O álbum “Acorda Amor” é uma belíssima ode a resistência cultural


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Qual o papel que a música ocupa no seu cotidiano? Acredito que as respostas podem (e devem) ser múltiplas. Afinal, o papel que a mesma ocupa na vida de cada um de nós é totalmente subjetivo, variando conforme nossos humores e / ou interesses.

Minha relação com ela vem desde a infância, por influência direta dos meus pais, que preencheram os meus dias com doses cavalares de Rock, Pop, Brega, Samba, Sertanejo e MPB.

Tamanha diversidade fez com que hoje eu veja a música sob vários vieses e consiga transitar entre gêneros dispares com naturalidade. Porém, nos últimos tempo uma vertente tem sido a minha força motriz diária: a música socialmente engajada.

Não consigo dizer em que momento ou qual teria sido o artista responsável pelo o meu despertar para questões políticas, mas a importância a essa pauta tem, a mais de uma década, orientado meus interesses e pesquisas musicais.

Nesse sentido, a música brasileira é riquíssima de exemplos de canções e artistas cujos interesses líricos residem em não só querer denunciar duras realidades, mas também mudá-las através da arte e o seu poder mobilizador. Nessa seara um dos meus trabalhos prediletos é o projeto “Acorda Amor”. Título que, aliás, faz alusão a uma faixa de mesmo nome de Chico Buarque presente no álbum Sinal Fechado (1974)

Lançado em 2020, o disco reúne um time diversificado de cantoras como Letrux, Liniker, Xênia França, Maria Gadú e Luedji Luna cuja nobre (e audaciosa) missão foi repaginar clássicas canções de protesto do nosso cancioneiro popular.

Passeando entre estilos musicais, a obra promove justas homenagens a um time amplo de artistas como Rita Lee (“Saúde”), Originais do Samba (“Não adianta”), Belchior (“Sujeito de Sorte”), Di Melo (“A vida e seus Métodos diz Calma”), Gilberto Gil(“Extra”), Caetano Veloso (“O quereres”), Jorge Mautner “Cinco Bombas Atômicas”), Lô Borges (“Nuvem Cigana”), Leci Brandão (“Assumindo”), Trio Mocotó (“Não Adianta”), Gonzaguinha (“Comportamento Geral”), Erasmo Carlos (“Gente aberta”), Franscisco, El Hombre (“Triste, Louca ou Má”), Claudia (“Deixa eu Dizer”) e Beth Carvalho (“Chorando pela Natureza”). E o faz com ares de grandeza, em versões carregadas de pessoalidade que desconstroem os arranjos originais imprimindo ares de revitalização e modernidade.

O disco, composto por 18 faixas, foi produzido por Décio 7 (do Bixiga 70), contou com a direção artística Roberta Martinelli e é um dos melhores expoentes da nossa música recente quando o assunto é resistência cultural.

Infelizmente o projeto, que iria percorrer diversas capitais brasileiras, foi inviabilizado em virtude da pandemia, tornando-se um sonho distante devido à dificuldade de conciliar a agenda de todas as envolvidas.

Em tempos tempestuosos como os nossos sempre o ouço quando quero manter viva em mim a chama da esperança de novos tempos, mas ciente de que novos ares só se materializam através da luta diária. Então não nos resta mais nada além de acordamos, tal como Edgar (no spoken word “Sem preguiça para fazer revolução”) nos incita na faixa final do disco.


 

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