PAPISA – FENDA (2019)



“Papisa é um trabalho que dialoga com a espiritualidade do ouvinte dentro de um dream-pop coeso.”

O mundo da música vai lançando suas pessoas inquietas. A cantora, produtora e compositora paulistana Rita Oliva é uma delas. A artista já fez parte de bandas como Cabana Café e Parati, a partir de 2016 começou a trabalhar em sua carreira solo. No estúdio de seu quarto e usando o nome Papisa, a cantora praticamente tocou todos os instrumentos para seu disco de estreia como guitarra, bateria, violão, baixo, programação e piano Rhodes (os músicos adicionais podem ser conferidos no site da Bandcamp no campo ‘Mais informações’ logo abaixo).

A presença do instrumental é bem notada no álbum com uma sonoridade que transita entre o dream-pop, o indie-rock e a própria música brasileira. Entretanto, também destacam-se as letras que geram no ouvinte um desejo de reparar em cada frase, muitas vezes com efeito e que tratam da existência, do nosso interior e da relação vida/morte.

Para a produção do disco, Rita, ainda abalada, pensou muito na morte de seu avô, o que refletiu bastante na forma de compor. De modo idêntico, o entrosamento com os aspectos ritualísticos e místicos (comuns em seus shows e vídeos) acaba influenciando nos temas e letras de suas canções.

A cantora é capaz de apresentar momentos furiosos onde aumentar o tom de voz e acrescentar mais peso para a guitarra torna-se necessário (“Terra”), bem como se deixa levar por faixas mais contemplativas e serenas com guitarras dedilhadas servindo de guia para sua verve poética (“Retrato Infinito”). A aproximação com a Tropicália em “Fenda” e reminiscências da clássica MPB de “Espelho” refletem uma artista com o olhar na sonoridade do presente sem deixar as raízes da música de seu país de lado. O pop açucarado de “Roda” não faz feio e a voz de Rita atinge um estado altíssimo de cândura.

Um álbum de estreia ganha muito quando o/a artista deixa transparecer traços típicos de sua personalidade, quando faz questão de equilibrar letras e instrumental e se leva ao desafio de caminhar por horizontes sonoros distintos faixa a faixa. Papisa almeja isso e, por enquanto, o projeto musical de Rita revela sutileza, afinidade com a música e valorização da poesia. Fenda é o tipo de disco de não tão fácil acesso, e que, apesar de curto e com poucas faixas, demanda de atentas e variadas observações do ouvinte. Fato até louvável nos dias atuais.

NOTA: 7,6


NOTA DOS REDATORES:
Eduardo Juliano:
Isaac Lima:
Luciano Ferreira:

MÉDIA: 7,6


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::FAIXAS:
01. Moiras
02. A Velha
03. Terra
04. Fenda
05. Retrato Infinito
06. Nigrado
07. Semente
08. Roda
09. Espelho
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::Mais Informações: Bandcamp/Facebook


::Ouça “A Velha”:

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