‘A Favorita’ mostra Lanthimos mais contido porém mantendo seu estilo


Cena de Olivia Colman e Rachel Weisz no filme A Favorita

Acanção “Wise Up”, escrita por Aimee Mann para a trilha do filme Magnólia (1999), parece emular perfeitamente o alicerce do enredo de A Favorita. Nele, duas primas disputam vorazmente a preferência da frágil Rainha Anne, na Inglaterra do início do século 18.

O filme, que coleciona dez indicações ao Oscar, é uma comédia de humor negro, ácida e sarcástica, que diverte ao mesmo tempo em que causa nojo. Quem já acompanha o visionário diretor Yorgos Lanthimos sabe que ele não alivia ao retratar o que de pior existe na natureza humana, vide o interessante Dente Canino (2009), ou o ótimo O Lagosta (2015), ou o espetacular O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017).

Porém em A Favorita o cineasta parece estar um pouco mais contido e opta por não chocar tanto, utilizando uma abordagem mais natural e tragicômica que em seus filmes anteriores. Aqui o incômodo vem mais da ambientação, um castelo suntuoso e obscuro, do que do comportamento errático dos que o habitam. Apesar dos cenários belos e gigantes, as câmeras do diretor capturam imagens distorcidas que tornam o castelo em questão um ambiente extremamente claustrofóbico e nocivamente propício para a disputa de poder que está por vir.

A ótima trilha sonora com orquestração pesada e, por vezes propositadamente irritante, contribui para o clima de desconforto. A excelente fotografia em tons amarelados deixa o ar pesado e antigo e os ótimos figurinos, com suas perucas gigantes, compõem a rica cinematografia barroca que permeia todo o filme.

Enquanto a distante guerra com a França é tratada com desdém e despreparo pela rainha, e milhares morrem nos campos de batalha, os políticos e burgueses tramam para que suas vontades desnecessárias e patéticas sejam satisfeitas e fecham os olhos para a sua real missão de servir ao povo. Essa critica social e política obviamente conversa diretamente com a nossa realidade política atual, porém esse discurso acaba ficando em segundo plano em detrimento de uma “guerra” muito mais íntima e deliciosamente divertida. Mérito das três grandes atrizes que personificam a Rainha Anne (Olivia Colman), sua assessora Lady Sarah (Rachel Weisz) e a nova criada Abigail (Emma Stone).

As formas absurdas com as quais Abigail tenta virar o jogo e ocupar o lugar de Lady Sarah, bem como as formas com as quais a Lady Sarah revida as investidas da rival, prendem o interesse do espectador do início ao fim do filme.

+++ Leia a crítica de ‘Green Book: o Guia’, de Peter Farrelly 

A sensação é a de que estamos diante de um jogo em uma final de campeonato, sem regras ou limites, no qual conseguir sobreviver já pode ser considerado uma vitória. Porém, no cinema de Yorgos Lanthimos, os egos falam mais alto do que a ética, a auto degradação justifica os fins e os fins, mesmo que sejam vitoriosos e “felizes”, são cobertos de fardos insuportáveis e do mais puro horror.


Poster do filme "A Favorit", do diretor Yorgos Lanthimos

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Biografia, Comédia, Drama
Duração: 1h59min
Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Deborah Davis, Tony McNamara
Elenco: Olivia Colman, Emma Stone, Rachel Weisz e outros
Data de lançamento: 24 de janeiro de 2019 (Brasil)
Censura: 14 anos
IMDB: A Favorita

 

 

 


 

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