“Curto e eficiente, novo álbum da Band of Holy Joy é surpreendente”
Tudo está conectado. Você já deve ter ouvido essa frase antes, não é minha. Ela está aqui apenas para ratificar uma certeza que às vezes não parece tão clara. Também para fazer a ligação de dois momentos distintos no espaço/tempo, mas unidos por um nome: Band of Holy Joy, banda londrina novata para alguns, mas que segue na labuta há quase quatro décadas, e que acaba de lançar o surpreendente Neon Primitives. Volte trinta anos atrás e encontre Manic, Magic, Majestic (1989), lançado em vinil pela Stiletto, fecha-se a conexão.
A BOHJ já passou por formações e gravadoras diversas ao longo das décadas, atualmente um sexteto, seguem tendo à frente o catalisador/vocalista Johny Brown, sediados na gravadora Tiny Global Productions, por onde lançaram seus últimos trabalhos, o EP Brutalism Begins At Home (uma variação do título do álbum Barbarism Begins At Home, dos Smiths) e o álbum Funambulist We Love You, ambos de 2017.
O estilo folclórico, teatral, meio circense, com doses de música de Cabaret, uma das marcas registradas do grupo nos idos anos 80, a ojeriza pela guitarra, em prol de metais, cordas, acordeon, gaita, viola e outros instrumentos pouco convencionais, já vai longe. A abertura é com a vigorosa “Lost In the Night” que assusta ao ponto de fazer franzir a testa e se questionar se realmente estamos ouvindo aquela mesma banda de outrora.
A sequência com a poderosa (uma das melhores canções do ano) “The Devil Has A Hold On The Land”, ao melhor estilo The Fall de ser, segue “confundindo”. Na letra, Brown chama a atenção dos responsáveis por uma série de males que assolam a sociedade: “Estamos razoavelmente bem ajustados a uma sociedade profundamente doente agora”. A verve política de Brown já segue aflorada desde o álbum de 2017, onde dirigiu versos pesados para o Brexit, Trump e a sociedade britânica e mundial que parecem adoecidas.
Neon Primitives é um álbum curto, com pouco mais de trinta minutos, e nesse tempo dá seu recado de forma eficiente, seja quando a banda envereda por um caminho mais baladeiro com a ode à tristeza de “So Sad”, trazendo o questionamento: “Why Do I Feel So Sad?” (Por que eu me sinto tão triste?), seja quando retoma o tom da crítica em outra das melhores do disco, “Ecstasy Snowbirds” (Vivíamos em um mundo dividido, vivíamos como pássaros da neve desde o começo, vivíamos em um mundo distante…Isolamento, nossa arte solitária”.
O teclado, às vezes com tom dramático, tem papel primordial ao longo de muitas canções. Ele dá essa conotação meio fantasmagórica em “The Devil Has a Hold on the Land”, “Some People Have Winged Fortune” e “Urban Pagans”, irmã direta da primeira citada. O baixo também surge de forma bem pronunciada e dá certa aura que aproxima a música banda do Pós-Punk (Stuart Moxham da banda Young Marble Giants foi o responsável pela masterização do álbum).
O grupo segue pelo lado do inclassificável, teimosos em não se filiarem a movimentos que vem e vão, um dos charmes de sua música, cuja a capacidade de fazer arranjos que insistem em se entortar, mostrar uma faceta desconexa para quem busca o lugar não comum, seja justamente seu ponto maior de atração. Na dúvida, preste atenção no fechamento com a atordoante “We Are Sailing To The Island Of Light”.
:: NOTA: 7,8
NOTA DOS REDATORES:
EDUARDO SALVALAIO: –
ISAAC LIMA: –
EDUARDO JULIANO: –
MÉDIA: 7,8
:: FAIXAS:
01. Lost In The Night
02. The Devil Has A Hold On The Land
03. So Sad
04. Ecstasy Snowbirds
05. Take Heed Calumniators
06. Some People Have Winged Fortune
07. Urban Pagans
08. Electric Pilgrims
09. We Are Sailing To The Island Of Light
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POST WAR GLAMOUR GIRLS – Swan Songs (2017)
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