Ao Vivo: Paralamas e Biquíni mostram como o Rock segue vivo e relevante


Foto | Flávio Charchar

Historicamente, o Rock em terras brasileiras atingiu seu ápice de popularidade a partir dos anos 80, período em que bandas de todo país iniciaram o processo de construção de carreiras sólidas, que evidenciavam uma grande sinergia entre artistas e público.

A década virou e a indústria fonográfica mudou, o que fez com que o sucesso de público e crítica se tornasse algo ainda mais rentável e sustentável. O crescimento da vendagem de discos e a exposição midiática produzida por veículos como a MTV, fizeram com que diversos artistas dessa seara atingissem marcas exorbitantes em suas carreiras. Foi um período em que, parafraseando Gilberto Gil, “tudo dava pé”. E isso fez com que diversas cenas locais surgissem e crescessem de maneira exponencial do Oiapoque ao Chuí.

Porém, a partir da virada dos anos 2000 em diante a hegemonia do Rock foi, de forma gradual, sendo rompida. Gêneros como o Sertanejo, o Funk e o Rap, que antes conviviam em harmonia na disputa pela atenção do público, dominaram o mercado e, com isso, o Rock saiu dos holofotes e dials das rádios.

O “rock errou”, diria Lobão, mas onde? Novas (e boas) bandas surgem a cada dia, mas porque as mesmas não conseguem ter a mesma atenção de outrora? Por mais complexo seja calcular essa equação, com tantos dados a serem analisados, é interessante observar que hoje se pode dizer que temos um novo cenário sendo desenhado com o retorno do público aos shows e festivais de Rock, em suas mais variadas vertentes.

Nesse sentido, pensar na trajetória de bandas como Os Paralamas do Sucesso e Biquíni Cavadão é uma oportunidade para refletir sobre quais são elementos essenciais para fazer com que suas respectivas carreiras, iniciadas nos anos 80, ainda permaneçam relevantes. Mesmo em períodos de turbulência.

OS PARALAMAS DO SUCESSO

As apresentações realizadas no Só Marcas Auto Shopping, localizado em Contagem (região metropolitana de BH), foram claras amostras de que o grande segredo da longevidade artística reside na honestidade dos artistas e respeito para com o público cativo (na casa dos 40/50 anos de idade) que segue, mesmo quatro décadas mais tarde, fiel aos seus artistas.

Reunindo um bom público, o papel de atração de abertura da noite foi dado aos Paralamas que celebraram recentemente 40 anos de estrada. A apresentação em solo mineiro fez parte da turnê intitulada “Clássicos” e, como esperado, fez jus ao nome. Enfileirando hits de ontem e de fases mais recentes, o trio Herbert, Bi e Barone foram acompanhados por exímia banda de apoio que contribuíram de maneira significativa na reprodução dos arranjos originais.

Paralamas-do-Sucesso-Minas-Rock
Paralamas do Sucesso, Minas in Rock – Foto | Flávio Charchar

Durante uma hora e meia de apresentação, a banda executou um set composto por 25 faixas, que foi iniciado pelo hino “Vital e sua Moto”, presente no primeiro disco do grupo Cinema Mudo (1983). Do clássico “O Passo do Lui”, disco divisor de águas na trajetória do Pop/Rock nacional, vieram canções como “Assaltaram a Gramática”, “Meu Erro” (que encerrou a noite), “Ska” e “Óculos”. Na ala das covers, que desde sempre fizeram parte das apresentações, vieram as canções “Polícia” (Titãs) num medley com “Selvagem?” (faixa do disco de mesmo nome) e “Você / Gostava Tanto de Você” (Tim Maia) que deixam amostra algumas das referências musicais.

Por mais que composições de discos mais recentes não tenha sido contempladas, como “Hoje” (2005), “Brasil Afora” (2009) e “Sinais do Sim” (2017), e que as canções mais recentes são de 20 anos atrás (“O Calibre” e “Cuide Bem do Seu Amor”), é interessante perceber como o repertório do quarteto segue vivo, sendo cantando em uníssono pelos presentes.

BIQUÍNI CAVADÃO

Na sequência foi a vez do Biquíni Cavadão, que celebra em 2023 trinta e oito anos de estrada. Se tem algo que pode ser dito, de imediato, sobre a banda carioca é que sempre a banda foi boa de palco, com performances marcantes por onde passam. Essa em si não foi diferente.

Assim como Os Paralamas, o Biquíni fez um setlist equilibrado com sucessos do início de carreira com recentes. Da primeira ala vieram canções como “Tédio”, “Timidez”, “Múmias” e “No Mundo da Lua”, todas do disco de estreia “Cidades em Torrente” (1986). Da safra anos 00 em diante vieram faixas “Quando Eu te Encontrar” (de Escuta Aqui) e “Roda-Gigante” (do disco de mesmo nome).

Outro ponto de atenção e destaque é o fato de que as covers que o grupo executa eles-o fazem com tamanha personalidade que faz com que soem como canções próprias. Tal fato acontece com “Chove Chuva” (de Jorge Ben Jor) e “Carta aos Missionários” (Uns e Outros).

Biquini Cavadão, Minas in Rock
Biquíni Cavadão, Minas in Rock – Foto | Flávio Charchar

Bruno Gouveia, vocalista e principal compositor, é um grande frontman e fez de seu carisma instrumento para interagir com o bom público presente.

No bis o medley unindo clássicos do Rock, indo de “Smoke on the Water” (do Deep Purple) a “Seven Nation Army” (White Stripes) serviu como prelúdio para que “Zé Ninguém”, canção atemporal de alto teor político, colocasse ponto final na noite em que o Rock nacional venceu, colocando em evidência que mais do que shows de grande apelo visual o público também anseia por boas canções. E isso as duas bandas tem para dar e vender. A longa jornada de ambos não mente.

Por fim, espera-se que o Minas in Rock, iniciativa produzida pela Marques Produções e o Underground Black Pub, siga em frente, trazendo boas atrações para solo mineiro.

SHOW: Minas in Rock – Paralamas do Sucesso & Biquíni Cavadão
LOCAL: Só Marcas Auto Shopping – Contagem (BH/MG)
DATA: 24/03

FOTOS: @Flávio Charchar


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