Crypta mantém o Death nacional no topo mundial com ‘Echoes of the Soul’


Banda Crypta

Echoes Of The Soul, primorosa estreia da Crypta

O que é sombrio? No Metal Extremo, bandas investem em temas como Ocultismo, Paganismo, demônios, anti-cristianismo (no sentido de contrariedade aos dogmas, não apenas como crítica à eles). Resgatam e invocam demônios e rituais, no intuito de flertar com o maligno!

Para este que vos escreve, porém, sombrio, maligno, pesado e, vá lá, obra-do-cão mesmo é a fome, a miséria, mentira, caos social provocado por desinformação, política vil e por aí vai.

Foi lendo e assistindo aos telejornais nestes últimos, tristes e difíceis, dias, em que o descaso político parece diametralmente pensado no intuito de extinguir um povo nativo do nosso Brasil véio de guerra, que lembrei que nunca falei aqui do Echoes Of The Soul, primorosa estreia da Crypta, de 2021.

Fernanda Lira (baixo e voz) e Luana Dametto (bateria) já tinham um “projeto detão” enquanto integravam a Nervosa. Após a saída da banda Thrash, é óbvio que os esforços seriam direcionados para o projeto Death Metal.

Primeiramente: Echoes Of The Soul une, como poucas bandas no planeta fazem, o Death Metal Old School, com a “evolução” do estilo de bandas como Necrot, Nile ou Blood Incantation. O disco tem peso, velocidade, riffs, sujeira e palhetada de um lado, e mais: melodia, técnica, mudanças de andamento, e de estruturas rítmicas, proporcionadas pelas refinadas técnicas das guitarristas Tainá Bergamaschi e a holandesa Sonia Anubis (que participou da gravação do álbum, mas foi substituída pela estupenda Jéssica di Falchi em maio de 2022).

Lembra do papo do sombrio lá atrás? Aqui tem tudo isso! Desde a arte de Wes Benscoter (que já trabalhou com Slayer, Kreator, Vader, dentre outros), além do sombrio subjetivo, terrorífico e até pagão. Mas tem o sombrio real. O terror verdadeiro. Aquele que provocamos em nós mesmos e na sociedade. E tudo envolto em um som pesado, furioso e tecnicamente muito bem conduzido.

Crypta no Festival Wacken Open Air 2022
Crypta no Festival Wacken Open Air 2022

“Awakening”, uma intro terror-hipnótica, logo dá lugar a uma pedrada. Com riffs por todos os lados e uma bateria que conduz tudo a velocidade de luz. “Starvation” é a música que me veio à mente enquanto eu lia sobre a situação Yanomami na Amazônia. De versos que descrevem a fraqueza humana, a doença que se alastra pela falta de anticorpos e a inanição provocada pela fome, “Starvation” é tão cruel e sombria porque ela relata a verdade.

“Possessed” e “Death Arcana” tem temática transitando entre o paganismo e a sanidade. No som, entregam harmonias de guitarras que condizem com o tema: densas, assombrosas e furiosas. “Shadow Within” é das minhas favoritas no álbum, por tratar de saúde mental. E quem acompanha a banda nos shows e nas redes sociais, sabe o quanto dão valor ao tema. Além disso, tem estrutura de guitarras que daria orgulho aos alemães do Vader.

“Kali” é um espetáculo de riffs Thrash/Death, urros desenfreados, refrão bate-cabeça e uma letra sobre uma divindade hindu. A bateria intrincada, os riffs implacáveis e os vocais ensandecidos fazem dessa uma das melhores faixas do álbum. “Blood Stained Heritage” também remete a colonização dos povos originários e a situação atual, e tem riffs e estruturas que nos fazem olhar para bandas antigas como Death ou Morbid Angel, mas também para o presente. Raivosa e cheia de ódio, “Dark Night Of The Soul” também é um chamamento para a importância da evolução da consciência em prol da sanidade.

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Encerra o álbum a impressionante “From The Ashes”. Um baixo retorcido e mudanças de riffs em frações de segundos, vocais odiosos (o que é aquele berro primal no início?!) e solos por toda parte.

Dessa estreia esperava-se algo bom, dado o histórico musical das instrumentistas, Crypta, porém, entregou uma obra que certamente mantém o Death Metal nacional no mais alto nível mundial.


Capa do álbum Echoes of the Soul, da banda Crypta

 

Ano | Selo: 2021 | Napalm Records
Faixas | Duração: 10 | 41:45
Produtor: Thiago Vakka
Destaques: “Starvation”, “Shadow Within”, “Kali”
Para quem gosta de: Death Metal, Metal Extremo, Necrot, Nile, Blood Incantation

 

 

 


 

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