‘O Farol’ é uma espiral ascendente de loucura sobre dois homens em completo isolamento


Cena do filme O Farol

“Há quanto tempo estamos nesta rocha? Cinco semanas? Dois dias? Onde nós estamos?

Ajude-me a lembrar” Thomas Wake

 

Em 1890, Thomas Wake, um velho operador de farol, vivido pelo extraordinário ator Willem Dafoe, recebe em “sua” ilha o jovem ajudante Ephraim Winslow, vivido pelo cada vez melhor ator Robert Pattinson. Ephraim logo percebe que a convivência com o amargurado Thomas será o pior desafio de sua vida. Isolados por uma violenta tempestade e com os sentidos sempre alterados devido a constante embriaguez, ambos vão enlouquecendo em meio ao trabalho árduo, presságios ruins, alucinações perturbadoras envolvendo criaturas marinhas, e explosivos conflitos que vão se tornando cada vez mais inevitáveis entre os dois.

A personalidade marcante do diretor Robert Eggers, já tão evidente em seu excelente primeiro longa-metragem, transborda e afeta seu segundo trabalho, tanto positiva quanto negativamente. O diretor optou por filmar em preto e branco e num aspecto de imagem praticamente quadrado. A impressão é que ele tentou reproduzir filmes do Expressionismo Alemão como o imprescindível Nosferatu (1922). Outra marca do diretor é que seus personagens falam e se expressam com o linguajar usual da época em que a história se passa, o que acaba rendendo diálogos sempre muito curiosos e estranhos.

Toda a ambientação é sufocante e claustrofóbica. A iluminação é meticulosamente opressora e as imagens em conjunto com uma mixagem de som fantástica, traduzem todo o desolamento e a degradação física e psicológica dos personagens.

Baseado em uma tragédia real acontecida em 1801 que resultou na morte e no enlouquecimento de dois homens durante uma tempestade num farol, o filme acaba abarcando também um enorme número de referências cinematográficas e literárias.

Se em A Bruxa (2015), o diretor e roteirista Robert Eggers impôs sua personalidade, estilo e ritmo de maneira a beirar o ineditismo, aqui ele parece querer escancarar suas diversas influências, que vão desde o já citado Expressionismo Alemão até Os Pássaros (1963), de Alfred Hitchcock, passando pelo livro O Iluminado (1977), de Stephen King, e por contos clássicos de Ficção e Horror, como O Chamado do Cthulu (1928), do mestre H.P. Lovecraft.

Somado a tudo isso, Eggers ainda sugere temas espinhosos como uma subentendida tensão sexual reprimida entre os protagonistas, brinca com símbolos fálicos espalhados pela misteriosa ilha, e outras metáforas sexuais mais óbvias como a relação possessiva do velho Thomas Wake com o calor da luz emitida pelo farol.

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Embora o filme cause forte impacto imagético e provoque tensão e incômodo, sua excessiva busca por referências culturais diversas acaba tirando o peso e a relevância final da obra. Uma colcha de retalhos com alguns trechos bem costurados e que acaba resultando num filme irregular, que abusa de simbolismos e licenças poéticas deliciosamente bizarras.


 FICHA TÉCNICA:

Gênero: Drama, Fantasia, Horror
País: Canadá/EUA
Duração: 1h49min
Direção: Robert Eggers
Roteiro: Robert Eggers, Max Eggers
Elenco:  Robert Pattinson, Willem Dafoe, Valeria Karaman e outros.
Data de Lançamento: 02 de janeiro de 2020 (Brasil
Censura: 16 anos
Avaliações: IMDB | Rotten Tomatoes

 


 

 

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