Punk Rock com música de 10 minutos? Em 1981, auge do hardcore, isso definitivamente era incomum (bom, ainda é). E essa não era a única excentricidade dos Wipers, a sensacional e pouco conhecida banda de Portland liderada pelo vocalista e guitarrista Greg Sage.
Avesso a turnês e entrevistas, Sage gostava mesmo era das técnicas de estúdio e rechaçava qualquer concessão comercial. Essa postura purista afastou a banda dos holofotes, e sua trajetória pelo underground só foi descoberta aos poucos por exploradores de sons obscuros, com destaque para o mais notório deles: Kurt Cobain.
O líder do Nirvana era apaixonado pelos Wipers, e sua banda gravou duas versões de músicas deles: “Return the Rat” e “D-7”. Além disso, Cobain chamou os Wipers para serem a banda de abertura da turnê de Nevermind, convite recusado educadamente por Greg, que não queria ferir sua ética independente desenvolvida ao longo de anos de carreira.
Se você nunca ouviu alguns dos 9 discos do grupo (gravados entre 1980 e 1999), sugiro que comece pelo segundo, Youth of America, que completou 40 anos em 2021.
Com seis músicas distribuídas em pouco mais de 30 minutos, o álbum é um show de riffs, solos e distorção, apresentados de forma envolvente e original. A bateria e o baixo são pulsantes e repetitivos, construindo a base para canções encharcadas de raiva e frustração, em que o pessoal e o político se misturam numa combinação certeira.
Sage oscila entre gritos, refrões pop e passagens quase faladas (numa voz cavernosa) numa mesma música. O destaque absoluto é a épica canção título de mais de 10 minutos. Ela já começa assim: “Juventude da América, está vivendo na selva/Lutando por sobrevivência sem um lugar certo pra ir”; e continua: “Os ricos ficando mais ricos e os pobres ficando mais pobres/Agora não há outro lugar pra ir/Temos que sair dessa podridão”.
Outro petardo é o registro de encerramento do disco, “When It´s Over”, que abre à la Neil Young com um solo de guitarra sujo e dramático de mais de 3 minutos que nos prepara para mais um conteúdo lírico direto, raivoso e apocalíptico: “Na terra dos sonhos, me mantenho sóbrio/Refletindo sobre quando tudo vai acabar”.
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Atemporal e essencial, a obra dos Wipers, especialmente seus três primeiros álbuns, merece ser descoberta e reverenciada. Greg Sage ainda merece ser lembrado por outros papéis por ele desempenhados na cena underground americana: fundador de um selo próprio em 1979 (Trap) para divulgar bandas Punk de Portland; e produtor do disco de estreia do Beat Happening, banda liderada pelo lendário Calvin Johnson.
INFORMAÇÕES:
LANÇAMENTO: 11/11/1981
GRAVADORA: Park Avenue
FAIXAS: 06
TEMPO: 30:40 minutos
PRODUTOR: Greg Sage
CURIOSIDADES: A ideia original de Greg era nunca fazer turnês ou entrevistas, ser misterioso e deixar que os ouvintes tivessem suas próprias ideias | A ideia do nome veio de quando Greg trabalhava em um cinema que tinha um longo corredor de vidro que ele tinha que limpar
DESTAQUES: “Taking Too Long”, “When It´s Over” e “Youth of America”
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