Quando Robert Smith se tornou um Banshee



A passagem de Robert Smith, líder do The Cure, pela banda Siouxsie and the Banshees está registrada em farto material: em vídeos diversos de apresentações da banda disponíveis no Youtube, tanto ao vivo quanto em videoclipes e entrevistas; e está também nos créditos dos álbuns Hyaena (1984) e Nocturne (1983), disco e show.

Como Smith chegou à banda da diva gótica é que não é tão conhecido.

Em seu livro Nunca é o Bastante – A História do The Cure, Jeff Apter conta que Smith foi apresentado por Chris Parry (dona da gravadora do The Cure) a Steve Severin no bar do show do Throbbing Gristle, em agosto de 1979. Logo os dois travaram amizade e em pouco tempo as duas bandas estariam juntas na estrada, nos shows, e na bebedeira, com o The Cures abrindo para Siouxsie and the Banshees.

Em 1979, a banda de Sioux e Severin perdeu o guitarrista (John McKay) e o baterista (Kenny Morris), Smith se ofereceu para seguir tocando com a banda durante a turnê, sendo de início recusado e, posteriormente, aceito no posto. Budgie, que havia tocado com as Slits, assumiu as baquetas. O “primeiro tempo” de Bob com os Banshees se encerrou com o fim da turnê.

A segunda passagem, já em 1982, foi mais significativa, e também de maior pressão. Nem tanto por ter que substituir o guitarrista John McGeogh, considerado até hoje como responsável pelos melhores trabalhos de guitarra dos Banshees, mas mais porque ao se juntar à banda londrina estivesse querendo espairecer do momento barra pesada pelo qual sua banda principal passava após três álbuns bastante depressivos (17 Seconds, Faith e Pornography), shows marcados por tensões e brigas, uso pesado de drogas, saída de Simon Gallup, e um enorme desgaste físico e mental que afetou todos os membros.

Se no começo o afastamento do The Cure , que muitos temiam que significasse o fim do The Cure, pareceu um alívio, posteriormente começou a se tornar um fardo.

Smith mantinha uma boa relação de amizade com Severin, mas com Siouxsie as rusgas começaram a surgir: “Acho que não era o guitarrista certo para a banda. Meu envolvimento se baseou principalmente em minha amizade com Steve Severin”, admitiu Smith posteriormente. Embora essa amizade estivesse baseada principalmente no uso de álcool, LSD e outras drogas. Nesse período os dois formaram o The Glove e lançaram o álbum “Blue Sunshine”.

Em 1983, a participação de Smith com os Banshees toma um novo direcionamento, a banda começou o longo processo de gravação do álbum Hyaena, que perdurou até 1984, e ele teve que assumir a responsabilidade pela criação das guitarras. Paralelamente, com o The Cure reduzido a ele e Tolhurst, gravava novas canções para sua banda principal, entrando numa rotina desgastante entre dois álbuns ao mesmo tempo: Hyaena e The Top.

O período como um Banshee serviu para que Smith retornasse ao Cure “revigorado”, levando a banda um passo adiante com The Top (1984). Por outro lado, se Smith conseguia executar muito bem seu papel de guitarrista nos shows com os Banshees, seu trabalho em estúdio com a banda, apesar de o álbum obter boa recepção e críticas elogiosas, é criticado pelo próprio Smith:

“As coisas que fazíamos ao vivo eram brilhantes, mas as gravadas não tinham a mesma definição, e talvez tenha sido um erro gravar aquele disco. Boa parte dele é legal, mas não é coeso o suficiente para ser ótimo”.

A saída de Smith dos Banshees aconteceu de forma inusitada: ao ser chamado para uma turnê nos Estados Unidos, ele se recusou e apresentou um atestado médico que dizia que ele não tinha condições de trabalhar, consequência do ritmo alucinado e desgastante que o músico estava vivendo.

O período em que Smith participou como membro dos Banshees serviu para reacender sua “chama criativa” e contribuiu para um outro direcionamento musical para os trabalhos posteriores do The Cure, inclusive no sentido visual.

Severin tem uma opinião dura sobre o ex-companheiro: “Robert tem uma tendência a excluir as pessoas de sua vida quando se cansa de sugá-las”. E Sioux, mais dura ainda : “Robert Smith diz que as cordas de “Dazzle” estragaram a música, mas ele não estava muito envolvido em Hyaena e seus comentários sobre ele são orgulho ferido. Deixamos que participasse mas ele não o fez, isso foi culpa dele”.

Fica a pergunta: “O que teria acontecido com o The Cure se Robert Smith não tivesse tocado com Siouxsie em The Banshees?”


PS: A participação de Robert Smith na banda Siouxsie and the Banshees foi algo que sempre nos intrigou, desde que conhecemos o álbum Hyaena por volta do final dos anos 80, ainda em vinil. O livro de Jeff Apter, citado no texto, serviu como fonte principal, mas não única, e inspiração para o texto. Depois de escrito, buscando outras informações nas Internet, nos deparamos com esse excelente texto do Fernando Augusto Lopes, do Flogase, que traz outras informações interessantes sobre a empreitada de Bob com os Banshees.


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