‘Strap It On” e a influência do Helmet na concepção do metal alternativo


Strap It On, do Helmet

Ainda extasiado e sem encontrar predicados para definir o que exatamente foi o show do Helmet em SP, no último dia 19/11/2022, decidi falar um pouco sobre Strap It On, de 1990.

Lançado pela independente Amphetamine Reptile Records, o álbum teve vendagem modesta, mas chamou atenção da Interscope, selo que era distribuído pela Atlantic Records e relançou o disco em 1992, poucos meses antes da banda lançar Meantime.

Mas voltemos a 90… O então Rock Alternativo acontecia na Costa Oeste Americana, nas cidades próximas de Washington DC. Por lá, apesar das bandas terem suas distinções, de certa forma pareciam beber da fonte “padrão Costa Oeste”, ou seja, os primitivos riffs das bandas de Garage Rock dos anos 60 e 70.

O Helmet, de Nova York – Costa Leste, portanto – chamava atenção pela estridência, urgência, volume e retidão das suas músicas; sem nenhum apelo pop e com afinações de guitarras em “Drop-D” ou Drop-Ré, em que a 6ª corda (a famosa “Mizona”) é afinada em Ré, facilitando os power-chords tão comuns na música pesada. Se lá no Oeste, o Proto Punk inspirava os músicos de Seattle e arredores, aqui o som parecia ser uma fusão de Noise Rock com Heavy Metal e um livro de aritmética! As batidas sincopadas, os riffs interrompidos por micro silêncios, os vocais em alternância agressivo-melódico, tudo era incômodo, perturbador.

E era novo!

Não havia espaço para ganchos pré-refrão. Na urgência, não há tempo a perder.

Helmet
Helmet em 1992: Henry Bogdan, Peter Mengede, Page Hamilton e John Stanier

Strap It On talvez não tenha sido polido como Meantime (92), Betty (94) ou Aftertaste (97), os álbuns da fase inicial da banda, mas é como a penicilina para qualquer antibiótico: base do que viria a ser todo o Metal Alternativo do fim dos anos 90. Aliás, até o visual “comum” da banda, sem a extravagância de rockstars, ditaria também os padrões estéticos.

Em sucintos 30 minutos, iniciados pelas agressivas “Repetition” e “Rude”, ambas de letras minimalistas, concluo que, passados tantos anos ouvindo essa banda, é fácil afirmar que toda estética do Helmet está resumida aí. Mas eles entregariam, ainda, “Bad Mood” (uma espécie de prólogo da clássica “Unsung”) e, possivelmente a melhor música desse álbum, “Sinatra”. “FBLA” também faz ponte com Meantime, quando lá ganhou uma segunda parte. “Make Room” é a mais “Stoner”, ainda que não seja exatamente isso.

+++ Leia o especial sobre os 30 anos de ‘Bricks Are Heavy’, do L7

Strap It On tem uma urgência esquizofrênica que bandas como Sonic YouthJesus Lizard também tem, mas funde isso a guitarras competentes e pesadas, em riffs repetitivos que evocam o Prong (antes das incursões industriais).

Se o Metal Alternativo hoje soa datado, o senso de novidade e urgência do Helmet à época desse Strap It On deixa claro que algum desvio muito errado foi cometido na trajetória do estilo.


Helmet - Strap It On

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

LANÇAMENTO: Março de 1990
GRAVADORA: Amphetamine Reptile Records
FAIXAS: 09
TEMPO: 30:49 minutos
PRODUTOR: Wharton Tiers, Helmet
DESTAQUES:  “Repetition”, “Rude”, “Bad Mood”, “Sinatra”
PARA QUEM CURTE: Prong, Metal Alternativo, Noise Rock, riffs rápidos de guitarra
CURIOSIDADE: Page Hamilton descreveu o disco como: “Hüsker Dü encontra Gang of Four que encontra Wire que encontra o que quer que seja”.

 


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