A trajetória da banda Paralamas do Sucesso é, sem sombra de dúvida, um dos melhores exemplares para se entender o Rock brasileiro como fenômeno cultural, suas ramificações e desdobramentos.
Com carreira iniciada em 1982, o trio formado por Herbert Vianna (guitarra e voz), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) vem há quatro décadas servindo como exemplo de longevidade e autenticidade artística. Em sua vasta discografia a banda soube explorar diversas texturas indo do Ska ao Reggae, passando pelo Rock, Pop e o Dub para, posteriormente, imergir em sonoridades abrasileiradas com o Forró, o Baião e o Samba. Associações estas que definiriam o que seria boa parte do Rock nacional dos anos 90 em diante. Discos como Selvagem (1986), O Passo do Lui (1984) , o experimental Severino (1994) e Nove Luas (1996) são alguns bons exemplos para se conferir o poderio e versatilidade do grupo.
As performances ao vivo do trio são, desde os primórdios, carregadas de energia em estado bruto. E é por isso que tantos shows e turnês foram registrados fisicamente em áudio e vídeo. Um dos mais bem sucedidos dessa seara é o álbum Vamo Batê Lata (1995) trabalho que alcançou a surpreendente marca de 1 milhão de cópias vendidas. Outro destaque nesse quesito é o Acústico MTV, que por mais que não tenha tido tanto sucesso quantos aos seus contemporâneos de cena, que tambem exploraram esse formato (como o Titãs e o Capital Inicial), capta Os Paralamas em ótima performance, num setlist selecionado a dedo que mescla hits, covers e pérolas numa mesma medida.
Geralmente o grupo é acompanhado por uma exímia banda de apoio que tem entre os integrantes fixos o multi-instrumentista João Fera que contribui, de maneira significativa, na execução de faixas de maior complexidade e beleza.
As conexões latinas, por sua vez, são um capítulo à parte na história da banda, pois o grupo foi quem, de fato, estabeleceu as melhores ligações com nossos países vizinhos.
Além de turnês bem sucedidas em países como Chile, Argentina, Colômbia e Venezuela o trio firmou parcerias de sucesso com artistas como o argentino Fito Páez (na versão “Trac-Trac” do próprio Fito) e regravou canções icônicas de bandas argentinas como o Soda Stereo (“De música ligeira”), Los Pericos (“Lourinha Bombril”, recriação de “Párate y Mira”) e Seru Giran (“Viernes 3AM”). Essa relação, inclusive, rendeu um belo tribulo a banda intitulado Caleidoscópio – Um Tributo Ibero-Americano aos Paralamas do Sucesso, lançado pelo selo do site Scream & Yell.
Liricamente, Herbert é um dos maiores letristas desses país. Soube, como poucos da sua geração, verbalizar o amor, retratar o quotidiano brasileiro e fazer de sua musicalidade um ato de protesto. “Selvagem?”, “O Beco”, “O Calibre” e “Dos Margaritas” são bons exemplos de como o repertório traz diversas analogias pontuais sobre o Brasil, de ontem e de hoje, seguindo dolorosamente atual. A dupla de Bs (Bi e Barone) não ficam atrás e respondem pelo coração sonoro dos Paralamas, numa das melhores “cozinhas” do Pop / Rock.
Como prova do respeito e legado conquistados, Os Paralamas colecionam parcerias de sucesso com artistas Zizi Possi, Djavan, Gilberto Gil, Jorge Mautner, Andreas Kisser (Sepultura), Edgar Scandura (Ira!), Frejat, Black Alien, Nando Reis, Dado Villa-Lobos (Legião Urbana), Brian May (Queen), entre tantas outras.
+++ Leia a crítica do álbum ‘Selvagem’, dos Paralamas do Sucesso
O caminhão de hits presentes em cada disco estão bem representados nas coletâneas da série Arquivo, que é dividida em três volumes, cobrem fases distintas do grupo, servindo como ponto de partida para iniciados neste que é um dos maiores patrimônios do Rock brasileiro / latino-americano.
https://www.youtube.com/watch?v=9S1vPH-Fias
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