Olapso temporal entre Before the Road (2021) e Sleep, and I Will Sing (2023), os dois últimos discos da banda Pós-Punk russa Motorama, reforça a sensação de que o tempo parece andar tão rápido que nem sempre nos damos conta do quanto se passou desde certos eventos. Nesse caso, foi “apenas” pouco mais de dois anos, mas parece que foi ontem que estávamos cá a nos deleitar com “Pole Star”, das canções mais magnéticas do disco de 2021, quiçá da carreira do grupo capitaneado por Vladislav Parshin (voz, guitarra) e que tem ainda Irene Parshina (baixo) e Mikhail Nikulin (bateria para apresentações).
Sétimo álbum da carreira do grupo – que grava tudo de forma caseira e lança seus trabalhos de forma independente -, Sleep, and I Will Sing reza na mesma cartilha de seu antecessor: um mix de elementos das banda Jangle-Pop e também do Pós-Punk, com o baixo grave em loop surgindo como protagonista, dedilhados melodiosos de guitarras (as chamadas jangle guitars), batidas secas e repetitivas (drum machine), e os vocais graves (já não tanto quanto nos primeiros álbuns do grupo) e de tom melancólicos de Vladislav. Nesse contexto primordial, sempre entram novos elementos para adornar os arranjos, desde camadas de sintetizadores, vide a ensolarada e dançante “Unknown” até flauta, como na bucólica “Next to Me”.
Com pontos de aproximação e distanciamento em relação ao seu antecessor, Sleep, and I Will Sing é um típico álbum do Motorama, como todos os elementos usuais encontráveis ao longo de sua discografia, e nesse sentido, pode soar mais do mesmo. Vlad não parece muito preocupado com isso, o Motorama mudou muito pouco desde sua estreia com Alps (2010), onde seria impossível encontrar, por exemplo, uma canção como “Two Sunny Days”, faixa que abre o novo trabalho, ou “Not Relly”.
São mudanças discretas, quase imperceptíveis de um trabalho para o outro, mais visíveis quando olhadas no contexto da carreira do grupo, e até as comparações o timbre de Ian Curtis já não fazem mais sentido há algum tempo. Mas o senso de romantismo e nostalgia seguem mantidos.
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