o Smashing Pumpkins (Gish), o Nirvana (Nevermind) e o Teenage Fanclub (Bandwagonesque) gravaram e lançaram álbuns que moldaram uma estética sonora para a década de 90. Claro que estou sintetizando o período, outras bandas lançaram álbuns importantes no mesmo período. Excluí Loveless, do My Bloody Valentine, dessa síntese apenas por ter começado sua produção ainda em 1989!.

Butch Vig esteve envolvido na produção de dois desses álbuns. E, muito provavelmente, Nevermind lhe deu dado fama e fortuna. Mas, meses antes de iniciar os trabalhos com a banda de Seattle de som primitivo, estava enfurnado num estúdio com o Smashing Pumpkins para produção grandiosa do que seria seu álbum de estreia: Gish.

Grandiloquente, pretensioso, artístico e, por que não, inovador, em Gish a banda de Chicago trouxe uma nova proposta de “Rock de arena” (ainda que com postura misantropa), talvez como um sinal de negação ao som primitivo que vinha de Seattle.

Gish funde riffs pesados, provavelmente inspirados em Jimmy Page, Tony Iommi e Brian May, mas também em guitarristas barulhentos e idiossincráticos, como Lee Ranaldo, Joey Santiago ou Neil Young. Tem peso, tem Shoegaze, alternâncias na dinâmica das músicas, jogando ao ouvinte desde os riffs mais ruidosos e destruidores à mais sublime calmaria onírica, Dreampop.

Desde a bateria inicial de Jimmy Chamberlain, em “I Am One”, até a metade da segunda canção, “Siva”, o Smashing Pumpkins te envolve em melodias, em camadas de feedback, guitarras em riffs graves que ressoam no tórax. E que, de repente, nos centrifuga para um lugar de calmaria absoluta por alguns instantes, apenas para um rápido respiro, antes do encerramento caótico da canção.

As duas canções que abrem Gish, com o perdão do trocadilho, são esmagadoras. Mas ainda estão longe do que a banda entregaria.

“Rhinoceros”, a terceira faixa, é do mesmo ambiente melancólico que Robert Smith frequentou (nos tempos sombrios e ébrios de Pornography), e é, na minha opinião, o momento mais sublime desse álbum. Já “Bury Me” tem tantas camadas de guitarras e feedbacks que uma única audição não é suficiente para absorvê-la, além da ambiguidade das letras sobre sexo e drogas. E toda essa tensão repousa na calmaria de “Crush”, uma música psicodélica, quase Zeppeliniana.

A segunda metade é a que mais dialoga com o Shoegaze. “Suffer” e “Snail” carregam o álbum em melancolia, enquanto e “Tristessa” remete às ensurdecedoras guitarras das primeiras faixas do disco.

“Window Pane” é uma música com interlúdios oníricos, amalgamados por muitas camadas de guitarras. Uma tonelada delas! “Daydream”, cantada pela baixista D’Arcy Wretzky, quase encerra o álbum, mas ainda há espaço para uma vinheta não creditada, conhecida como “I’m Going Crazy”.

Billy Corgan era, desde o início, megalomaníaco e centralizador. Assumiu a co-produção e, exceto pelas baterias, tocou todos instrumentos, deixando alguns poucos overdubs para James Iha e D’Arcy.

Butch Vig encerraria este trabalho com os Pumpkins para entrar em estúdio poucas semanas depois com o Nirvana. Nevermind simplesmente ofuscou Gish e quaisquer outros lançamentos daquele ano (quer dizer, a revista Spin valorizou o Teenage Fanclub!). Mas isso não tira o mérito do quão revolucionária e inovadora foi a proposta do Smashing Pumpkins. Poucas vezes na história vimos uma banda soar tão coesa e profunda já em seu álbum de estreia.

+++ Leia a resenha de ‘Shiny And Oh So Bright, Vol. 1 / LP: No Past. No Future. No Sun’,, do Smashing Pumpkins​ 

Lançado pela independente Caroline Records, Gish teve vendagens módicas. A banda voaria mais alto nos álbuns Siamese Dream (1993) e Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995). O sucesso dos álbuns seguintes resgataram as vendagens de Gish, que chegou a disco de ouro apenas em 1994, e a platina em 1999, além de uma reedição de luxo, com nova masterização feita em 2011.


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Ano | Selo: 1991 | Caroline Records
Faixas | Duração: 10 | 45:45
Produtor: Butch Vig, Billy Corgan
Destaques:“I Am One”, “Siva”, “Rhinoceros”
Pode agradar fãs de: Rock Alternativo, Nirvana, Silversun Pickups

 

 

 


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