Little Women , finalmente traduzido como Adoráveis Mulheres, e não Mulherzinhas, é um drama americano de 2019, escrito e dirigido por Greta Gerwig, adaptado do livro de Louisa May Alcott. A escritora conta em sua obra de 1868 a história da família March através da jornada de quatro irmãs, em meio a Guerra Civil dos Estados Unidos: Josephine (Jo), Meg, Beth e Amy. Vale dizer que esse romance foi escrito com inspiração autobiográfica.
Menos de 30 anos após a última adaptação, Adoráveis Mulheres retorna às telas acompanhado de um elenco daqueles: entre os veteranos Bob Odenkirk, Chris Cooper, Laura Dern e Tracy Letts, com a suprema Meryl Streep de coadjuvante, que faz companhia a uma nova e talentosa geração que brilha muito nesse filme! Saoirse Ronan já é uma realidade, uma das melhores dessa geração ao lado da Emma Watson, que, me parece, não tem o cinema como apenas trabalho e sim como expressão de amor, juntamente com o fenômeno Florence Pugh e o furação Eliza Scanlen.
Uma obra literária nunca foi tão lida e elogiada não apenas por jovens mulheres, mas também por críticos exigentes ao longo de diferentes gerações. É possível que isso seja o suficiente para justificar mais uma adaptação cinematográfica da obra, mais especificamente, a oitava.
É certo que Alcott é uma mulher que faz parte do time de gênios literários, uma escritora difícil de alcançar. Alcott, como Jo – a personagem principal – buscou, na vida real, autonomia financeira através da publicação de seus escritos, ainda que escrever por dinheiro não fosse algo bem visto na época. É demonstrada com sensibilidade a forma que essa autora se dividia entre a ânsia de contestar e o desejo de pertencer.
Enquanto a história e os acontecimentos são familiares para quem leu o livro ou assistiu alguma das sete versões anteriores, o novo Adoráveis Mulheres também se distingue em um fator fundamental: a profundidade dada a todas as irmãs March.
As personagens são bem diferentes entre si. Inspiradas em Alcott e em suas três irmãs, essa é apenas uma das muitas coincidências entre a obra e a vida da autora. Isso completa o cenário com um contexto mais rico para as experiências das mulheres que de pequenas nada são. Jo não deixa de ser protagonista e generosamente abre o leque para um entendimento maior das escolhas e vivências das demais personagens femininas, criando o terreno para atuações sensíveis e fortes que retiram o maniqueísmo dos acontecimentos, muito presente em algumas das versões anteriores.
O livro foi considerado uma obra menor em 1860, destinado a jovens mulheres interessadas nas “pequenezas” da vida doméstica. A ironia sofisticada, o senso de humor afiado e a complexidade narrada sobre as tensões socioeconômicas da Inglaterra no início do século 19, passaram batido pelos leitores mais desatentos, que classificaram seus romances como sentimentais.
Nessa versão, Gerwig buscou ir além do sentimentalismo e construir paralelos entre os desafios da infância e da maturidade das Irmãs March, desenvolvendo simetrias das problemáticas da época e dos dias de hoje. A diretora conseguiu, por meio de uma interpretação atenta, pegar o que há de melhor no livro e o atualizar para o século XXI sem remendos anacrônicos.
Alcott e sua protagonista dão voz e verdade àquela “simples menina que escrevia.” Algo incomum para a época, pois além de tudo possuía alma revolucionária. É curioso pensar como a história da mulher na sociedade está atrelada ao moralismo mesmo em diferentes épocas. Até que ponto uma escritora pode ousar sem ofender os “bons costumes”, ou ser inteligente sem se tornar ameaça? Fica a provocação para quem desejar assistir Little Woman.
+++ Leia a crítica de ‘France Ha’, de Greta Gerwig
Pouquíssimas vezes tive o privilégio de assistir um filme tão bom quanto o livro que o inspirou. Se Louisa May Alcott estivesse viva e fosse ao cinema ver a adaptação amorosa de Greta Gerwig, ouso apostar que ela sairia sorrindo feliz e suspirando agradecida da sala de cinema.
FICHA TÉCNICA:
Gênero: Drama, Romance
País: EUA
Duração: 2h15min
Direção: Greta Gerwig
Roteiro: Greta Gerwig, baseado no romance de Louisa May Alcott
Elenco: Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Mery Streep, Laura Dern, Timothée Chalamet, Chris Cooper e outros.
Data de Lançamento: 09 de janeiro de 2020 (Brasil)
Censura: 10 anos
Avaliações: IMDB | Rotten Tomatoes
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