A TÉCNICA FMV
FMV (Full Motion Video) é uma técnica que consiste em trazer um filme pré-gravado para um videogame. Nos jogos, geralmente temos as CG’s que são animações que ocorrem entre as cenas, neste caso, o FMV, funciona como o jogo inteiro, ou seja, o jogador estará diante de um filme interativo onde poderá participar da história realizando alguns eventos como: fazer diversas escolhas, abrir portas ou caixas, ler documentos, investigar ambientes ou mesmo decidir quem vive ou não.
Nos anos 90, os jogos FMV tiveram boa repercussão e garantiram um nicho no mercado de jogos. Acreditava-se até que seriam os jogos dominantes no futuro das plataformas de jogos (o que não se concretizou). Alguns consoles como o 3DO da Panasonic e o Sega CD investiram pesado nesse segmento, mas não duraram muito tempo.
Voltando a moda na década passada com lançamentos esporádicos e se valendo da moderna tecnologia e computação que também invadiu os cinemas, os jogos em FMV voltaram com força e agradando também jogadores mais novos que sequer conheceram a técnica pelos 90’s. The Bunker (2016), da britânica Splendy Games, por exemplo, teve boas vendas. No jogo, assumimos o papel de John, um cara que cresceu dentro de um bunker e que aos poucos vai lembrando os fatos que ocorreram no lugar. O jogador terá que vasculhar todas as salas, ler arquivos e, por meio de flashbacks e ações, chegará ao destino dos habitantes do lugar e saberá o que realmente aconteceu, verdades que chegam como um soco no estômago.
Muitos chamam jogos como esse de live-action. Essa expressão também não está errada uma vez que o jogo usa atores reais e não animados.
QUEM É ERICA?
Da mesma forma, foi a aposta da (também) britânica Flavourworks ao criar o universo de Erica, jogo publicado pela Sony e até agora exclusivo para o PS4. O jogo tenta ao máximo usufruir dos recursos do controle do console como, por exemplo, o TP (Touch Pad). Caso o jogador opte por usar no celular, ele também pode baixar o aplicativo e usufruir no smartphone.
A personagem de Erica é interpretada pela atriz inglesa Holly Earl (Doctor Who e Ordinary Lies).
Nos primeiros e bem intrigantes minutos do jogo, Erica tem lembranças do seu pai, que foi assassinado, e de sua infância. Ao acordar, percebe-se que se trata de mais um pesadelo de Erica. Mas nem tudo passa a ser normal quando a querida protagonista recebe uma bizarra encomenda do correio em sua porta.
Para entender o que está acontecendo, a personagem, junto a um detetive, terá que revirar seu passado, inclusive retornar à instituição onde seu pai era um dos diretores.
Praticamente dentro de um ambiente hostil, Erica terá de confrontar os diretores atuais da instituição, bem como entender a difícil psicologia de outras jovens do lugar. A personagem passa a encontrar segredos ocultos do passado, e começa a entender a vida do seu pai, entrando num universo repleto de ocultismo, mortes e enigmas.
O QUE É BOM E O QUE NÃO É BOM NO JOGO
Erica foi feito para ser jogado dentro de uma hora e meia a duas horas. Praticamente a mesma duração de um filme. Acontece que o jogo tem seis finais diferentes que precisam ser conferidos jogando a história do início ao fim. Não adianta pegar um save de back-up e fazer um final diferente usando determinada parte da história. É nesse ponto que o jogo peca.
As seis histórias para se obter os finais não apresentam tantas mudanças e muitas consistem em variações nos diálogos ou então de quem sobrevive. Depois de tanto repetir as jogadas, o jogador pode se cansar facilmente. Mas esse fato vem sendo bem comum nos jogos atuais de FMV, sempre existe essa repetição da história para outros finais, que geralmente nem são interessantes.
Outro fator ruim é se acostumar logo com os comandos. A princípio, a resposta de algumas ações pode não ser rápida, por sorte o jogo não pune o jogador com mecânicas que exigem velocidade e sequências corretas, como os eventuais QTE’s (Quick Time Events), muito presente em alguns jogos do mercado. Erica faz com que sejamos mais espectadores do que jogadores, leitores atentos, apreciadores de diálogos, então, interessante ler documentos e ver fotos que contam melhor a história, escolher diversas alternativas nos diálogos.
É o tipo de jogo que tem seus momentos marcantes. Em certa cena, a personagem pega um dos discos de vinis de seu pai e então, ao escutá-lo, volta à sua infância e entra numa espécie de êxtase que se associa um sonho (será?), tudo bem tocante.
O jogo a todo instante se faz valer de flashbacks, de lembranças e até dos sentidos da protagonista para colocar o jogador dentro da história e causar o máximo de interatividade. Está mais para um thriller psicológico do que para um terror. Não se faz valer do gore excessivo e nem de sustos fáceis.
+++ Leia a crítica de ‘Call of Cthullu’, da Chaosium
Destaque também para a perfeita trilha sonora (de causar ainda mais impacto em certas cenas) e a fotografia (muitas vezes escura), dignas realmente de um filme bem produzido.
VEREDITO FINAL
Erica se faz valer mais de pontos positivos do que negativos e pode indicar um bom retorno aos jogos da técnica FMV. Melhor que o jogo fosse maior em sua duração e apresentasse mais mistérios do que ter muitos finais, porém é uma sugestão que a empresa pode trabalhar em seus próximos jogos que utilizarem essa técnica. É cada vez mais o jogador dentro da história ditando as regras de como ele quer que tudo termine.
FICHA TÉCNICA:
Desenvolvedor: Flavourworks
Publicado por: Sony Interactive Entertainment Europe
Gêneros: FMV (Full Motion Video), Live-action, Mistério
Tamanho no HD: 40Gb
Duração: entre 9 a 15 horas fazendo todos os finais possíveis
Classificação: 16 anos (violência, drogas, conteúdo sexual)
Preço: R$41,50 (costuma ficar com 80% de desconto)
Plataforma: exclusividade do PlayStation 4
Lançamento: 19 de agosto de 2019
Mais Informações: Erica | IMDB
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