‘O Escolhido’ aborda assuntos polêmicos com rascunho de roteiro


Cena da série "O Escolhido", do canal Netflix

Baseada numa série mexicana chamada Niño Santo, O Escolhido (2019), disponível no catálogo da Netflix, consegue trazer dois lados de uma moeda. Ao mesmo tempo que continua seguindo o fluxo do bom crescimento do Cinema Brasileiro, capaz de realizar ótimas produções nos últimos anos (algumas dignas de premiações mundo afora), não engrena o bastante, e desacelera o ritmo depois de um primeiro episódio instigante.

Lúcia (Paloma Bernardi), Damião (Pedro Caetano) e Enzo (Gutto Szuster) são três médicos enviados para uma região isolada do Pantanal, a fictícia Águazul, com o intuito de vacinar a população do local contra o vírus da Zika. Os problemas começam a surgir quando o trio se depara com caminhos bloqueados e com a hostilidade da população que não aceita a medicina em sua região.

A vila segue fielmente as ordens de um líder religioso chamado de O Escolhido (Renan Tenca). O personagem, claro, não aparece a princípio e o telespectador primeiro irá compartilhar o drama dos médicos perante a teimosia dos habitantes. Então, haverá todo um dilema entre a determinação dos médicos e a confiança prepotente dos moradores em nunca ficarem doentes e não precisarem da Medicina.

Num clima de suspense, o roteiro nos prepara para o primeiro questionamento da série: a dicotomia Ciência e Fé. E faz isso usando de bons recursos: uma vila remota afastada de tudo e cercada de uma floresta com seus segredos e carregada de mistérios (existe até certa semelhança com a ilha de Lost), além de uma população desligada do mundo ao seu redor, inclusive de vacinas, resignada a obedecer apenas ao seu grande líder.

Quando chega o momento do verdadeiro confronto entre os médicos e o Escolhido é que a série se perde um pouco. Em meio a tensos conflitos com direito a surgimento de mais envolvidos no mistério, a trama torna-se complicada e fica presa em alguns diálogos desnecessários e que não engrenam tanto na evolução da trama.

Cada um dos três médicos tem seus flashbacks contados ao longo da série revelando os problemas por quais passaram. Claro, por conta disso, entram temáticas comumente apresentadas no cinema: machismo e fanatismo religioso (Lúcia), racismo (Damião) e ter um cargo alto apenas por status e prepotência (Enzo). Tais cenas não chegam a trazer carga dramática excessiva e funcionam como um momento melancólico em meio a cenas de ação ou suspense. Da mesma forma, outros personagens terão seus passados revelados, o que também não engrena bastante na trama e parecem encaixadas apenas para dar mais duração a alguns episódios.

A tensão aumenta quando a os médicos descobrem algo ainda maior, o que desafia ainda mais a Medicina que eles aprenderam a praticar. A resistente saúde dos moradores passa então a atiçar a curiosidade dos médicos. Seria um embuste? Truque? Ou realmente o líder, o tal escolhido tem o poder sobre a vila? Obstinados a sair da região, nossos queridos médicos acabam passando por momentos que o jogam ainda mais no mistério do lugar e dos habitantes.

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Com seis episódios, O Escolhido não se estende muito. Melhor assim. Termina deixando mais perguntas e pronto a receber uma segunda temporada. É uma série com defeitos, porém é digna de ser acompanhada quando pensamos que esse território envolvendo Religião, Fé, Ciência e Medicina ainda não é completamente explorado dentro dos padrões brasileiros (e continua causando muita polêmica). Também é louvável uma trama que fuja mais das metrópoles e dos centros urbanos brasileiros partindo para regiões mais afastadas/remotas investigando toda uma cultura e as lendas locais. Pode não ser memorável, mas pode servir de inspiração para futuras tramas dentro do cinema brasileiro que almeja decolar.


FICHA TÉCNICA:

Temáticas: Dicotomia ciência/fé, misticismo, sobrenatural, fanatismo religioso
Emissora: Netflix
Temporadas: 1 até agora
Episódios totais: 6 (cada um com tempo entre 45 a 50 minutos aproximadamente)
Direção: Raphael Draccon e Carolina Munhóz
Elenco: Paloma Bernardi, Pedro Caetano, Gutto Szuster, Renan Tenca, Mariano Mattos Martins, Ali Willow, outros
Censura: 16 anos
IMDB: O Escolhido


 

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