Drama acreano, ‘Noites Alienígenas’ explora a perigosa relação entre tráfico e violência


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Em uma pesquisa realizada em 2009, o estado do Acre foi o estado com o segundo maior volume de apreensões de drogas no Brasil. A situação, segundo estudiosos, foi intensificada devido à localização geográfica do estado que, além de fazer fronteira com Bolívia e Peru, países emergentes em produção de cocaína, possui quantidade abundante de rios e ramais que facilitam a entrada das substâncias. Com a entrada do tráfico, o estado do Acre, sobretudo, a capital Rio Branco, foi modificada. Hoje, Rio Branco concentra a maior parte dos assassinatos do Estado, situação que é ligada ao tráfico de drogas e formação de facções que recrutam, principalmente, jovens acreanos.

É exatamente esse momento drástico do estado do Acre que Noites Alienígenas busca retratar. Ambientado em uma periferia de Rio Branco, o filme dirigido por Sérgio de Carvalho, conta a história de três amigos de infância que, com a chegada de facções criminosas do Sudeste, estão, de alguma maneira, ligados/sujeitos a criminalidade. Com tal objetivo, há um interesse genuíno em compor essa história abrigando um maior número de vozes. Dessa maneira, o filme é montado de forma linear, mas privilegia que cada parte da história ganhe uma perspectiva distinta. O filme vai, portanto, da visão do jovem que trafica ao usuário desesperado, das mães preocupadas aos traficantes de maior domínio e poder territorial.

O grande material de Noites Alienígenas, no entanto, não é bem aproveitado. O filme, além de ter dificuldade em aprofundar seus personagens, não consegue interligá-los com efetividade com as condições de ser jovem e pobre em Rio Branco. O longa, dessa maneira, acaba sugerindo que estamos assistindo a um caso isolado, um evento raro. Essa impressão é potencializada quando o filme tira ainda mais o foco do problema e volta sua câmera e minutos valiosos para cenas que não agregam à narrativa. É compreensível que o Forró, as batalhas de Rap, a presença de igrejas neopentecostais e religião indígena sejam modos de resistência, mas essa conclusão é feita pelo próprio espectador e não pelo filme que oferece uma montagem bastante problemática no sentido de dar algum significado a tais imagens.

Se por um lado o filme trilha perdidamente por sua própria história, o experiente Chico Dias e o novato Gabriel Knoxx desempenham papéis que concentram olhares, nos mantém atentos, ao menos, em seus arcos. Enquanto Dias oferece uma naturalidade para lidar com seus clientes, Knoxx tem uma performance mais explosiva, com grandes momentos que revelam o talento do jovem ator.

+++ Leia a crítica de ‘Mato Seco em Chamas’, de Joana Pimenta, Adirley Queirós 

Noites Alienígenas deixa o sentimento de que poderia ter sido algo grande pela qualidade de seu material base. Entretanto, ainda assim é um filme que merece ser apreciado, pelo seu olhar e pela sua visibilidade para uma história que até pode ser encontrada em qualquer periferia do Brasil, mas que, pela primeira vez, deu luz ao problema no Acre.

Poster de Noites Alienígenas

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: Noites Alienígenas
ANO: 2022
GÊNERO: Drama
PAÍS: Brasil
IDIOMA: Português
DURAÇÃO: 1:31h
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
DIREÇÃO: Sérgio Carvalho
ROTEIRO: Camilo Cavalcanti, Rodolfo Minari, Sérgio de Carvalho
ELENCO: Chica Arara, Gleici Damasceno, Duace, Chico Díaz, Joana Gatis, Gabriel Knoxx  e outros
AVALIAÇÕES: IMDB | Rotten Tomatoes

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