Você pode detestar – conheço inúmeras pessoas que odeiam com toda força -, mas você certamente conhece ao menos um grande hit dos Paralamas do Sucesso.
Hebert Vianna e Bi Ribeiro são amigos de infância, de quando moravam em Brasília. Os dois se mudaram para o Rio de Janeiro no início dos 80 e montaram a banda, primeiro com o baterista Vital Dias, que deixou a banda por não acreditar que dariam certo. Um amigo em comum apresentou a eles um estudioso baterista, que não tinha muita experiencia com bandas, João Barone. O resto é história.
Hebert é um guitarrista fenomenal. Bi Ribeiro é tão excepcional quanto, e um profundo conhecedor de músicas e ritmos caribenhos e africanos. João Barone é uma espécie de nerd da bateria.
Mas o que mais me chama atenção em tudo no Paralamas é o evidente posicionamento político.
Hebert é filho de um renomado militar, o Brigadeiro Hermano Vianna. Seu irmão, Hermano Vianna Jr., é um renomado Sociólogo e Antropólogo, e tornou-se famoso por apoiar a ‘Cena Rock de Brasilia’ e documentar as diferentes matrizes musicais Brasil afora.
Barone também é filho de militar, tendo, inclusive, escrito livros e produzido documentários sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
Dentro desse ambiente – pai militar, irmão sociólogo –, Hebert desenvolveu uma veia artística excelente. Influenciado pelo Ska inglês, o Reggae Jamaicano, o Punk e o Pós Punk, suas composições sempre trouxeram críticas sociais. SEMPRE! A primeira demo tape dos Paralamas tinha uma música chamada “Solidariedade, Não!”, escrita por Hebert em pleno período da Ditadura Militar no Brasil (“Com óculos escuros e medalhas pelo peito/O governante da nação se julga no direito/De tirar de quem trabalha os meios de produção/Tirar de quem pensa a liberdade de expressão”).
Após essa breve introdução, é hora de falar de Selvagem?, terceiro álbum de estúdio do (já GIGANTE) Paralamas do Sucesso, em 1986.
Produzido por Liminha, Selvagem? mostra a banda em seu auge criativo. Tem os hits “Alagados”, “A Novidade”, a faixa título, além de “Melô do Marinheiro” e o cover de Tim Maia, “Você”.
“Alagados”, “Teerã”, “A Novidade”, “Selvagem”, “O Homem”, todas são canções que permeiam as diferenças sociais e fazem críticas severas em forma de poesia. O gigantismo dos (então jovens) Paralamas do Sucesso fez com que a banda convencesse Gilberto Gil a participar do álbum, fazendo backing vocals em “Alagados”, e compondo toda a linda poesia que é “A Novidade”.
Particularmente, acho “Selvagem?” uma música que jamais deixou de ser atual – enquanto tem uma galera que prefere citar “Que Pais É Esse?”, da Legião Urbana; ou ainda “O Tempo Não Pára”, do Cazuza. O riff de guitarra é urgente e magnífico, e emula um Gang Of Four dos mais raivosos, até a entrada do baixo Dub de Bi Ribeiro, que dá uma malemolência ao andamento da música, e a bateria precisa de João Barone completa a pancada e traz a tona a identidade própria dos Paralamas. A letra é um retrato do Brasil que vivo desde 1978, e que infelizmente não mudou absolutamente NADA.
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Selvagem! é a segunda maior vendagem da banda, ficando atrás apenas de Vamo Batê Lata, o álbum ao vivo de 1995. É também o álbum mais regular dos Paralamas, juntamente com o magistral 9 Luas (1996).
Obra prima do Rock Nacional.
INFORMAÇÕES:
LANÇAMENTO: abril de 1986
GRAVADORA: EMI
FAIXAS: 11
TEMPO: 41:24 minutos
PRODUTOR: Liminha
DESTAQUES: “Alagados”, “A Novidade”, “Melô do Marinheiro”, “Selvagem?”
PARA QUEM CURTE: Rock Nacional, Ska, Reggae, Rock de Brasília
CURIOSIDADES: A capa do disco, criada por Ricardo Leite, mostra o irmão do baixista Bi Ribeiro, Pedro Ribeiro, em um acampamento numa área de cerrado em Brasília.
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