Rede de Ódio é um thriller e drama polonês dirigido por Jan Komasa, diretor que foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional por Corpus Christi (2019). O novo longa tem atraído atenção devido a temática perturbadora e sombria relacionada ao uso da internet, tendo sido premiado no Festival de Cinema de Tribeca.
A narrativa acompanha Tomasz (Maciej Musaloswski), estudante de Direito recém expulso da universidade por plagio. O rapaz nutre um sentimento de obsessão pela jovem Gabi (Vanessa Aleksander) e sua família progressista de classe alta.
Tomasz começa a trabalhar para uma empresa de relações públicas que desenvolve conteúdos falsos, e espalha ódio online, atacando personalidades famosas, celebridades da internet e políticos. Algo que era para ser apenas mais uma tarefa, acaba absorvendo o jovem por inteiro e revelando seu comportamento sociopata. Assim, ele passa a usar suas habilidades e ferramentas colocadas a sua disposição para perseguir, assediar, manipular e, por fim controlar a família de Gabi.
Jan Komasa entrega um longa perturbador, sombrio e complexo sobre a personalidade de uma pessoa na vida real e a construção de uma suposta sensação de felicidade vivida no mundo digital. Tomasz é refém do passado, e suas frustrações moldam suas vontades mais obscuras. Ele anseia por poder e sucesso, e se mostra alguém completamente diferente do que é na verdade. Isso faz com que, contagiado pelo ódio e intolerância da internet, ele se sinta em casa nesse mundo cruel de maldades e comportamentos banais.
A trama é abastecida e movida pelo comportamento narcisista e sociopata de Tomasz. É possível esquadrinhar a mudança de espirito que vai encorpando o personagem no decorrer do filme. Se no início ele era um simples e desajustado estudante de Direito, do segundo ato adiante podemos acompanhar a mudança comportamental, um Tomasz totalmente fora de controle e sem limites.
Isso fica mais evidente com seu envolvimento com a campanha do candidato a prefeito Pawel Rudnick (Maciej Stuhr). A manipulação de Tomasz é tão convincente que Pawel logo passa a criar uma relação de confiança com o jovem rapaz. Tomasz se beneficia dessa confiança e começa a fazer um jogo de assédio, manipulações e interesses políticos, com a imagem de Pawel sendo veiculada em perfis falsos pelas redes sociais.
Outro aspecto relevante no filme é como Tomasz usa o chat de um game de violência para persuadir e manipular uma pessoa com tendências a cometer atos de terrorismo, o que levará ao desfecho tenebroso e impactante na cena final. O longa traça um paralelo entre um episódio ocorrido na vida real, Pawel Adamowicz prefeito liberal de Gdansk, no norte da Polônia foi esfaqueado durante um evento de caridade natalina, fato ocorrido em 13 de janeiro de 2019.
Apesar de ser uma obra fictícia, seu contexto e temática abstruso condizem com a realidade e atualidade: fake news, intolerância política e a fragilidade de uma vida perfeita nas redes sociais. São características que vão fazendo do longa-metragem um impactante thriller a cada passo maquiavélico elaborado por Tomasz.
A abordagem feita pelo diretor pode ser algo alinhado à realidade da Polônia, do Brasil e, até mesmo dos Estados Unidos e de outros países do mundo que são vítimas dos ataques virtuais, que contam com grupos especializados em destruir a reputação ou até mesmo usar isso para interesse político. Assim, o filme cresce e se apoia no dualismo decorrente em suas ações. Isso gera o famoso efeito dominó episódico e assombroso.
As características técnicas também são pontos positivos no filme. O diretor faz uso abusivos de janelas com contornos de luz e enquadramentos que enaltecem a complexidade e suspense envolvente do thriller. A trilha sonora também se faz pontual e certeira, ajuda o espectador a compreender as intenções e o panorama do jovem com suas ações frias, calculistas e manipuladoras. São detalhes e fatores que conseguem prender a atenção do público até o final do filme.
+++ Leia a crítica de ‘Estranhos em Casa’, de
Em resumo, Rede de Ódio trata das redes sociais e, o poder da internet e, o que ela pode ocasionar quando é utilizada para o mal. Podendo ser usada literalmente como uma arma para disseminar violência generalizada, ódio e notícias falsas. Um antagonismo sobre a mentira e escapar da culpa. Uma linha tênue que divide o idôneo do inautêntico. Uma alerta sobre campanhas de desinformações e o tremendo perigo no qual a sociedade se meteu. Quantos Tomasz não devem existir por aí? A ênfase do filme é mostrar com precisão e de maneira autêntica e verdadeira o poder destrutivo de comunidades radicais da internet.
FICHA TÉCNICA:
Título Original | Ano: Sala samobójców. Hejter (The Hater) | 2020
Gênero: Drama, Thriller
País: Polônia
Duração: 2h15min
Direção: Jan Komasa
Roteiro: Mateusz Pacewicz
Elenco: Maciej Musialowski, Vanessa Aleksander, Danuta Stenka, Jacek Koman, Agata Kulesza, Maciej Stuhr e outros
Data de lançamento: 29 de julho de 2020 (Brasil)
Censura: 18 anos
Avaliações: IMDB | Rotten Tomatoes
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