‘Slanted and Enchanted’ é um clássico insuperável na discografia do Pavement



Alguns discos se tornam clássicos com o tempo, outros nascem clássicos e o tempo trata de ratificar sua posição. “Slanted and Enchanted”, primeiro álbum dos americanos no Pavement enquandra-se na segunda afirmação.

Encontrá-lo, por exemplo, em vigésimo quarto na lista dos cem melhores álbuns dos anos 90 feita pela conservadora revista americana Rolling Stone, à frente de concorrentes como (What’s the Story) Morning Glory?, do Oasis e Harvest Moon (Neil Young), é um feito surpreendente . Mais surpreendente ainda terem ficado à frente do Nirvana como álbum do ano, segundo a revista Spin.

Lançado oficialmente em abril de 92 pela então pequena Matador Records, Slanted entra no panteão de discos ofuscados pelo gigantesco sucesso que varreu a face do planeta chamado “Nevermind”, do Nirvana. Correndo sutilmente por fora, a música do Pavement seguia por um lado oposto ao proposto pelas bandas grunge, quer na música (sonoridade propositadamente despojada) ou nas letras (cheias de ironia e certo non sense).

As composições nesse primeiro álbum do grupo mostram um ar descompromissado e despretensioso que remete ao Beat Happening; já alguns vocais, no estilo falado, seguem a cartilha de Mark e. Smith, do The Fall (Conduit for Sale / Loretta’s Scars / Two States); e o lado garageiro traz à tona influências de Sonic Youth, principalmente quando criam aquele inferninho noise (No Life Singed Her / Perfume V), ou Pixies (Trigger Cut / Chesley’s Little Wrists / Fame Throwa), nos momentos de insanidade vocal e experimentações.

O resultado dessa mistura é uma música que soa bem original, ao digerirem tudo isso e vomitarem de volta com uma visão própria, despreocupada com filiações a gêneros ou a rótulos vigentes.

Juntam dois lados antagônicos: o barulhento e o melódico – vide a agridoce “Here” – sem perder a coesão. Lado melódico esse que viria a ser mais explorado nos álbuns subsequentes com resultados também muito bons.

Gravado e executado de forma “espontânea”, encanta pela sua sinceridade e senso anárquico, filiando-se ao lema punk “do it yourself” (faça você mesmo), priorizando o resultado final sem grandes preocupações com a forma ou a técnica, o que ficou conhecido como lo-fi: instrumental despojado, guitarras desafinadas ou tocadas sem preocupações com complexidade e gravações toscas, predominando a sonoridade de garagem. O baixo, por sinal, aparece muito pouco e de forma discreta na maior parte das canções. No turbilhão de distorção que irrompe muitas vezes nos arranjos, a voz de Malkmus surge de forma plácida, às vezes aos berros, somando-se ao caos sonoro.

O resultado disso tudo é que o Pavement logo emergiu como banda ícone do rock underground americano, influenciando toda uma geração de bandas ao redor do globo. Podem não ter alcançado tanto sucesso quanto seus contemporâneos do Nirvana ou Pearl Jam, mas o legado que deixaram para o rock alternativo talvez esteja num nível acima das citadas, “Slanted and Enchanted” foi o disco que impulsionou essa trajetória.

:: NOTA: 9.59.0

STEPHEN MALKMUS AND THE JICKS – Sparkle Hard (2018)
THE FALL – Our Future Your Clutter (2010)


Capa do álbum "Slanted and Enchanted", da banda Pavement

:: FAIXAS:
01 Summer Babe (Winter Version)
02 Trigger Cut/Wounded-Kite At:17
03 No Life Singed Her
04 In the Mouth a Desert
05 Conduit for Sale!
06 Zurich is Stained
07 Chesley’s Little Wrists
08 Loretta’s Scars
09 Here / 10 Two States
11 Perfume-V / 12 Fame Throwa
13 Jackals, False Grails: The Lonesome Era
14 Our Singer


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