Com ‘Vingadores – Ultimato’, Marvel encerra a saga mais grandiosa que o Cinema deste século já viu


Em 2014, um pouco antes do lançamento do insosso Vingadores: Era de Ultron (2015), recebemos com certa frieza e desconfiança a divulgação de que o último filme da trilogia dos Vingadores seria dividido em duas partes, na época intitulados de Vingadores: Guerra Infinita: Parte I e Parte II. Naquele momento a notícia não despertou muitas expectativas, afinal os filmes de super-heróis já estavam dando sinais de desgaste. A fórmula Marvel de produzir blockbusters parecia estar fadada a repetições que fatalmente levariam o estúdio a produzir apenas caça-níqueis cada vez menos relevantes. Ledo engano!

Desde então, salvo raras exceções, a Marvel passou a investir em diretores e roteiristas com personalidade suficiente para desafiar ao máximo a sua velha fórmula e com criatividade e coragem suficientes para romper paradigmas e assim “brincar” com esse extenso universo compartilhado, incrementando valor cinematográfico e significado as suas diversas produções, tornando-as novamente atraentes, tanto para os fãs mais exigentes quanto para o grande público.

Filmados durante oito meses consecutivos, Vingadores: Guerra Infinita (2018) e Vingadores: Ultimato (2019) contam com a direção brilhante dos irmãos Russo, os mesmos que dirigiram os ótimos Capitão América: O Soldado Invernal (2014) e Capitão América: Guerra Civil (2016). Não poderia haver escolha melhor para capitanear estes filmes que representam a parte final de uma saga que já conta com vinte e dois filmes produzidos ao longo de onze anos, pois é perceptível a paixão dos diretores pelo material, o conhecimento profundo dos roteiristas sobre cada personagem do MCU e toda a dedicação e controle envolvido nesse projeto grandioso.

Vingadores: Ultimato começa exatamente onde termina “Guerra Infinita”, ou seja, logo após o vilão Thanos conseguir eliminar metade da vida no universo em seu plano controverso para acabar de vez com as desigualdades, com a fome e com as guerras. Desde a primeira cena, testemunhamos o desespero, o clima fúnebre, a desorientação e o desolamento da metade que sobreviveu. Além disso, acompanhamos intimamente os efeitos devastadores da culpa e do peso do fracasso a consumirem nossos heróis de maneiras diversas.

Como não temos intenção nenhuma de dar spoilers aqui, ainda no primeiro ato acontece algo totalmente inesperado, que pode ser considerado uma espécie de anticlímax, capaz de quebrar com as mais diversas hipóteses que os fãs da franquia haviam conjecturado sobre como a situação toda seria revertida.

Nesse momento, a narrativa do segundo ato surpreendentemente desacelera ao mesmo tempo em que ganha uma força descomunal pois o peso do drama envolvendo a falta de esperança e como cada um vai lidar com aquilo é extremamente bem construída, remetendo inclusive ao que foi feito na excelente série da HBO, The Leftovers.

Assim como na citada série, na qual milhares de pessoas somem em um segundo, a direção opta por acompanhar a catástrofe não pelo prisma geral, mas pelos olhos dos protagonistas, em um tom tão intimista que acaba acrescentando novas camadas aos mesmos. Todos são tocados, modificados e desconstruídos da maneira mais emotiva possível, fazendo com que o público reconheça e consequentemente se identifique com o que de mais humano existe nesses seres “diferenciados”.

Já na segunda metade do filme, o roteiro inteligente e a edição extremamente certeira revisitam vários momentos icônicos desses onze anos do MCU. Afinal nossos heróis decidem se apegar ao menor fio de esperança e partem em busca de respostas num esforço intricado de ativação de memória afetiva capaz de levar os fãs ao delírio, porém de uma maneira honesta e que sirva para alavancar a história. Ao mesmo tempo em que presta uma digna homenagem à própria Marvel.

Essa opção por aproximar humanamente o público de seus heróis contribui muito para um terceiro ato grandiloquente e apoteótico, afinal tudo no filme é construído para que a plateia faça um investimento emocional muito intenso neste momento.

Emoções a parte, infelizmente o filme apresenta alguns problemas em sua estrutura lógica. Algumas regras são estabelecidas para logo em seguida serem quebradas conforme a necessidade da narrativa. Outro problema é o uso de muletas e facilidades pouco ou mal explicadas, que abusam da suspensão de descrença do público. Obviamente estamos falando de uma fantasia, porém se faz necessário que as regras estabelecidas nessa fantasia sejam cumpridas sob pena do público entender que foi trapaceado. São problemas menores diante de toda a evolução e qualidade alcançada.

+++ Leia a crítica de ‘Vingadores: Guerra Infinita’

Ao concluir ou ressignificar a saga dos primeiros Vingadores: Homem de Ferro, Capitão América, Viúva Negra, Thor, Gavião Arqueiro e Hulk, a Marvel diz adeus ao passado ao mesmo tempo em que abre caminho para uma nova e promissora fase nos cinemas, além de entregar um dos melhores e mais épicos filmes desse gênero tão amado e que a própria Marvel ajudou a revitalizar.


Cartaz do filme "Vingadores: Ultimato", da Marvel

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Duração: 3:01 min
Direção: Anthony Russo e Joe Russo
Roteiro:  Christopher Markus, Stephen McFeely (Roteiro baseado nos personagens criados por Stan Lee e Jack Kirby)
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Don Cheadle, Danai Gurira, Chadwick Boseman e outros
Data de Lançamento: 25 de abril de 2019 (Brasil)
Censura: 12 anos
IMDB: Vingadores: Ultimato

 


 

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