“A necessidade Imperial de controle é desesperada assim porque é antinatural. A tirania requer esforço constante. Ela quebra, ela vaza. A autoridade é frágil. A opressão é a máscara do medo”
Um assassino em fuga é contratado por um líder rebelde para ajudar a roubar uma fortuna do Império fascista.
Esse é o plot inicial da surpreendente série Andor, disponível na Disney+, que, assim como no ótimo filme Rogue One (2016) – do qual compartilham o mesmo roteirista (Tony Gilroy) – traz uma trama do universo Star Wars totalmente voltada para o público adulto.
Sem qualquer alívio cômico ou escapismo bobo, o que chama a atenção aqui é uma intensa trama política, extremamente alinhada com os dias atuais aqui em nossa “galáxia”. Com a volta do fascismo e suas manifestações antidemocráticas a nos assombrar, os pontos trabalhados na série não poderiam ser mais assertivos e relevantes.
Algumas das ideias abordadas serão brevemente discutidas nos parágrafos a seguir. Afinal, são as ideias e os ideais (ou a falta deles), que ditam todos os caminhos pelos quais os personagens serão afetados uns pelos outros em todos os 12 episódios de 45 minutos que compõem esta impecável série.
A “opressão suave”
Nos primeiros episódios, o Império segue calmamente com sua “opressão suave”. Aquela que é tão absurdamente corriqueira que a população acaba se acostumando e normaliza o que nunca deveria ser aceito.
A vigilância constante e a aniquilação ou diminuição dos direitos civis em favor da preservação de uma classe econômica dominante, bem como dos militares e seus privilégios, além da preservação de uma suposta segurança dos que detém o poder, vão extrapolando a medida do moralmente aceito, porém o povo segue controlado, sufocado e adormecido.
A incitação da truculência
Roubar os cofres militares, atingindo financeiramente o Império, obviamente acarreta represálias e uma opressão mais explícita, ostensiva e truculenta, com métodos que incluem: prisões por motivos inexistentes, condenações em tribunais improvisados e seus juízes tendenciosos, torturas e desaparecimentos sob a velha desculpa da “caça às bruxas”.
Qualquer semelhança com as nossas famigeradas ditaduras não é mera coincidência. Mas tudo bem, desde que todo esse sofrimento faça parte do plano e desde que o plano não corrompa a alma de quem o planejou.
Quem financia a barbárie?
Se por um lado, a manipulação exercida pelos poderosos se revela extremamente fácil e justificável, afinal uma sociedade “conservadora” e “patriota” precisa punir os ladrões a qualquer custo, a população mais pobre só tem duas opções diante da calamidade: sucumbir ou revidar. Enquanto os poderosos abraçam e comemoram esta manipulação com louvor, pois ela é a desculpa perfeita para que eles exorcizem todo o ódio disfarçado de ordem, por outro lado o povo desesperançado só age institivamente tentando sobreviver.
Em uma das muitas cenas emblemáticas da série, numa busca desesperada por liberdade, o povo na beira do precipício se joga ao mar, mesmo que muitos não saibam nadar, mas não lhes resta outro caminho a não ser pular e aceitar um destino que já foi escolhido pelas mãos daqueles que financiam a barbárie de lá de suas mansões com vista privilegiada e alienação seletiva.
De onde vem a resistência?
Com uma trama repleta de personagens muito bem escritos e desenvolvidos, obviamente nada é cristalino. Ao fugir dos inúmeros estereótipos rasos que quase sempre circulam em uma produção Star Wars, a série só se agiganta a cada episódio.
O roteiro brilhante vai entregando sem pressa os porquês de cada um. Porém, todos, em algum momento, vão questionar suas próprias certezas, exceto aqueles que preferem, por conveniência ou alienação, cultivar as certezas que melhor lhes convém.
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No fim das contas, a resistência é só uma ideia plantada em terreno arenoso, muito difícil de germinar. Em seus frutos: sonhos de libertação, paz, justiça, desapego aos que sucumbiram na luta e a loucura de confiar na imprevisibilidade contida em cada ser humano em tempos de guerra, afinal, resistir também é um ato coletivo.
INFORMAÇÕES:
Título Original | Ano: Andor | 2022
Gênero: Ficção, Ação, Aventura
País: Estados Unidos
Duração:
Direção: Toby Haynes, Benjamin Caron e Susanna White
Roteiro: Tony Gilroy, Dan Gilroy, Beau Willimon, Stephen Schiff (Baseado na série Star Wars, de George Lucas)
Elenco: Diego Luna, Kyle Soller, Stellan Skarsgård, Genevieve O’Reilly, Denise Gough, Adria Arjona e outros
Data de Lançamento:21 de setembro de 2022 (Brasil)
Censura: 14 anos
Avaliações: IMDB| Rotten Tomatoes
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