Horror argentino, ‘Aterrorizados’ acaba sendo um filme surpreendente


Agustín Rittano em cena do filme Aterrorizados

O cinema argentino já nos brindou com uma diversidade de filmes e temáticas, são muitos os exemplos de boas ideias utilizadas em prol da sétima arte. Como exemplo mais “famoso”, O Segredo dos teus Olhos, com o ator argentino mais célebre, Ricardo Darín. Aterrorizados, do diretor Demián Rugna, segue pelo inusitado caminho do terror e, diga-se de antemão, consegue um resultado interessante.

Tudo tem início quando Clara (Natalia Señorales) relata ao seu incrédulo marido, Juan (Agustín Rittano), ter ouvido vozes na cozinha que afirmam que irão matá-la. Sem preocupação em mostrar a relação do casal ou aprofundar os acontecimentos, o filme já pula para a cena que será o centro do que tudo que virá a acontecer.

SPOILER

Juan acorda no meio da noite ouvindo barulho de pancadas na parede do seu quarto e vai até a casa vizinha reclamar com Walter (Demián Salomón), acreditando que o mesmo esteja fazendo reformas naquele horário inusitado. Falhando em seu intento, já que o vizinho não lhe atende nem mesmo pelo porteiro eletrônico, Juan retorna para casa. Lá ele percebe que na verdade as pancadas estão vindo de sua própria residência, deparando-se, no banheiro, com o corpo de sua esposa flutuando e chocando-se contra as paredes, provocando um banho de sangue.

Embora nem Juan e nem o espectador saibam até então, o acontecimento na casa nada mais é do que o desdobramento de eventos sobrenaturais que estão acontecendo na vizinhança, e que tiveram início na casa de Walter dias antes, e que até causaram o seu desaparecimento e a morte de uma garoto.

Na tentativa de desvendar os estranhos ocorridos, entram em cena Jano Mario (Norberto Gonzalo), que junto com o Comissário Funes (Maximiliano Ghione) tentam, de início, desvendar o assombroso retorno do garoto para casa, acabam “esbarrando” na vizinhança com a pesquisadora Mora Albreck (Elvira Onetto), que investiga o desaparecimento de Walter. Fecha-se assim o círculo que tentará desvendar os fenômenos estranhos acontecendo naquele bairro. Junta-se a eles o também pesquisador Dr. Rosentock (George L. Lewis).

Com uma narrativa não linear e dividindo-se em três momentos e com protagonistas diferentes – todos conectados pelos estranhos eventos -, “Aterrorizados” pega emprestadas ideias (como muitos outros) de filmes diversos do gênero, para apresentar seu horror com ênfase no sobrenatural.

É uma história de fantasmas no estilo “Poltergeist” com elementos de “Cemitério Maldito” e “Les Revenants”, e até mesmo “REC” e “Sobrenatural”. Seu ponto mais forte é a boa construção de cenas de tensão mais do que as de terror. E, apesar das referências bem evidentes e do orçamento limitado, o diretor consegue um filme com boas doses de suspense e tensão, já que o horror fica em um nível moderado. Mesmo assim, consegue ser mais convincente do que muitas produções hollywoodianas com orçamentos generosos e riqueza de efeitos especiais.

As boas ideias renderam o prêmio de Melhor Filme no Fantaspoá 2017 (Competição Ibero-Americana) e no Festival Montevideo Fantastico, além de indicação em diversos outros festivais. Somado a isso, o filme ganhará uma refilmagem em inglês, produzida por Guillermo del Toro.

“Aterrorizados” peca em alguns aspectos, um deles é optar em apenas narrar os acontecimentos sem buscar criar qualquer tipo de empatia entre os personagens e o espectador. Opção como esta foi usada por exemplo em “REC”, de Jaume Balagueró e Paco Plaza, mas aqui o resultado deixa a desejar, já que num universo de tantos personagens/protagonistas, nenhum deles acaba atraindo a simpatia do espectador. O outro diz respeito a falta de recursos, que embora não chegue a comprometer o filme, faz com que uma ou outra cena seja mais engraçada do que assustadora, como a da morte da esposa de Juan.

Há também, pequenas falhas no roteiro, que não chegam a ser gritantes, mas que a um olhar mais atento fica bem evidente. Um delas é a mistura entre o sobrenatural enquanto presença, mas sem manifestação física, e o sobrenatural com manifestação corpórea, o que acontece sem qualquer explicação.

Explicação, por sinal, é o que o filme menos faz questão de apresentar. É uma sucessão de acontecimentos sobrenaturais, interligados geograficamente, que acabam conectando os vários personagens em busca de respostas, mas que finaliza mantendo a interrogação no ar. Aberto, quiçá, para uma continuação.

+++ Leia a crítica de ‘Mártires’, de Pascal Laugier

Demián Rugna tem um currículo de vários curtas e dois longas, “Maldito Sean!” (2011) e “No Sabés con Quién Estás Hablando (2016). Além de dirigir, ele assina o roteiro. Sua direção em “Aterrorizados” é segura, sem exageros e também sem ousadias estilísticas ou abuso de jump-scares, isso contribui para que saia com um filme convincente e que vale a pena assistir. Os não afeitos ao gênero poderão até perder o sono.


Cartaz do filme argentino Aterrorizados, de Demián Rugna

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Horror
Duração: 1h27min
Direção: Demián Rugna
Roteiro: Demián Rugna
Elenco: Maximiliano Ghione, Norberto Gonzalo, Elvira Onetto, George L. Lewis, Demián Salomón e outros
Data de lançamento: 03 de maio de 2018 (Argentina)
Censura: 16 anos
IMDB: Aterrorizados

 

 

 


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