Guitarra ruidosa em contraste com uma mais límpida, uma estética sonora propositadamente Lo-Fi, arte de capa de disco totalmente enigmática, somado a não exposição midiática. Com esses atributos o trio londrino Bar Italia: Nina Cristante, Jezmi Tarik Fehmi e Sam Fenton tem atraído “olhares” para seu projeto musical que leva o mesmo nome de uma canção do Pulp. Ao vivo, o grupo se torna um quinteto, acrescentando um baterista e uma baixista.
Formado por músicos com certa bagagem na cena alternativa local, Bar Italia lançou um punhado de singles, um EP e dois álbuns pelo selo World Music, chamando atenção não só pela sua música mas também por uma espécie de mistério em relação a sua imagem, algo bastante comum nos anos 80. Desinteresse em aparecer ou uma propositada jogada de marketing? Deixe a música ressoar, e que ela fale por si mesma, é a mensagem do grupo. A Matador Records captou a mensagem, assinou com a banda para seu terceiro álbum, Tracey Denim, que tem produção da propria banda e mixagem da italiana Marta Salogni, que produziu recentemente Memento Mori, do Depeche Mode.
Para seu terceiro longa, a banda agora tem uma foto de divulgação – a que mostra o trio sentado em uma mesa de bar -, e só (essa que ilustra esse texto). É a mesma imagem que foi usada para a capa do novo disco, só que no álbum com um efeito em preto e branco. Musicalmente também são perceptíveis mudanças. Ainda que a estrutura dos arranjos e a sonoridade ao estilo de gravação ao vivo mantenha uma tendência para o Lo-Fi e certo minimalismo, as canções surgem aqui melhor estruturadas. E é algo que dá uma maior dimensão ao trabalho do grupo, que deve abandonar os circuitos Indies mais undergrounds de Londres e alcançar um público maior, vide sua escalação no festival Primavera Sound.
Mesmo assim, Tracey Denim mantem o mesmo senso de dispersão que permeava os outros trabalhos: Quarrel (2020) e Bedhead (2021). A grande quantidade de canções (quinze) pesa nesse sentido, apesar do tempo total do disco estar ali abaixo dos 45 minutos. O álbum tem um início que soa um tanto desconexo, incluindo uma propositada sensação truncada de transição entre faixas. À medida que avança na sequência das canções, vai ganhando mais coesão e arranjos com camadas sonoras, incluindo passagens de cordas em “Maddington”.
“Nurse”, o primeiro single e carro chefe do novo disco, tem um arranjo cheio de espaços vazios, remete a uma mistura entre Stereolab e Pavement (atenção em “Harpee”), e traz embutido no refrão uma passagem com riffs/batidas de guitarra secas e abrasivas rasgando a canção durante o refrão. A faixa tem todos os integrantes participando dos vocais. Esse jogo de vocais é uma das marcas do disco, criando um paradoxo interessante entre o canto suave ou agoniado de Nina (como em “Punkt”) e a aspereza de Jezmi e Sam, que tendem pelo estilo mais declamatório, rapeado ou simplesmente monótono.
Embora o grupo mostre em sua música uma série de ingredientes e formatos já bastante conhecidos do Indie-Rock e do Lo-Fi feito nos anos 90, há elementos de surpresa que percorre varias faixas e torna o disco atraente, e a dualidade no trabalho vocal é um dos elementos que mais se sobressai, somado a criação de melodias simples mas que grudam, e as letras que, em geral, falam de relacionamentos de forma geral.
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“Changer” é outro dos bons momentos do álbum e, assim como “Nurse!”, tem os três integrantes se juntando ao vocal. Mas, diferentemente, o arranjo tem camadas que a torna uma faixa mais burilada. Juntas, são um cartão de visita bastante apropriado para quem deseja começar uma aproximação com o grupo, que certamente deve figurar em várias listas de revelação do ano.
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