Fingers Crossed: How Music Saved Me from Succes é o primeiro livro de Miki Berényi (Lush/Piroshka) e traz memórias da autora desde a infância até o fim do Lush.
Vocalista, guitarrista e principal compositora da banda inglesa Lush, surgida na segunda metade dos anos 80, ela acompanhou o surgimento da cena Britpop, que se espalho pela inglaterra no início dos anos 90. Sua banda acabou sendo rotulada como parte da “The Scene That Celebrates Itself” (A Cena que se Celebra), frase usada de forma pejorativa por parte da imprensa musical inglesa para bandas como Lush, Ride, Slowdive, Moose, Pale Saints e outras, por frequentarem os shows e divulgarem uma as outras.
“A música foi sequestrada por idiotas elitistas”, ela afirma em um trecho do livro ao se referir ao Britpop. Miki, por sinal, reserva várias páginas de seu livro para falar de como alguns artistas do Britpop acabaram por “consagrar uma cultura de sexualização desagradável e implacável”. Um dos capítulos se chama “Bollocks to Britpop” (algo como ‘culhões para o Britpop’). Abaixo um trecho do livro:
“A alegação de que o Britpop celebra mulheres atrevidas em bandas é um verniz. Eu vi isso antes com Riot Grrrl, onde (no Reino Unido, pelo menos) o que a imprensa fazia consistia, principalmente, em colocar mulheres umas contra as outras. Isso gerou uma série de debates sobre “mulheres no rock” que, para minha vergonha, fui arrastada, falando mal de Kylie Minogue quando eram os homens comparando todas as outras mulheres com desprezo à sua imagem de pop-pop que eu deveria ter atacado. Eu não vou ser enganada novamente”.
Escrever um livro de memórias não deve ser tarefa fácil. Se reconectar com lembranças não muito agradáveis, algumas traumáticas, dolorosas, acaba uma empreitada um tanto árdua e delicada. No caso de Berenyi mais ainda.
Filha de um jornalista esportivo húngaro e de uma atriz japonesa, ela teve logo cedo que lidar com a barra pesada da separação dos pais – ela acabou ficando com o pai -, e o abuso sexual por parte da avó; já com a sua banda, o suicídio do baterista Chris Accland (em 1996), a relação complicada com a guitarrista Emma Anderson (com quam formou o Lush) e também o sexismo e misoginia na indústria da música. Mas não é sobre as partes ruins de sua vida que Berenyi espera que seus leitores apreciem o seu livro, como ela mesmo afirma:
“Minha história é tanto sobre uma vida familiar interrompida, uma infância nos anos 70, uma adolescência nos anos 80, alienação, amizade, amor, sexo, autodestruição e otimismo quanto é sobre música – o que senti, tanto quanto o que aconteceu. Há eventos chocantes – mas não é um livro de memórias de miséria. Coisas ruins acontecem com todo mundo e é como você supera a porcaria que eu acho importante – e interessante. Não estou documentando minha vida para as pessoas ficarem boquiabertas ou admiradas, mas convidando-as para experimentar os altos e baixos e sentir como foi viver isso”.
Fingers Crossed: How Music Saved Me from Succes (Nine Eight Books) foi lançado nesta quinta-feira (29/09) e já encontra-se disponível para quem deseja comprar, mas apenas em inglês.
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