LANÇAMENTOS: M(h)aol, EXEK e Bodies of Divine Infinite and Eternal Spirit


Mhaol-foto-Jane-Donnelly
M(h)aol | Foto: Jane Donnelly

Como em todos os anos, muitos, muitos lançamentos em 2023.

Como dar conta de tanta coisa?

Impossível!

A ideia é: fazemos o que podemos.

E dessa vez ouvimos (e comentamos) os novos trabalhos de três interessantes bandas: uma irlandesa e duas australianas; naquela pegada de nomes desconhecidos que merecem atenção e que os amigos mais próximos costumam fazer piada interna: “Urge! falando de bandas obscuras do norte da Groelândia ou do sul do Alasca”.

Voilá!


M(h)aol – Attachment Styles

O baixo é poderoso e grave, as guitarras ásperas, e os vocais de Róisín Nic Ghearailt vão do mais puro tédio até a agressividade, passando por momentos de spoken word e suavidade. Em Attachment Styles, seu álbum de estreia, a música do grupo é crua e esparsa, costurada por riffs de guitarra, abarcando referências que vão do Punk ao Pós-Punk, e chegando até o caos sonoro dos Pixies.

Formada em 2016, Mhaol (pronuncia-se ‘male’) é um quinteto de Dublin. A música do grupo é um veículo para que Róisín dê vazão a uma multiplicidade de sentimentos e observações sobre a sociedade. Seus versos são marcados por um posicionamento feminista, e abordam temas como cultura do estupro, abuso e impunidade (na raivosa “Asking for It” e “Therapy”), o patriarcado e a masculinidade tóxica (“Bored of Men”), a misoginia e o machismo (“No One Ever Talks To Us”), e até mensagem de auto-afirmação (no estilo spoken word de “Bisexual Anxiety”), e uma canção escrita para a namorada (“Period Sex”), onde ao longo de mais de sete minutos canta sobre o desejo incontrolável de fazer sexo durante o período menstrual, e também geme: “Eu sei que nos disseram que é desagradável e nojento / Com meus hormônios tão altos / Estou me sentindo bastante luxuriosa”. “É a única música que as pessoas saem quando tocamos”, diz a vocalista.

PARA INICIAR, OUÇA: “Asking for It”.

EXEK – The Map and the Territory

Lançado no início do mês de outubro, The Map and the Territory, do sexteto australiano EXEK (de Melbourne), está naquela prateleira de álbuns inclassificáveis. Um quê de estranheza e outro de força atrativa que faz com que o ouvinte se pegue voltando a ele em busca de novas descobertas a cada audição, uma nova gama de referências de estilos e sutilezas sonoras.

Com certa aproximação do Pós-Punk e do Art-Rock do final da década de 70, a música do grupo é um caleidoscópio de referências, E incorpora elementos de Jazz, Krautrock e até mesmo do Dub, permitindo-se explorar dissonâncias, atonalismo e adicionar uma variedade de efeitos sonoros e barulhos de fundo em seus arranjos, a exemplo de “The Lifeboats”, uma viagem conduzida por batidas Motorik e profusão de sons que vem e vão.

A banda é liderada pelo vocalista Albert Wolski, cujas letras tendem pelo surrealismo e com leitura abertas a busca de significados. Seu estilo de cantar sugere uma mistura entre o Brian Eno e Ira Kaplan, do Yo La Tengo.

PARA INICIAR, OUÇA: “Welcome to my Alibi”.

Bodies of Divine Infinite and Eternal Spirit – All the Songs I Know About Fire

Álbum de estreia do coletivo de Melbourne/Naarm, All the Songs I Know About Fire traz onze faixas que, em sua quase totalidade, iniciam com “Song for…”, exceção para “All She Wanted is to Die”, colocada na parte central do conjunto.

O grupo é liderado pelo vocalista e guitarrista Daniel Ward, junto com Aldo Thomas (vocal, guitarra, saxofone), Ruby Lee (bateria, bateria eletrônica, sampler), Ben Sendy-Smithers (baixo) e colaboradores rotativos. Segundo o vocalista, o disco é como uma coleção de canções que atuam como “uma oração ou ritual, falando sobre desejo, medo, amor, morte, tempo e mistérios”.

Várias das canções carregam esse clima ritualístico, iniciando “Song For Desire”, música de abertura cujos acordes iniciais remetem a Bauhaus. Já na tensa e assombrosa “Song for the Ghost”, Ward canta como um Johnny Rotten alucinado. E muito da força das canções está na interpretação de Ward, que mais declama do que canta, sempre dando força e forma emotiva e intensa aos versos, seja nos momentos mais densos ou mais agitados, como em “Song for Fear”.

PARA INICIAR, OUÇA:“Song for the Ghost”.

 

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