Esta é uma seção do site feita de memórias. Memórias da época em que eu comprava e colecionava vinis. Vinis esses que tiveram quase todos o mesmo destino, a coleção de um amigo, onde talvez permanecem até hoje. Vendê-los não significava que não gostava deles, ao contrário. Mas era uma fase de transição para o CD, e como não tinha grana para comprar, a ideia era vender dois vinis e comprar um CD. Era também uma espécie de “aposta” na nova tecnologia que despontava.
Hoje é o contrário, se vender dois CD’s não dá nem pra comprar um vinil, e alguns irão até me chamar de louco ao ler esse relato.
Duas coisas são interessantes ao se falar dessa coletânea dos Banshees: 1 – não me lembro onde comprei ( a maioria dos meus vinis eu lembro), talvez tenha feito parte de uma troca que fiz com um outro amigo por alguns álbuns mais barulhentos; 2 – era o único álbum que mostrava canções do início da carreira da banda, já que a Polydor só lançou por aqui os discos da banda a partir do ‘Hyaena’ (1984). Por sinal, a maioria dos discos lançados pela Polydor tinham uma qualidade sofrível, mas esse até que tinha uma qualidade boa.
Mas bom mesmo é o conjunto de canções que compõem o disco. São apenas dez, mas todas boas. Algumas só saíram em singles. Ouvi-las é realmente viajar no tempo. Vejo-me em meu quarto no fundo do quintal da casa de meus pais ouvindo “Mirage” ou “The Starcaise (Mistery)” com uma sensação estranha, uma espécie de magia e estranheza.
Os vocais cristalinos e inimitáveis de Siouxsie em contraponto com as guitarras sujas e mais a bateria tribal única de Severin e as linhas de baixo melódicas de Budgie.
Engraçado que sempre lia que a banda era uma das precursoras do som gótico, mas não conseguia associar a música deles ao gótico, e até hoje não consigo. São perceptíveis, por exemplo, influências de rock de garagem sessentista, Psicodelia e Glam-Rock. Na época, minha associação ao Gótico estava relacionada a Bauhaus e Sisters of Mercy, por causa de seus momentos mais densos. Acho que esse era o legal das bandas dos anos oitenta, cada uma seguia por caminhos diversos, era fácil identificar cada uma por características marcantes, no caso de Siouxsie, pela voz da diva.
Sempre que escutava esse Once Upon a Time o que me vinha à mente era uma frase de Ian MCulloch de que “sem magia e mistério a música não valia à pena”. São qualidades que se casam perfeitamente com as dez pérolas desse disco, que entre elas inclui a inesquecível “Israel”, uma das melhores canções do grupo, bem como a psicodélica e tribal “Arabian Knights”. Não esquecendo das clássicas “Christine” e “Happy House”, claro.
Reouvindo o disco, não há como não ser transportado. Os riffs de guitarra são realmente viajantes, rememoram uma época. Levantam uma enorme saudade. Trazem para o hoje sensações de mais de trinta anos atrás, quando não havia MP3, nem Youtube, nem Torrents, nem Spotify ou Deezer, e eu ficava a sonhar em conseguir os primeiros discos da banda e, quem sabe, chegar a assistir algum vídeo deles.
PS: ESSE TEXTO FOI PUBLICADO ORIGINALMENTE EM 2010. É UMA REPUBLICAÇÃO COM ALGUMAS MODIFICAÇÕES.
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