‘Clonaram Tyrone’, o original da Netflix que você não viu, mas deveria


John Boyega, Jamie Foxx, Teyonah Parris em Clonaram Tyrone

Em 1986, o presidente Ronald Reagan declarou a guerra às drogas. No cenário interno dos Estados Unidos, tal política foi direcionada majoritariamente para as comunidades negras, causando consequências negativas até os dias atuais. A política provocou encarceramento em massa de afro-americanos – onde os jovens foram as principais vítimas –, aumentou o número de assédio policial sem justificativa e provocou altos índices de violência nos bairros visados pelo ‘‘programa’’. De maneira geral, a guerra contra as drogas, ao invés de combater propriamente os narcóticos, deu continuidade a uma violência racial observada desde o período colonial do país.

Posto isso, Clonaram Tyrone! claramente se apresenta como uma reimaginação dessa política, principalmente quando sua  cidade fictícia e ambientação quase sempre remetem aos bairros negros dos anos de 1980 e o grande vilão, se me permitem o spoiler, se chama Nixon, assim como Richard Nixon, o presidente que criou a ‘‘guerra contras as drogas’’ e deu inicio ao processo que seria intensificado no governo Reagan.

Entretanto, Juel Taylor, diretor e roteirista do filme, tem a grande sacada de explorar esse problema estadunidense fugindo de um realismo, investindo na ficção científica e no blaxploitation para contar tal história. Assim, vemos um traficante de drogas (John Boyega), um cafetão (Jamie Foxx) e uma garota de programa (Teyonah Parris) com figurinos ultra expressivos (herança do blaxploitation) imitando a jovem investigadora Nancy Drew para descobrirem como o traficante morreu, mas continuou vivo.

Jamie Foxx, Teyonah Parris e John Boyega em Clonaram Tyrone! (2023)
Jamie Foxx, Teyonah Parris e John Boyega em Clonaram Tyrone! (2023)

A história, nesse sentido, é guiada através do recurso narrativo whodunnit (who [has] done it,  “quem fez isso?”, em português), mas o grande destaque não acaba sendo a distribuição de pistas e respectivos procedimentos para encontrar o vilão, como fazem Entre Facas e Segredos ou Os Sete Suspeitos, dando início a uma queda gradativa de qualidade ao não conseguir proceder com a história sem o mistério desses elementos.

Clonaram Tyrone! resolve suas pistas muito cedo e simplifica a  jornada de seus ‘‘mocinhos-vilões’’, optando por passar credibilidade para o espectador, ser uma narrativa confiável. Nesse sentido, o filme tem um maior interesse em se centrar no encontro do responsável pelo ocorrido e, dados os elementos que vão sendo apresentados em tela, eu diria que a questão de encontrar funciona muito mais de uma maneira geográfica que como um fator mistério, afinal, fica bem subentendido desde o primeiro elevador que o governo está envolvido.

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Dada a ineficiência pela busca do esconderijo do grande vilão, o filme acaba por se sustentar através das atuações extremamente caricatas de Foxx e Parris, que, por sinal, funcionam muito bem e se tornam o carro-chefe da produção. Dito isso, Clonaram Tyrone! parece um episódio não tão bom de Scooby-Doo, aqueles cujo o destaque não está em seus vilões ou na investigação, mas sim nas desordens cômicas que Scooby e Salsicha fazem, aqui facilmente representadas por Foxx e Parris.

CLIQUE PARA ASSISTIR AO TRAILER

clonaram-tyone-cartaz-pt-br

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: They Cloned Tyrone
ANO: 2023
GÊNERO: Comédia, Sci-Fi, Mistério
PAÍS: EUA
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 2:02h
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
DIREÇÃO: Juel Taylor
ROTEIRO: Juel Taylor e Tony Rettenmaier
ELENCO: John Boyega, Jamie Foxx, Teyonah Parris, Kiefer Sutherland e outros
AVALIAÇÕES: IMDB | Rotten Tomatoes

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