Em algum momento de sua história como ouvinte de música, você, sem se dar conta até, já se deparou com as batidas da Rhytmn Composer TR-808, caixa de ritmos criada pela empresa japonesa Roland na década de 80 e que se tornaria ao longo das décadas equipamento essencial para uma diversidade de gêneros musicais, principalmente, mas não apenas, aqueles ligados à música eletrônica.
Dentre as várias gratas surpresas do essencial documentário 808 – The Heart of the Beat That Changed Music (2015) [LINK AO FINAL], de Alexander Dunn, é descobrir que até mesmo astros da música Pop se renderam às batidas sintetizadas da popularmente conhecida 808 ou “eight o eight” (como é chamada em inglês).
Criada em 1980 para servir de acompanhamento a músicos sem bateristas ou que desejavam fazer suas gravações caseiras (ou demos), a TR-808 viria a se tornar peça central na criação de canções de uma infinidade de artistas e no trabalho de produtores ao redor do planeta. Sua fama e importância viria a adquirir proporções gigantescas a partir da cena musical nova-iorquina.
Foi graças a sua utilização pelo DJ Africa Bambaataa na faixa “Planet Rock” que o equipamento iria nascer de fato, ou renascer, se assim preferir. Lançada em 1982, a canção varreu como uma avalanche a cena musical da época, fazendo enorme sucesso nos clubes e boates de todo o mundo. Muitos consideram que foi o momento em que nasceu o Hip-Hop.
Ao unir o ritmo contagiante das batidas da TR-808 com samples da melodia gélida da canção “Trans-Europe Express”, do Kraftwerk e os vocais de Rap de seu grupo de vocalistas, Bambaataa, em parceria com os produtores Tom Silverman, Arthur Baker e John Robbie, deu início a uma revolução sem precedentes e que redefiniria a música dos anos 80, com a caixa de ritmos japonesa assumindo papel central nesse movimento. O som poderoso das batidas passa a ser protagonista, à frente dos outros instrumentos.
No documentário, Bambaataa explica, por exemplo, que fundiu Kraftwerk com James Brown, Sly and the Family Stone, e os combos de George Clinton (Parliament/Funkadelic) para criar o Electro-Funk.
Através de um minucioso trabalho de pesquisa histórica e enriquecido por entrevistas de músicos, produtores e jornalistas, num esforço que durou cerca de três anos, 808 narra o surgimento de gêneros diversos dentro da música eletrônica. Ao buscarem novas maneiras de utilizarem as batidas possíveis na TR-808, principalmente as partes mais graves, e combinarem de forma original com outros elementos, músicos e produtores deram início a gêneros como o Freestyle, Acid House, Miami Bass, Jungle/Drum & Bass, Techno, EDM, Dubstep, Crunk, Trap e outros.
São pouco mais de noventa minutos de duração de um filme com ritmo fluído e dinâmico, que utiliza uma série de recursos gráficos para enriquecer e tornam atraente a narrativa. Um deles é destacar faixas citadas pelos entrevistados e emblemáticas no uso da TR-808 e ir transformando cada uma delas em uma espécie de disco que é colocado dentro de uma capa estilizada.
A rápida citação do uso da TR-808 a gêneros musicais fora da música eletrônica, se resume especificamente ao Pop de Phil Collins, um dos entrevistados e entusiasta do equipamento, e ao sucesso alcançado por Marvin Gaye com “Sexual Healing”.
O foco de Dunn é avançar através de estilos, lugares (Nova Iorque, Chicago, Detroit, Miami, Itália, India, Manchester) e tempo (dos 80 aos dias atuais) para entender e mostrar como a história da música eletrônica está intimamente ligada a 808. E antes de retornar para seu lugar de origem, lançar a pergunta: Será que eles sabem o tamanho da importância da TR-808 para a música eletrônica?
O personagem do início de tudo, inclusive do filme, retorna ao final. Um idoso Ikutaro Kakehashi, o “Mr.K”, não responde ao questionamento, mas revela algo realmente incrível sobre a TR-808 que a torna distinta: o uso de um transistor defeituoso.
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Foi essa peça específica que permitiu criar a sonoridade única da revolucionária caixa de som, com seu “ruído crepitante” (nas palavras de seu criador). Algo que só foi possível por alguns anos (entre 1980 e 1983). A produção foi descontinuada, e foram feitas apenas de cerca de 12.000 unidades da TR-808.
CURIOSIDADES:
>> O nome da banda inglesa 808 State é uma homenagem a Tr-808 |
>> Em 2020, em comemoração aos 40 anos de lançamento da caixa de ritmos, a Roland lançou um documentário chamado ‘Building the Beat: Inside Legendary Roland TR-808 Tracks’, com exatos 8:08 de duração.
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