‘Washing Machine’ traz experimentações hipnóticas e inebriantes do Sonic Youth


A identidade primal do SY está nos ruídos. No noise.

Sempre cobrados pelos críticos mais xiitas de que teriam se rendido ao som comercial após terem assinado um contrato com a Geffen (com Goo, de 1990), a banda, porém, já acenava para canções menos experimentais desde Sister (1987), mesmo após terem provavelmente sacramentado o termo No Wave com Daydream Nation (1988).

Faço um adendo para Daydream Nation: é a grande obra prima da banda. A mais perfeita ordem do caos, composto por muito barulho, niilismo Punk, estética torta, guitarras de metal extremo em total desacordo. O próprio caos coordenado, a favor de uma obra perfeita, em que o inaudível se torna palatável.

Quase uma década após Daydream Nation, o Sonic Youth conheceu o mainstream, viveu intensamente o início dos anos 90, com o acontecimento do Rock Alternativo como um movimento musical mundial, e, durante a ressaca do grunge após a morte de Kurt Cobain, a banda faz outro GRANDE trabalho, reinventa sua forma de continuar atonal e entrega um dos melhores álbuns de sua discografia.

Como toda boa banda, haviam perrengues. Lee Ranaldo pouco tinha participado do álbum anterior (Expreimental Jet Set, Trash and No Star, de 1994) e o clima não era dos melhores. Entre um álbum e outro, todo mundo foi tocar outros projetos (Thurston Moore lançou nessa época seu primeiro e ótimo álbum solo, Psychic Hearts). Kim Gordon e Moore tiveram uma filha, tornando o processo de composição mais “caseiro”. Talvez esse clima caseiro tenha transformado as experimentações do Sonic Youth de algo sufocante para algo mais hipnótico, mas tão lânguido e inebriante quanto os mais ‘desarmônicos’ ruídos.

“B

ecuz” e “Junkie’s Promise” enganam com a obviedade, mas nelas estão escondidas essa proposta de Rock mais solto. “Saucer-Like” não espantaria se fosse da época de Daydream Nation, e é a volta de Ranaldo às ótimas composições. A faixa título, de Gordon, tem um contrabaixo atonal, guitarras em contraste, vocais declamados e diverte com o refrão de vocal agressivo de Gordon.

Gordon, aliás, deixa o baixo de lado e empunha guitarra em três canções: “Panty Lies”, “Skip Tracer” e na obra prima de 19:35 minutos, a lindíssima balada “The Diamond Sea”.

Sobre a longa faixa, a banda disse que esse clima “jam” – muito inspirado pela Crazy Horse, aliás – foi recriminado pela gravadora, e que as músicas haviam sido editadas. A oitava música não está creditada na capa, mas tem o título “Becuz Coda”, e foi propositalmente limada de “Becuz” a pedido da gravadora. Anos depois, em 2006, a banda lançaria The Destroyed Room, um álbum de B-sides, em que “The Diamond Sea” aparece em sua versão não editada, com seus extasiantes 25:49 minutos!

+++ Leia sobre ‘Daydream Nation’, do Sonic Youth, na coluna Clássicos

A capa de Washing Machine se tornou tão icônica quanto a de Goo, ou Daydream Nation. Trata-se de uma polaroid feita por Gordon de fãs da banda, comprando merchandise num festival. As cabeças dos fãs foram cortadas, para não precisarem pagar direitos de imagem.


Capa de Washing Machine, do Sonic Youth

INFORMAÇÕES:

LANÇAMENTO: 26 de setembro de 1995
GRAVADORA: Geffen Records
FAIXAS: 11
TEMPO:  68:17 minutos
PRODUTOR: Sonic Youth, John Siket
DESTAQUES:  “Saucer-Like”, “Little Trouble Girl”, “The Diamond Sea”
PARA QUEM CURTE: Noise, No Wave, Guitar Bands, Pavement
CURIOSIDADES: O disco tem participação especial de Kim Deal, que faz vocais adicionais na faixa “Little Trouble Girl” | O álbum traz a música mais longa já composta pelo Sonic Youth, “The Diamond Sea”


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