Com cenário pós-apocalíptico, em ‘Caixa de Passáros’ a visão é um inimigo


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Há um bom tempo que não se via tanta propaganda acerca de um filme, sobretudo na cidade onde resido. Não apenas na televisão ou em redes sociais, Caixa de Pássaros recebeu massiva divulgação com direito a inúmeras imagens estampadas em outdoors e murais de pontos de ônibus espalhados. A bem da verdade, o filme é uma das apostas da Netflix para 2018. Criou-se uma enorme expectativa, o desejo era de se lançar um dos grandes e inesquecíveis filmes do ano. E tinha tudo para ser um dos trunfos da Netflix, mas acaba não sendo. Longe também, claro, de ser um fracasso. Mas a aposta não vingou.

Começando pela ficha técnica, parecia bem possível. Um elenco de peso, com Sandra Bullock e John Malkovich (ganhadores de Oscar). Um filme baseado num best-seller famoso. A direção de Susanne Brier, conhecida por dirigir ‘Hævnen’ (2011), produção que arrebatou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011. Não tinha como não ficar curioso. E ainda tendo a trilha sonora com colaboração de Trent Reznor (Nine Inch Nails), responsável por trilhas de A Rede Social, Garota Exemplar e Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres. Além disso, o filme é belo visualmente, desde as imagens iniciais no extenso rio pelo qual a protagonista passa, chegando a arquitetura da mansão na qual sobreviventes ficam presos sem contato com o mundo exterior. Tudo indicava que não teria como dar errado. Será?

Novamente, é outro filme onde certos sentidos funcionam contra os próprios humanos. Lembrando instantaneamente do interessante Um Lugar Silencioso (2018) onde a fala e os sons precisam cessar por conta de que as criaturas inimigas são atraídas por eles. Aqui as pessoas devem fechar os olhos, caso mantenham a visão, são praticamente hipnotizados por uma força estranha e, dessa forma, cometem suicídio ou atrocidades.

Por conta disso as vendas nos olhos e as casas e carros com janelas pintadas passam a virar rotina na vida de alguns sobreviventes. Não há preocupação em mostrar os seres que causam isso, tudo é visto como uma ligeira ventania e sombra escura que muda a pessoa que a vê (o espectador verá apenas os olhos vitrificados da vítima e ela praticando o suicídio).

Por não revelar o perigo tão abertamente, por vezes, acaba sendo mais perigoso o próprio ser humano do que o causador da origem do caos. O egoísmo, a raiva, a desconfiança e mesmo ajudar quem ficou sem abrigo são tarefas complicadas.

Claro que novamente pesa no roteiro a questão da própria personalidade humana em momentos de tensão ou da proximidade de fim do mundo/apocalipse. Grupos se dividem. Chegar a um acordo é quase impossível. Racionamento de comida é complicado. E é nessa hora que o filme ganha uma parte bem tensa, como na cena em que o grupo precisa decidir quem vai ao mercado abandonado procurar por mais suprimentos.

O longa se sustenta por dois momentos que são intercalados durante sua duração: cinco anos após o começo dos suicídios, com alguns sobreviventes descendo um rio tentando encontrar um lugar mais seguro para viver; e as cenas em flashback, mostrando como os eventos começaram e o início do caos, com alguns humanos ainda não afetados fugindo e se escondendo, tentando assimilar o que estava acontecendo. E se arrasta entre esses dois tempos. Algumas cenas até poderiam ser excluídas.

Alguns humanos passam a perseguir outros, pois exigem como obrigação a não utilização da venda nos olhos, o que não é muito bem explicado e aproveitado, afinal por que eles não foram afetados? Talvez seja para gerar mais tensão e grupos rivais. Outro lado ruim é que as ‘criaturas’ (ou a criatura?) não causa resistência para quem não a vê, então, nem a cena na floresta que poderia ser a mais impactante da película e gerar temor no espectador se torna previsível, um dèjá-vu, e se sabe como será esse final (mesmo para quem não leu nada do livro). A passagem pela corredeira do rio também é morna e acaba não gerando tanto impacto na trama, quando deveria. Nesse sentido, a primeira parte do filme é melhor e a que incita mais a curiosidade do espectador.

+++ Leia a crítica de ‘Um Lugar Silencioso’, de John Krasisnski

Com algumas cenas memoráveis, e outras que se arrastam e são dispensáveis, num filme que é possível prever o final e que não cumpre toda a divulgação que fez, “Bird Box” é mediano. Existem outras opções melhores, mais interessantes para os fãs desse gênero e que são igualmente fáceis de encontrar como o citado “Um Lugar Silencioso” (2018) e “A Estrada” (2009). De qualquer forma, o filme estrelado por Sandra Bullock, mesmo que não tenha compensado todo o hype, é mais uma exploração do ambiente pós-apocalíptico, da sobrevivência humana e de que até nossos sentidos podem se virar contra nós.


FICHA TÉCNICA:

Gênero: Suspense pós-apocalíptico
Duração: 2h04min
Direção: Susanne Bier
Roteiro: Eric Heisserer
Produtores: Chris Morgan, Barbara Muschietti e outros
Baseado no: Livro homônimo de Josh Malerman de 2014
Elenco: Sandra Bullock, Trevante Rhodes, Jacki Weaver, Sarah Paulson, John Malkovich e outros
Data de lançamento: 21 de dezembro de 2018
Censura: 16 anos
Distribuição: Netflix
IMDB: Bird Box
Rotten Tomatoes: Bird Box


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