A apatia do lugar onde se vive costuma provocar dois tipos de reações nas pessoas que ali vivem: 1 – tornarem-se apáticas também; 2 – nadar contra a maré, tentando fugir da mesmice. Stuart Moxham (guitarra e teclados), Phillip Moxham (baixo) e Alison Statton (voz) resolveram trilhar o segundo caminho. Inspirados pelo lema punk “Do It Yourself” (faça você mesmo), montaram em 1978 o Young Marble Giants e foram a luta. O nome foi tirado de um livro de arquitetura grega, onde, na descrição da estátua de Kouros, se lia: “…Young marble giants greeted the sailor as he entered the home stretch to Athens”.
O lugar apático em questão é Cardiff, capital do País de Gales, descrito por Stuart como ‘um lugar de apatia imensa’, do qual eles desesperadamente queriam partir, o que parecia impossível por terem vivido todo o tempo lá.
Com a banda montada, o trio começou a se apresentar em sua terra natal, a princípio no The Grass Roots Coffe Bar, localizado no centro de Cardiff, ponto de encontro de jovens que não tinham idade suficiente para freqüentar os pubs. Na primeira apresentação os Giants tocaram para uma única pessoa, e na segunda, pouco tempo depois, para sete gatos pingados. “A maioria das pessoas se retiravam porque nossa música não estava na moda”.
As coisas começaram a mudar quando, em 1979, foram convidados a participar de uma coletânea com bandas locais chamada “Is The War Over? – A Cardiff Compilation”. Além dos Giants, estavam presentes nessa coletânea as bandas: Addiction, Mad Dog, Test to Destruction, Riotous Brothers, Reptile Ranch, The New Form e Beaver. Todas as faixas foram gravadas ao vivo no estúdio Gras Roots, e os Giants contribuíram com as canções: “Searching For Mr. Right” e “Ode to Booker T.”.
A guinada real s[o viria a acontecer quando a Rough Trade, responsável pela distribuição da coletânea, se interessou pelo grupo e ofereceu um contrato àqueles “jovens de Cardiff”. “Estávamos tão desesperados que teríamos assinado qualquer coisa”, diriam tempos depois.
A banda resolveu então que seria interessante lançar não um single ou EP, mas um álbum, já que tinham material suficiente para tal. Então, em 1979, entram no Foel Studios, localizado ao norte do País de Gales, e em menos de quatro dias gravam “Colossal Youth”, primeiro, único e último álbum da banda.
Lançado em fevereiro de 80, em formato vinil pela Rough Trade, “Colossal Youth” é preto por fora, sombrio, com a foto dos três integrantes em preto-e-branco. Por dentro é um passeio tranquilo por quinze canções simples, curtas e calmas, conduzidas pela voz límpida e cativante de Alison.
Como plano de fundo um baixo fazendo marcação ao ritmo de uma rhythm-box, enquanto a guitarra surge em intervenções sonoras dramáticas com riffs esparsos ou, às vezes, trocando de lugar com o baixo. A música é minimalista, cheia de espaços vazios, algumas preenchidas por um órgão/teclado de poucas variações. A despeito disso, “Colossal Youth” é um álbum bonito, sincero, singular, às vezes soando ingênuo. O seu contraponto fica por conta dos vocais ora melancólicos ora sem emoção alguma de Alison, que em alguns casos mais parece recitar do que cantar, tudo isso somado a uma completa falta de uma construção melódica por parte do baixo e guitarra.
“Colossal Youth” teve uma boa repercussão (venderam em pouco tempo cerca de 27.000 cópias sem divulgação alguma) na imprensa musical e lhes rendeu apresentações na Inglaterra (Londres) França e Holanda, e alguns shows nos EUA e no Canadá. O ano de 1980 foi realmente decisivo para o YMG, a banda seguia um ritmo intenso de atividades, mas as coisas começariam a deteriorar após a volta da turnê americana. Antes disso, em maio de 80, gravaram o single “Final Day”, que além da elogiada faixa título, continha uma versão demo de “Colossal Youth” e mais “Radio Silents” e “Cakewalking”. Em agosto, fizeram uma sessão para o programa de John Peel, tocando cinco faixas: “Posed By Models”, “Searching For Mr. Right”, “N.I.T.A.”, “Brand New Life” e “Final Day”. Apresentação essa que somente seria lançada em 1991.
Ainda em 1980, a banda se prepara para a gravação de novas canções, devido a problemas de saúde, Alison não comparece e as músicas ficam inacabadas sem o vocal. Assim, “Testcard” é um EP com seis peças instrumentais a cargo dos irmãos Moxhan, e só viria a ser lançado no início de 1981.
Sobre a turnê americana, teve início em 24 de outubro de 1980, em São Francisco (Califórnia), passou por Berkeley, Palo Alto, Los Angeles, Vancouver, Seattle, Hoboken e finalizou em Nova Iorque, no dia 22 de novembro. Essa última apresentação em solo americano rendeu o vídeo “Live At Hurrah”, lançado em 1994. Em alguns aspectos essa turnê foi desastrosa para a banda. No show de Hoboken, por exemplo, tiveram problemas com a rhythm-box, que foi ligada numa corrente elétrica diferente e ocasionou o mau funcionamento do instrumento durante as apresentações.
As relações internas pioraram, além das tão faladas diferenças musicais. Numa entrevista Stuart chegou a dizer que futuramente pretendia cantar as canções que escrevia, pois as mesmas tinham um componente emocional muito forte para ele, já que falavam basicamente sobre o seu relacionamento. Cantadas na voz de Alison, disse Stuart, as canções perdiam toda carga emocional que ele impunha nos versos.
O fim do YMG aconteceu no início de 81, logo após o lançamento do EP “Testcard”. A banda sempre deixou claro que não ia durar pra sempre, mas convenhamos, a existência foi bastante curta. O que não impediu que o impacto das canções daqueles jovens de Cardiff se propagasse por anos e anos, influenciando bandas e mais bandas. Ao seu modo, escreveram seu nome na história da música pop. Hoje são cult.
Após o fim do Young Marble Giants, Alison formou a banda Weekend, e Stuart, o Gist, ambas sem muito sucesso.
PS: A banda voltou a se reunir em 2007 (me parece), e desde então vem fazendo alguns shows, como pode ser conferido em seu site oficial.
:: DISCOGRAFIA:
– Colossal Youth LP (1980)
– Final Day” 7″ 1981)
– Testcard EP 7″ (1981)
– The Peel Sessions CD EP (1991)
– Salad Days CD coletânea de demos e outtakes (2000)
:: CURIOSIDADES
+ Em 1992, numa lista de Kurt Cobain fez para a Melody Maker com os álbuns que mudaram sua vida, Colossal Youth foi colocado em quinto lugar. Inclusive Cobain comentou que o Nirvana pretendia fazer um cover de “Credit in the Straight World”;
+ Em 1994 o Hole fez cover de “Credit in the Straight World”, no álbum “Live Through This”.
+ Renato Russo (Legião Urbana) era fã da banda, na letra de “L’Age D’Or”, tem uma frase citando os Giants: “Lá vem os jovens gigantes de mármore trazendo anzóis na palma da mão. Não é belo todo e qualquer mistério? O maior segredo é não haver mistério algum”.
+ O Galaxie 500 fez cover de “Final Day”, que só saiu no Box Set da banda e, em 2003, o Belle & Sebastian também fez uma versão da mesma música para uma coletânea de 25 anos da Rough Trade;
+ Stuart Moxhan, produziu o álbum “You Turn Me On”, do Beat Happening, banda com influências do YMG.
Sempre temos algo interessante a (re)descobrir… Matéria bacana!
Valeu, Ângelo. Obrigado pelo comentário. Esteja a vontade, a casa é nossa.