Pensamento inicial: “The Boys é mais uma série de heróis!”. Errado!
The Boys é uma série sobre pessoas com poderes, algumas assumindo postura de herói, mas por debaixo do pano são corrompidos, corruptores, amorais, imorais e sem ética alguma, e são assim justamente por serem… heróis.
QUEM VIGIA OS VIGILANTES?
A suposta posição “superior” do super-herói, com ou sem capa/máscara, já havia sido colocada em xeque de forma brilhante por Alan Moore lá na década de 80, na sua ótima graphic novel Watchmen: “Quem vigia os Vigilantes?”, questionava do escritor inglês.
A ideia de Moore era de que os supostos super-heróis, pessoas dotadas de algum poder acima da maioria das outras pessoas, não necessariamente estão dispostos praticar o “bem”, questionando até que ponto seria possível confiar neles, afinal, como meros seres humanos estão passíveis de falhas, logo perigosos.
A série The Boys, baseada nos quadrinhos criados por Garth Ennis e Darick Robertson e lançada entre 2006 e 2012, explora justamente o lado anti-herói que pode estar presente nos heróis, a ausência de limites quando se tem poder e o quanto isso se torna mais exacerbado quanto maior o poder.
OS 7 E A LIGA DA JUSTIÇA
A sociedade americana está repleta de pessoas com poderes diversos. O sonho de todos que possuem algum poder é fazer parte do grupo de heróis denominados “Os 7”, não apenas combatentes do crime e supostos preservadores da ordem, mas verdadeiras celebridades.
O grupo é gerenciado e patrocinado pela empresa Vought, administrada por Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue excelente!), que utiliza os poderes do grupo como vigilantes, mas muito mais como garotos propaganda, através de estratégias de marketing bem elaboradas para torna-los populares e alavancar as vendas de produtos diversos: bonecos, shampoos, alimentos, etc, inclusive com uso maciço das redes sociais.
Quase todos os “heróis” dos 7 foram inspirados nos personagens da Liga da Justiça, da DC Comics, incluindo a característica dos poderes. Os 7 são: Capitão Pátria (voa, tem visão de Raio-X, e outros poderes), Profundo (comunica-se com os animais marinhos), Rainha Maeve (super força, principalmente nos pulsos), Trem-Bala (super velocidade), Translúcido (poder da invisibilidade) e Black Noir (artes marciais).
Os 7, assim como quase todos que possuem algum poder, é um grupo de pessoas cínicas, desonestas e cruéis. Em dado momento o pensamento é: quem precisa de heróis como esses?
THE BOYS AND THE GIRL
O mote para que a história comece a andar é a morte da namorada de Hughie Campbell, de forma acidental, por um dos heróis dos 7. A cena é um dos momentos mais impactantes da série e dá mostras já nos minutos iniciais do primeiro episódio o quão sanguinolenta será.
Entre o desnorteamento da perda e o desejo de vingança, Hughie conhece Billy Butcher (traduzido de forma imprecisa como Bruto), e depois desse encontro, a vida do pacato e sagaz funcionário da loja de eletrônicos dá uma guinada total.
Billy é o tipo curto e grosso, é um personagem cheio de mistérios e tem ódio mortal por heróis, principalmente “Os 7”. Hughie e Billy são os precursores dos The Boys, que logo ganha novos “sócios”, incluindo uma garota com um passado misterioso. Hughie quer vingança, Billy conhece o submundo dos heróis e quer desmascará-los, mais adiante descobrimos que quer algo mais também. Hughie e Billy são a antítese no lado dos “mocinhos”, e apesar dos problemas, a química dos dois funciona de forma interessante.
Enquanto Billy, Hughie e seus companheiros lutam para mostrar para a sociedade a verdadeira face dos heróis e da Vought, “Os 7” logo percebem que estão sendo caçados e resolvem revidar, e combater super-heróis sem ter poderes não é tarefa fácil . Esse jogo de gato e rato, faz lembrar de A Caçada (Hunters), outra série da Amazon Prime já resenhada aqui.
O ANTI-HERÓI E A HEROÍNA
Essa primeira temporada foca em alguns personagens, Capitão Pátria (Homelander) é um deles. É o herói mais poderoso de todos, quase um deus, representa o orgulho da nação: patriota e altamente religioso. Ele lidera o grupo dos 7 e, aparentemente, é o mais correto dos heróis, na verdade um sociopata inescrupuloso, hipócrita, capaz dos atos mais cruéis para levar adiante os seus planos e os da empresa, que nem sempre se coadunam. Matar não é problema para ele.
Em contraponto, Luz-Estrela (Starlight) é uma jovem do interior criada pela mãe que tem o sonho (assim como muitos) de fazer parte da famosa equipe dos 7. Ela é a personagem que traz alguma dignidade e esperança para as figuras sombrias dos super-heróis retratados na série, já que encarna o idealismo, o desejo de fazer o certo e ajudar as pessoas sem medir esforços.
CONCLUSÃO
Ao pegar ideias do mundo dos heróis da DC (Liga da Justiça) e da Marvel (X-Men), e apresentar super-heróis mais preocupados em se dar bem e aparecer, quase anti-heróis, The Boys consegue trazer uma narrativa interessante e personagens marcantes, numa série que foge em muito aos padrões das séries de heróis.
Os efeitos especiais são muito bons e convincentes e a trama consegue prender desde o primeiro episódio, com momentos de humor negro. E o final, como não poderia deixar de ser, surpreende, choca e deixa o gancho para a segunda temporada.
E apesar da temática, o roteiro não se furta de falar de questões como manipulação das pessoas pela mídia, hipocrisia de líderes religiosos, abuso sexual e estupro, sexo antes do casamento, busca pela celebridade a qualquer preço e, principalmente, sobre esperança.
+++ Leia a crítica ‘Hunters’, no Prime Video
PS: Embora a série pegue pesado no linguajar, na violência e em momentos bem repugnantes, pelo que pude ver em imagens, os quadrinhos são mais barra pesada ainda, dando a entender que a série, apesar de tudo, deu uma suavizada no conteúdo.
FICHA TÉCNICA:
Temáticas: Ação, Super-Herói, Crime
Emissora (EUA): Amazon Prime
Censura: 18 anos
Temporadas: 1
Episódios: 08 (tempo aproximado de 60 minutos cada)
Criadores da série: Eric Kripke, Evan Goldberg, Seth Rogen e outros | Baseada nos quadrinhos de Garth Ennis e Darick Robertson
Diretores: Philip Sgriccia (2), Daniel Attias, Eric Kripke, Jennifer Phang, Stefan Schwartz, Matt Shakman, Frederick E.O. Toye e Dan Trachtenberg
Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr, Elisabeth Shue, Erin Moriarty, Jessie T. Usher e outros.
Avaliações: IMDB | Rotten Tomatoes
No Comment