John Lydon fez sua fama como vocalista dos Sex Pistols, com suas letras provocantes, seu olhar ameaçador e uma postura de palco que combinava com toda estética da banda. Quando pulou fora dos Pistols, em 1978, percebeu que precisava fazer algo o mais rápido possível. Recrutou então Keith Levine, o ex-guitarrista do The Clash; Jah Wobble, um amigo de longa data e, assim como Lydon, fã de Reggae; e mais o baterista Jim Walker, que foi aprovado no teste para a função depois de responder a um anúncio colocado no Melody Maker. Estava formado o Public Image Ltd. Ou, simplesmente P.I.L.
Em sua nova banda, Lydon pretendia deixar para traz tudo que marcou seu período com os Pistols, principalmente a sonoridade Punk. Para Lydon, o Punk havia morrido junto com o Pistols. O P.I.L. daria início a um novo gênero musical, marcado pela presença marcante de linhas de baixo grave (assim como o Reggae e o Dub) e riffs intensos de guitarras, marca registrada do grupo e que viria a ser adotada por uma infinidade de bandas.
Esses são os elementos presentes em seu single de estreia, a faixa “Public Image”, que faz parte do álbum de estreia do grupo First Issue (1978). Lançada no dia 13 de outubro de 78, a faixa foi o único single do primeiro trabalho do P.I.L. e sua letra foi escrita ainda na época dos Pistols. Segundo Lydon, fala sobre a sua própria imagem no período em que esteve à frente de sua ex-banda:
“Apesar do que a maioria da imprensa pareceu interpretar erroneamente, não é sobre os fãs de forma alguma, é uma crítica ao grupo do qual fiz parte. É sobre o que eu vivenciei no meu próprio grupo. Eles nunca se importaram em ouvir o que eu estava cantando, eles nem mesmo conhecem as letras das minhas músicas. Eles nunca se deram ao trabalho de ouvir, era como ‘Aqui está uma melodia, escreva algumas letras para ela.’ Então eu fiz. Eles nunca questionaram isso. Eu achei isso ofensivo, significava que eu estava literalmente desperdiçando meu tempo, porque se você não está trabalhando com pessoas do mesmo nível, você não está fazendo nada. O resto da banda e Malcolm nunca se deram ao trabalho de descobrir se eu sabia cantar, eles simplesmente me viram como uma imagem”.
O single alcançou um nono lugar nas paradas da Inglaterra e um décimo quinto na parada irlandesa. E foi nesse país do Reino Unido que uma então iniciante banda chamada U2, que já havia sido inspirada por Lydon uma vez, voltaria a se inspirar novamente, dessa vez de uma forma bastante explícita, na criação de uma de suas faixas mais conhecidas e que esteve presente em quase todos os seus shows do que pode ser chamada da “fase garagem” da banda: “I Will Follow”.
Na autobiografia Surrender – 40 Músicas, Uma História (Intrínseca, 2022), é o próprio Bono que oferece ao leitor a sua versão de como a faixa foi criada, usando como referência os riffs da canção do P.I.L. e como ele meio que se desentendeu com The Edge que não conseguia entender exatamente o que o vocalista queria que ele fizesse na canção. Antes de explicar todo o processo, o vocalista se desculpa com seus companheiros de banda e admite suas limitações como músico: “Posso ouvir a música na minha cabeça, mas não consigo tocá-la…Tive só algumas aulas de violão, por isso, sou um dependente desses três camaradas”.
Na sequência Bono comenta sua tentativa de explicar a The Edge a sonoridade que desejava: “Estou tentando explicar como é original e empolgante a nova música do Public Image Ltd… Soa, digo entusiasmado, como uma furadeira elétrica em seu cérebro, ou uma faca elétrica atravessando a carcaça do passado, ou uma empilhadeira remover qualquer obstáculo em seu caminho…É muito incisivo. Sem gordura, sem rebarba no som da guitarra. Está além do punk; é pós-punk”.
E então prossegue: “Estou tentando fazer o Edge tocar o som de uma furadeira elétrica no córtex cerebral espinhal, mas ele não sabe o que quero dizer. (Em retrospecto, vejo que isso foi como um grafiteiro dizendo a um grande pintor de paisagens para usar tinta em spray). Edge está perdendo a paciência e estou ficando ainda mais frustrado. Tão frustrado que agarro a Gibson Explorer…Penduro a guitarra no meu ombro e começo a fazer um som esganiçado louco e perigoso…Neste momento cheio de ego, uma música que se chamará ‘I Will Follow’ está se formando”.
Ainda falando sobre a música, mas particularmente sobre a letra que usou para a canção, quando perguntado por seus colegas de banda sobre o tema da letra ele responde: “A música é uma carta de suicídio… É sobre um garoto que quer encontrar a mãe e, mesmo que ela esteja no túmulo, ele vai atrás”.
A declaração de Bono sobre como surgiu o riff de “I Will Follow” vai contra a de Steve Lillywhite, produtor de Boy (1980), primeiro álbum dos irlandeses, que em uma entrevista afirmou que o riff de “I Will Follow” foi inspirado no de John Mckay em “Jigsaw Feeling”, do álbum Scream, de Siouxsie and the Banshees, lançado em novembro de 1978, cerca de um mês depois do single do P.I.L. e dois meses antes do álbum.
+++ Leia sobre quando Robert Smith (The Cure) entrou para o Siouxsie and the Banshees
Opiniões divergentes, de criador de “I Will Follow” e de produtor. Para quem não ficou na dúvida sobre qual relato é o mais crível, resta ouvir as canções e tirar suas conclusões.
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