‘Um Lugar Silencioso’ aposta em um dos personagens mais assustadores: o silêncio


Já vimos inúmeros filmes de suspense, terror ou crime no qual, em determinado momento da ação, a sobrevivência depende do silêncio de alguém tentando evitar ser encontrado pelo serial killer, monstro, zumbi, dinossauro, etc. A diferença entre todos esses e ‘Um Lugar Silencioso’ é que dessa vez o silêncio que mantêm os personagens vivos não precisa e deve ser feito apenas em alguns momentos, mas sim durante o filme inteiro.

Esse mero detalhe é capaz de elevar a tensão tão absurdamente a ponto de fazer com que o público acompanhe o filme fazendo um silêncio antes inimaginável para quem já está acostumado à falta de educação das plateias brasileiras, com suas piadinhas fora de hora, gritos, conversas paralelas e barulhos de toda ordem, principalmente em filmes desse gênero.

Importante salientar que esse “fenômeno” foi percebido também nas salas de cinema pelo mundo inteiro. Até a pipoca é mastigada com cuidado para não fazer barulho algum, tamanha a imersão que o filme provoca.

É impossível não fazer paralelos e traçar metáforas com o mundo real. Afinal, podemos até “gritar” contanto que ninguém nos ouça. O novo fascismo está aí. As ditaduras, os regimes totalitaristas, a falta de liberdade de expressão; a falta de representatividade que cala a voz de milhares de pessoas todos os dias no mundo inteiro encontra seu espelho nesse filme. E mesmo sendo um espelho não abertamente declarado, a forte mensagem subliminar permeia toda a projeção.

Escrito e dirigido pelo talentoso ator John Krasinski, o filme já começa nos colocando no meio da ação, sem dar a menor explicação prévia e, aos poucos, através de pequenas pistas e recortes de jornal, vamos entendendo o que aconteceu com o mundo. Só sabemos que há algum tempo atrás uma espécie de catástrofe assolou a humanidade e que os poucos sobreviventes precisam viver mergulhados em total silêncio, pois o menor ruído é capaz de atrair imediatamente coisas que matam em uma velocidade impressionante.

Essa falta de explicação nada mais é do que um recurso narrativo extremamente bem-vindo nos dias de hoje, pois não subestima a inteligência da plateia, e mesmo sem verbalizar explicações em diálogos desnecessários, até mesmo porque o barulho da voz pode ser fatal, o filme nos mostra o necessário para entendermos as regras de sobrevivência nessa realidade opressora.

Em um dos momentos mais inspirados e poéticos do filme, um pai leva o filho para caçar e o convida a ficar numa gruta atrás de uma cachoeira extremamente barulhenta, nesse momento pai e filho começam a berrar como loucos aproveitando um pouco a sensação de liberdade, pois sabem que o ruído deles será abafado pelo som muito mais alto da cachoeira.

+++ Leia a crítica de ‘O Sacrifício de Cervo Sagrado’, de Yorgos Lanthimos

Não poderia deixar de citar alguns aspectos que fazem de ‘Um Lugar Silencioso’ uma experiência bem acima da média, como a atuação visceral da Emily Blunt, responsável por um dos momentos mais desesperadores da história do cinema. O design de som é espetacular, capaz de nos mostrar que existem vários tipos de silêncio. E não poderia deixar de citar também a direção precisa de Krasinski, que coloca o espectador numa sensação de “montanha russa” constante, apresentando um filme simples, direto e que entrega exatamente aquilo que promete: medo!


FICHA TÉCNICA:

Gênero: Drama, Horror, Sci-Fi
Duração: 1h30min
Direção: John Krasinski
Elenco: Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds e outros.
Roteiro: Bryan Woods, Scott Beck, John Krasinski
Lançamento: 05 de abril de 2018 (Brasil)
Censura: 12 anos
IMDB: Um Lugar Silencioso

 

 

 

 


 

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