Dirigido por Todd Haynes, ‘Segredos de um Escândalo’ mostra um triângulo em que uma atriz se aproxima de uma mulher envolvida em um escândalo para interpretá-la
Durante os primeiros minutos de Segredos de um Escândalo (May December), é quase impossível não lembrar de Persona (1966), obra de Ingmar Bergman. Porém, não somos apresentados a algo exatamente igual, mesmo que parta do mesmo princípio. Se em Persona, Bergman demora para revelar que Elizabeth, a atriz, silenciosamente analisa/copia a mulher que compartilha seus segredos com ela, Todd Haynes objetiva esse interesse em Segredos de Um Escândalo. Desde o início, sabemos que uma atriz vai conviver com uma mulher a qual interpretará em um filme, esta última cujo segredo se tornou um caso midiático extremamente conhecido.
Se Bergman utiliza da análise/reprodução de uma pessoa para evocar diversos temas, Haynes tem um trabalho que parece mais interessado justamente no controle da narrativa, da imagem vendida. Nesse ponto, temos uma atriz que tem como objetivo descobrir a verdade verdadeira (com base em seus achismos e desejos) para que possa atuar com mais veracidade, fidelidade ao verdadeiro acontecimento. E também somos apresentados a uma mulher que terá sua vida contada nos cinemas, mas não quer expor a verdade, assim, ela precisa continuar controlando sua versão da história, o personagem que criou para a mídia.
A essa altura, não é necessário dizer que Elizabeth (Natalie Portman) e Gracie (Julianne Moore) são espertas o suficiente para adotarem uma posição passiva-agressiva mútua. Elizabeth tenta se aproximar com empatia e simpatia para tirar algo de Gracie, e Gracie vende uma imagem extremamente superficial e insegura de si em troca. Porém, nessa caçada onde as duas se apresentam como predadoras que, para o azar de ambas, vão se retroalimentando a cada ato, há também uma presa fácil em potencial. Essa figura é Joe (Charles Melton), o jovem marido de Gracie que, aos 36 anos e prestes a mandar os filhos para a faculdade, se demonstra infeliz.
É interessante que nesse triângulo, Haynes faz de Joe o único que se comporta como uma pessoa normal. Quando ele está sozinho, o filme diminui o tom satírico, as atuações caricatas e até mesmo a trilha sonora, muito presente para descartar os problemas de uma maneira um tanto cômica, somem. Mesmo que pareça constantemente jogado para escanteio, se vende como um cara que não tem importância na dinâmica entre Elizabeth e Gracie (o mesmo revela isso), ele é a figura central dessa história, pois tê-lo significa ter o controle da história, da verdade ou da alteração dela.
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Se tudo é uma questão sobre a extração ou ocultação da verdade, Haynes revela a versão mais próxima do escândalo, mesmo que ela surja de uma forma totalmente acanhada entre a versão romântica de Gracie e a interpretação sexual de Elizabeth que criam essa confortável e convidativa artificialidade da narrativa. No final das contas, Haynes parece olhar para Hollywood, para as mídias de fofoca e para o próprio consumo: Constantemente mudamos a história para torná-la mais cômoda para nós mesmos, mais vendável ou menos cruel. Superficialidade vende, tragédia nem tanto.
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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:
TÍTULO ORIGINAL: May December
ANO: 2023
GÊNERO: Drama, Comédia
PAÍS: EUA
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 1:57 h
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
DIREÇÃO: Todd Haynes
ROTEIRO: Samy Burch e Alex Mechanik
ELENCO: Natalie Portman, Chris Tenzis, Charles Melton, Julianne Moore e outros
AVALIAÇÕES: IMDB
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