TANTÃO E OS FITA – Drama (2019)


Foto Tantão e os Fita para resenha do álbum "Drama"

“Para acabar com o drama dos que reclamam da falta de vida inteligente na música brasileira atual”

Totalmente contra o pensamento de algumas pessoas que teimam em dizer que a música nacional não anda bem e sofre de marasmo, “Drama” rema contra essa maré e chega como uma resposta criativa, interessante e ousada, apesar de não ser tão facilmente digerida. Carlos Antônio Mattos, o Tantão, é uma figura experiente e já bem conhecida, sobretudo dos cariocas. Ele foi o responsável pelo Black Future, que lá em 1988 balançou as estruturas da música brasileira com o disco “Eu Sou o Rio”. Naquela época então, uma sonoridade que muitos rotularam como pós-punk-samba-apocalíptico. Com a reunião de mais dois músicos, Cainã Bomilcar e Abel Duarte, que cuidam das partes dos arranjos e da produção, Tantão e Os Fita é a nova experiência musical dessa figura que desde os 80’s tinha muitas ideias por expressar e que estava apenas começando a mostrar seu potencial.

Em 2017, quando o disco “Espectro” apareceu na Bandcamp, o próprio site não soube decifrar os gêneros do álbum e colocou diversos rótulos: experimental, canção torta, free punk, improviso e até maximalismo sombrio. Isso é bem verdade, e ‘Drama’ parece chegar mais complexo. É um trabalho que traz desde elementos da periferia carioca ou mesmo da linguagem da cidade e pega muita coisa dos 80’s (como o próprio Black Future). Tem diversas referências, mas não traz um gênero específico, vem lotado de críticas e ironias em doses equilibradas. Em “Síndrome”, Tantão canta: “síndrome, estou como você”, fazendo uma alusão a Síndrome de Estocolmo, e prossegue: “a brutalidade do estado’”, criticando a repreensão do Estado e seus mecanismos.

Claro que o ouvinte não terá facilidades nesse caminho, e apesar desse ser um disco com menos de meia hora e ter apenas sete faixas, “Drama’ acaba criando um clima épico, repleto de detalhes e que vai encaixando as ideias, tanto nas camadas instrumentais como nas letras espertas (apesar de algumas não terem mais do que dez palavras). Isso fez lembrar de Titãs em sua fase áurea onde canções como “O Pulso” faziam todo sentido e até hoje continuam atuais.

Tantão, irreverente e furioso, canta com vontade a plenos pulmões ou, por vezes, em tom ébrio. E é aqui que tudo ganha uma energia que lembra os primórdios do punk. Apesar disso, o instrumental segue uma linha mais eletrônica e experimental, em certos momentos até soa como algo industrial. As referências que passam pela nossa cabeça são as mais variadas: Kraftwerk, Afrika Bambataa, Prodigy, Titãs (já citados aqui).

“Adoração de Ídolos” parece uma fusão de Front 242, Art Of Noise e Fatboy Slim. Tudo bem aglutinado e fugindo de ser mais uma plastificada, pronta e preguiçosa cópia do mundo da música. “Nação Pic Pic” tem um andamento letárgico que faz voltar lá para os anos 90, nos tempos do trip-hop, com uma letra que traz crítica a morte de negros, índios e homossexuais tendo como fundo uma base eletrônica hipnotizante.

Passando múltiplos sentimentos para o ouvinte, “Drama” tem seus momentos de melancolia, alegria, protesto, desabafo, ludismo e verdades (sobretudo para o momento delicado pelo qual o país vem passando). Novamente revela que sabemos fazer música, que existe vida inteligente na música do Brasil, é um tapa bem leve na cara de quem costuma reclamar sobre tudo hoje em dia não ter valor e ser reciclado demais.

:: NOTA: 8,5
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NOTA DOS REDATORES:
Eduardo Juliano:
Isaac Lima:
Luciano Ferreira:

MÉDIA: 8,5

:: LEIA TAMBÉM DE EDUARDO SALVALAIO: BEIRUT – GALLIPOLLI (2018)

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::FAIXAS:
01. Drama
02. Vai Não Volta
03. Música do Futuro
04. Síndrome
05. O Sinistro
06. Adoração de Ídolos
07. Nação Pic Pic

 

 

 

 

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:: Mais Informações: Bandcamp | Facebook

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:: Ouça o álbum na íntegra:

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