Difícil de classificar, ‘Tully’ é um filme desconfortável, mas que todos deveriam assistir


Charlize-Theron-em-Tully

A visão que ‘Tully’ passa a respeito da maternidade é tão dolorosamente real que pode até causar desconforto

Toda mãe sabe que ter um recém-nascido no colo é uma das sensações mais maravilhosas do mundo, o que não impede que por este mesmo motivo se sintam esgotadas, exaustas e sem energia. Quase toda mãe, em algum momento, já pensou ser incapaz de cuidar do bebê sozinha. Cabe ao marido e familiares perceberem esse momento delicado e prestarem toda ajuda disponível. As possíveis consequências de uma mãe não encontrar essa ajuda é a espinha dorsal que move todo o filme.

Marlo, interpretada de maneira visceral por Charlize Theron, é mãe de dois filhos pequenos e está às vésperas de dar a luz ao seu terceiro filho. Para esse papel, Charlize Theron engordou 22 quilos e o fato é que sua personagem, sempre exausta e esgotada, é um dos retratos mais realistas da maternidade visto na tela em muitos anos.

O seu marido, Drew, interpretado por Ron Livingston, é um pai que trabalha muito para prover sua família, e que com essa desculpa perfeita não se envolve nos cuidados com as crianças. Prefere se isolar jogando vídeo game nas horas vagas e se mantém compreensivo e passivo em relação a falta de sexo em seu casamento, preferindo não perceber que a sua esposa está a beira de um ataque de nervos.

A visão que o filme passa a respeito da maternidade é tão dolorosamente real que pode até causar desconforto para muitas mães. A constante obrigação de dar mama, as intermináveis noites, os mamilos feridos, o sono quebrado e o sonho de ter uma casa limpa e organizada novamente, sem deixar de lado os dois filhos mais velhos, que também precisam de atenção e cuidados.

Pressentindo o colapso, Craig, o irmão rico da Marlo, se coloca a disposição para pagar uma babá noturna para que ela possa ter de volta suas noites de sono. A princípio a proposta é vista com desconfiança, mas acaba sendo a única alternativa viável para que ela não enlouqueça.

Nesse contexto eis que surge Tully, a babá noturna interpretada pela ótima Mackenzie Phillips. Uma jovem bela e esbelta, que tem todo brilho e energia que falta em Marlo. Enquanto ela se infiltra naquela família de maneira um tanto quanto invasiva, sua extrema liberdade entra em choque com a realidade engessada da vida de Marlo, fazendo com que Tully seja uma personagem fascinante e assustadora ao mesmo tempo.

O roteiro afiado, adulto e muito bem amarrado, escrito por Diablo Cody, premiada com o Oscar pelo roteiro do filme “Juno” (2007), entrega uma história com diálogos e situações memoráveis e que ainda consegue nos surpreender com um plot twist de explodir os neurônios.

+++ Leia a crítica de “Alabama Monroe’, de Felix Van Groeningen 

Dirigido com competência e sensibilidade por Jason Reitman, conhecido também por “Juno”, “Amor sem Escalas” e “Jovens Adultos”, o filme trata de um assunto contemporâneo, polêmico e relevante sem exagerar em momento algum, fazendo com que sua obra, ao invés de cair nas armadilhas dos debates rasos, acabe proporcionando uma rica e importantíssima reflexão para todo casal que já passou, que está passando ou que pretende passar pelo rito da maternidade.


Poster do filme Tully, com Charlize Theron

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Drama, Comédia
Duração: 1h35min
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Diablo Cody
Elenco: Charlize Theron, Mackenzie Davis, Ron Livingston, Asher Miles Fallica e outros.
Lançamento: 24 de maio de 2018 (Brasil)
Censura: 14 anos
IMDB:
Tully

 

 

 


 

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