Mudhoney traz sonoridade abrangente e segue politizado em ‘Plastic Eternity’


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Mudhoney | Crédito: Emily Rieman

Representante do lado mais “irreverente e divertido” da cena que emergiu em Seattle no início dos anos 90, o Mudhoney engrossa a tênue fileira de bandas sobreviventes do Rock Alternativo norte-americano dos anos 80 e 90. Junto com os Pixies e Dinosaur Jr. (e Pearl Jam, claro), a banda capitaneada pelo vocalista e guitarrista Mark Arm é das poucas que seguem fazendo shows, gravando álbuns e mantendo a consistência em seus trabalhos e não apenas se embrulhando em “glórias passadas”. Isso pode ser conferido em Plastic Eternity, seu décimo primeiro álbum de estúdio.

Com uma regularidade quinquenal desde The Lucky Ones (2008), o novo trabalho mantém intactas as qualidades inerentes à sonoridade do grupo – aquela velha mistura de Rock de garagem, Punk e pitadas de Hardcore e Hard Rock -, exploradas com a competência já conhecida por quem acompanha a trajetória do grupo (mas trazendo sempre novos atrativos), vide os bons antecessores Vanishing Point (2013) e Digital Garbage (2018).

Essa mistura do “velho Mudhoney” com o Mudhoney que deseja não apenas reeditar o passado segue presente em seu novo disco em que, novamente, deve ser ressaltado o trabalho de timbres e efeitos utilizados pelo guitarrista Steve Turner – “Souvenir of My Trip”, por exemplo, tem o inusitado uso inusitado do pedal, popularizado por guitarristas como Tom Morello. E o disco é adornado com a adição de elementos percussivos (na ótima “Almost Everythng”) e teclas – o que só enriquece os novos arranjos. Mas mantém aquele Mudhoney sujo e esporrento de sempre em faixas como “Move Under” e “Here Comes the Flood”.

Pela primeira vez na história da banda, o trabalho de composição não ficou a cargo de Arm. Turner e mais o baixista Guy Maddison e o baterista Dan Peters tomaram a frente nas composições. Também pela primeira vez o grupo conta com colaboração externa, o produtor Johnny Sangster, que contribuiu nas faixas “Almost Everything”, “One or Two” e “Cry Me an Atmospheric River”.

Arm segue direcionando seus versos para mazelas dos tempos atuais, aqui para falar das ameaças ao meio ambiente, representadas pela produção gigantesca de plástico  jogado de forma irresponsável na natureza, a “eternidade plástica” do título do álbum. “Montanhas de plástico, mares de plástico / Rios de plástico, campos de plástico / Pele de plástico, cabeça de plástico / Coração de plástico, morte de plástico”, berra o vocalista na incisiva “Plasticity”, que norteia o discurso pró meio ambiente presente em algumas canções.

Ela se junta a também contundente “Cry Me an Atmospheric River” para lembrar o quão curta é a existência humana ante a grandeza do planeta e do universo: “Estarei sempre aqui, aquecendo e esfriando / Não importa para mim o que aconteça com os humanos”. A faixa tem uma progressão de acordes que incomum para a música do Mudhoney, remete a Smashing Pumpkins. Ainda no quesito “Mudhoney diferente”, “One or Two”, composição de Guy, mostra uma nova faceta do grupo, com toques acústicos e sonoridade clean; ou o acento Surf Music/Rockabilly de “Cascades of Crap”.

Observador e crítico mordaz, em “Human Stock Capital” – que tem pegada Hardcore e um solo sob efeito de fuzz que mais parece um falante estourado, típico dos anos 60 – Arm utiliza uma frase dita por um conselheiro econômico do governo Trump, durante a Pandemia, sobre o estoque de capital humano nos Estados Unidos estar forte. “Tom Herman’s Hermit” é uma homenagem ao guitarrista Tom Herman, da banda Pere Ubu: “Ei, ei, Tom Herman, onde você está agora?…Eu penso em você o tempo todo”.

Isso comprova que nem só de discurso político ou ambiental se constitui Plastic Eternity. Já no final do disco, Arm fala sobre seu amor pelo seu cão, na derradeira “Little Dogs”: “Nesses tempos de dificuldade, eu amo um cachorrinho”, grita Arm. O vocalista afirmou não ter nada contra os cães grandes, mas prefere os cães menores. A canção traz de volta o lado irreverente do grupo, que pode ser conferido também no videoclipe repleto de cãezinhos.

+++ Leia a entrevista de Mark Arm (Mudhoney), para o Urge!

O provável paradoxo entre esse lado de letras politizadas e algo que pode ser considerado irrelevante, atesta a maturidade de Arm em entender as vicissitudes da existência. Colocar esses temas lado a lado é a forma encontrada para salientar que a nossa vida é , na verdade, uma montanha russa de sentimentos, preocupações e descontrações e que, necessariamente, ambiguidade não é sinônimo de divergência.

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2023
GRAVADORA: Sub Pop
FAIXAS: 13
DURAÇÃO: 42:06 min
PRODUTOR: Johnny Sangster
DESTAQUES: “Souvenir of My Trip”, “Move Under”, “Cascades of Crap” e “Plasticity”
PARA FÃS DE: Rock Alternativo, Rock de garagem

 

 

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