‘Medusa Deluxe’ tem um bom ínicio, mas se perde pela obsessão do plano-sequência

Nos bastidores de um concurso de penteados, o franco favorito a vencer a competição tem seu couro cabeludo arrancado. Com a notícia de sua morte brutal se espalhando pelo local, os outros concorrentes da competição tentam descobrir o assassino ao longo da noite. Essa breve descrição do impulsionar dos eventos que vão se desenrolar no filme deixa a sugerir que Medusa Deluxe trata-se de uma produção levada pela lógica do whodunnit.

Bom, o filme até sustenta essa proposta de encontrar o assassino até o final, mas parece usar essa trama como uma mera desculpa para proporcionar um deleite visual.

Essa tentativa de causar satisfação mais pela técnica que propriamente pela história vem, principalmente, da valorização contínua de uma escolha formal que foi responsável por fazer filmes como Birdman (2014) e 1917 (2019) alcançarem ambos status de clássicos. O deleite visual de Medusa, dessa forma, está voltado para a movimentação de câmera, que opera dentro da lógica de uso de uma única tomada durante o filme inteiro, um plano-sequência de 101 minutos.

Bom, eu reconheço que é difícil encontrar um local perfeito para finalizar a tomada sem prejudicar a ideia de sequência única, também compreendo o quão difícil é o planejamento dessas sequências onde um único erro pode descartar toda filmagem. Em seu filme de estreia, o diretor Thomas Hardiman é ousado, sem dúvidas. Mas um filme não deve ser avaliado apenas pela dificuldade de produção.

Dito isso, Hardiman mais parece secundarizar tudo que não seja seu plano sequência ou direção de arte. Nesse sentido, pode até se dizer que a história fica perdida entre a frágil utilização do espaço e o chamativo bebê fofo que surpreendentemente nunca chora em nenhum momento do filme. Aliás, essa criança ainda de colo parece ser inserida na história apenas como mais um elemento que valoriza esse plano de tomada única, afinal, vários diretores, entre eles, o mestre do terror Wes Craven, odiavam trabalhar com crianças devido a dificuldade que era fazer com que elas seguissem o desejado.

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Medusa até tenta resgatar o whodunnit quando o principal suspeito volta a aparecer entre os corredores que parecem mais labirintos, mas não consegue se recuperar a tempo. Quando ocorre esse retorno, já não existe mais tensão ou desconfiança, existe apenas um vazio causado pela ousada persistência do excesso.