Sinéad O’Connor co-escreveu e cantou três músicas do álbum ‘100th Windows’, do Massive Attack
Pioneiro da cena Trip-Hop de Bristol, o Massive Attack, desde seus primeiros trabalhos, sempre se mostrou aberto a colaborações diversas, principalmente com vocalistas femininas. E foi justamente dessas parcerias que saíram alguns dos maiores êxitos da banda: “Safe from Harm”, “Protection” e “Teardrop”. ” Shara Nelson participou de Blue Lines (1991) – considerado por muitos como o primeiro álbum de Trip-Hop -, Tracey Thorn e Nicolette Suwoton participaram de Protection (1994), e Elizabeth Fraser do aclamado Mezzanine (1998) – que lhes rendeu, pela primeira vez, o topo na parada britânica.
Para seu quarto álbum, o Massive Attack perdeu dois de seus principais colaboradores, Andrew Vowles (Mushroom) e Grant Marshall (Daddy G). Robert Del Naja (3D), único remanescente da formação original do grupo (que incluía também Tricky), pretendia levar a música do Massive Attack por outros caminhos. Para isso, recrutou a banda Lupine Howl (formada por ex-membro do Spiritualized) para as primeiras gravações do novo trabalho, que duraram dezoito meses. Devido aos resultados insatisfatórios dessas sessões, a maior parte do material acabou descartada.
Apesar disso, Dal Naja prosseguiu em sua ideia de um novo enfoque sonoro para o Massive Attack em seu quarto álbum, deixando de lado elementos que distinguiam e destacavam a música grupo, como o uso de samples, e influências de Hip-Hop, Jazz e Dub. Da mesma forma, o uso da guitarra, elemento que se sobressaiu em Mezzanine, também foi abandonado por completo.
Produzido pelo próprio Del Naja em parceria com Neil Davidge, 100th Window (2003) contou com poucas participações externas. Del Naja assumiu os vocais em quatro das nove canções do álbum, enquanto Horace Andy, colaborador de longa data, ficou com duas e a convidada especial, Sinéad O’Connor (1966-2023) canta em três. Mais que cantar, Sinéad co-escreveu “What Your Soul Sings”, “Special Cases” (um dos singles do álbum) e “A Prayer from England”. Damon Albarn é outro dos convidados, mas com uma participação discreta. Sob o pseudônimo de 2-D, faz backing vocals em “Small Time Shot Away”.
“Special Cases” foi lançada também na coletânea Collaborations (2005), composta por canções em que a artista colaborou com outros músicos/artistas, dentre eles Asian Dub Foundation, Bomb the Bass, The The, U2, Peter Gabriel e outros. Dona de uma discografia de 10 álbuns de estúdio, Sinéad sempre foi uma artista muito requisitada e versátil, além das participações de Collaborations, ela colaborou com muitos outros artistas ao longo da carreira: Ian Brown, Shane MacGowan, Jah Wobble, Willie Nelson, James, Richard Wright (Pink Floyd), The Chieftains, Moby, Boy George e muitos outros. E, claro, nunca deve deixar de ser mencionado seu posicionamento firme e postura política.
Em entrevistas da época, Del Naja comentou que há muito desejava trabalhar com Sinéad, e sobre como acabou acontecendo participção em 100th Window: “Estávamos conversando sobre trabalhar com Sinéad desde antes do lançamento de ‘Protection’… ela é uma pessoa muito legal, muito sólida. Passamos alguns dias em Londres com ela no ano passado e depois ela veio para Bristol por mais dois dias em janeiro…Todo mundo sabe o quão ótima Sinéad é como cantora, mas ela também é muito versátil. Ela fez duas músicas muito bonitas; uma é muito política, outra mais pessoal”.
Perguntado pela Uncut Magazine sobre o que o atraiu em trabalhar com Sinead O’Connor, Del Naja foi bastante claro: “Ela tem esse senso cru de emoção e honestidade. Com o tipo de cantores pop genéricos que você tem hoje em dia, isso é raro”.
Sinéad também comentou sobre a parceria como o Massive Attack: “Nós fizemos uma demo de algumas faixas que têm um toque trance e alucinante… Eu sugeri uma faixa, ‘It’s All Good’, que é uma das melhores músicas que já ouvi, para o Massive Attack e gravamos alguns mixes que eu acho incríveis – cada um mais selvagem do que o outro… Ainda não temos certeza do que será incluído no álbum, mas acho que temos algo especial. A segunda faixa é algo escrito com Massive Attack, que provavelmente é melhor descrito como uma oração com música”.
+++ Leia a crítica do documentário ‘Nothing Compares’, sobre Sinéad O’Connor
Ainda em 2003, Sinéad abandonou a turnê de 100th Window alegando problemas de saúde. Ela foi substituída nos shows pela cantora Dot Allison.
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