Sem medo do barulho, Terraplana mostra solidez em ‘Olhar Pra Trás’


Foto da banda Terraplana para resenha de Olhar Pra Trás
Foto | Eduarda Hipólito

A cada ano, novas bandas brasileiras de Shoegaze tem surgido com a proposta de cantar em português. No ano passado, Gorduratrans, Chama e Turmallina lançaram trabalhos consistentes nessa seara que mistura elementos de Shoegaze, Post-Rock, Noise-Rock e Rock Alternativo noventista, tendo as barulhentas camadas de guitarras e efeitos como elemento base importante em suas composições, e com letras em português. É um caminho que o quarteto paranaense, Terraplana, tem trilhado desde a sua estreia com o surpreendente Exílio, EP lançado em 2017 e que, de pronto, chamou a atenção.

Com Olhar Pra Trás, seu primeiro álbum, agora sob a chancela do selo Balaclava Records, o grupo dá prosseguimento às propostas que nortearam tanto seu EP quanto o single de 2021, uma versão para “Na Sua Estante”, de Pitty: paredes de guitarra noise soterrando os vocais de Stephani e Vinícius, mescladas com passagens de guitarras mais melodiosas, enquanto a cozinha fornece uma base com linhas de baixo profundas e graves e batidas precisas, seja nos momentos mais pesados ou quando a sutileza é reclamada.

Diferente de Exílio, em que a banda fez tudo sozinha e de forma caseira, aqui há a produção de Gustavo Schirmer (Terno Rei, Marrakesh) e o trabalho de mixagem e masterização de Nico Braganholo, que mantém intactas as qualidades que fizeram de Exílio uma ótima carta de apresentação. Ao mesmo tempo, esse novo approach torna tudo mais “cristalino” dentro de um universo musical do grupo.

Cheias de punch, as guitarras rangem, cortam, escalam as alturas, mas permite que as vozes, embora pálidas (quase sufocadas) sejam audíveis. E o mesmo se pode dizer de todos os outros instrumentos. São várias camadas sonoras coexistindo em acordo para criar ambiências totalmente envolventes e efeitos hipnóticos, quase oníricos, como nas texturas etéreas da curtinha e incidental “Um Sonho, Um Fim”, espécie de introdução para “Você”, a faixa mais Post-Rock do disco.

Com um conjunto de canções que primam por arranjos cadenciados, letras mínimas compostas de frases curtas, quase como fragmentos de pensamentos/ideias, que sugerem um diálogo consigo mesmo ou com o outro, Olhar Pra Trás propõe imergir o ouvinte em seu universo interior e nas atmosferas envolventes que constrói. Há uma onda enorme de sentimentos em ebulição: nostalgia, melancolia. Há, principalmente, uma mensagem sobre seguir em frente (apesar do título), como dizem nos versos de abertura do álbum, na ruidosa faixa título ‘Olhar Pra Trás”: “Por que não se joga / Sem olhar pra trás / Sem se preocupar?”, ou em “Me Esquecer”: “Eu quero esquecer / Todos os erros que cometi / Eu quero esquecer / Todas as vezes que me importei”.

+++ Leia a entrevista com Terraplana

Formado por oito canções que não tem medo de se entregar ao barulho, que se completam e quase se fundem, embora cada uma com personalidade própria, Olhar Pra Trás é uma estreia soberba do quarteto formado por Stephani Heuczuk, Vinícius Lourenço, Cassiano Kruchelski e Wendeu Silverio. Um álbum conciso em sua proposta sonora e certeiro em seu repertório de melancólicas e hipnóticas canções barulhentas. E dentro desse conjunto, há que se exaltar a força incrível da ótima “Conversas”, desde já uma das grandes canções de 2023.


Olhar-Pra-Tras-Terraplana-capa

 

 

Ano | Selo: 2023 | Balaclava Records
Faixas | Duração: 08 | 28:24
Produtor: Gustavo Schirmer
Destaques: “Olhar Pra Trás”, “Conversas”, “Cais”
Pode agradar fãs de: Shoegaze, Post-Rock, Noise-Rock, Gorduratrans, Turmallina

 

 

 

 


Previous Johnny Marr avalia sua carreira a partir de coleção de guitarras em 'Marr's Guitars'
Next O adeus ao Kiss, uma das bandas que "formataram" o Rock

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *